PÁSCOA
A festa da Páscoa, que
provém já da tradição judaica, associando a passagem do Egito para a Terra
Prometida a uma festa anterior, em que as tribos nómadas imolavam as primícias
dos seus rebanhos, centra-nos, na tradição cristã, no mistério central da
salvação oferecida por Deus aos homens, mediante a morte e ressurreição de
Jesus Cristo. A palavra Páscoa, que provém do hebraico pesach e nos chega através do latim pascûa, significa precisamente passagem. Na tradição cristã, a
passagem da morte à vida, mediante a ressurreição de Cristo, vivida por ocasião
da Páscoa hebraica, constitui o centro do mistério da nossa fé e da celebração
dos cristãos.
Mas
a Páscoa, como muitas outras celebrações cristãs, foi-se esbatendo nas
sociedades hodiernas, fruto de uma passagem da vivência cristã sociológica – de
cristandade – para uma vivência mais personalizada, de maior consciência da
vida cristã e de opção celebrativa mais esclarecida. Sabendo que nos meios mais
pequenos – as aldeias e algumas vilas – persistem ainda traços dos dois tipos
de vivência. Contudo, fruto de um aprofundamento que ainda falta fazer, o
número dos que celebram integralmente o tríduo pascal é ainda diminuto;
sobrevalorizando-se na celebração pascal o que esta compreende de mais
tradicional e exterior – a visita pascal ou outras formas exteriores de
celebração da Páscoa. Muitos há, ainda, entre batizados, que aproveitam esta
quadra como uma pausa para o descanso e o lazer – legítimos – eventualmente sem
qualquer celebração do maior acontecimento da vida cristã. A Páscoa necessita,
assim, de ser revalorizada no contexto da celebração das comunidades cristãs,
evidenciando-se a sua centralidade no quadro celebrativo do ano litúrgico.
A
Páscoa, cujo significado já expusemos, é efetivamente o ápice do ano litúrgico,
porque celebra a Morte e Ressurreição do Senhor, «quando Cristo realizou a obra
da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo Seu mistério pascal;
quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida» (NALC
18). Esta é a novidade permanente que celebramos e testemunhamos, causa da
nossa alegria e da nossa esperança. Porque na Páscoa de Cristo celebramos a
vida que nos foi dada em plenitude. Assim, diante dos dramas da existência
humana, particularmente da doença e da morte, sabemos que a última palavra é a
da ressurreição, de que participamos em Jesus Cristo. Vida que nos foi dada
mediante a graça batismal, que nos uniu a Ele de forma tão íntima, ao ponto de
nos fazer participar da Sua condição.
Nestes dias, as comunidades cristãs são convidadas a redescobrir a
centralidade da Páscoa e a revalorizar a sua celebração.
Mas,
essencialmente, compreendendo o sentido profundo do acontecimento pascal, somos
todos convidados a acolher a vida plena que amorosamente Deus nos concede no
Seu Filho Jesus Cristo. Ele é a nossa verdadeira esperança.
Esta
será a permanente novidade que não devemos guardar para nós, seja nas nossas
convicções ou atos celebrativos, mas que devemos proclamar com júbilo a todos:
Cristo Ressuscitou e nós ressuscitámos com Ele! Proclamá-lo sem atitudes
proselitistas, mas como proposta alegre que dá sentido a toda a vida humana.
Esta é a permanente novidade que devemos anunciar a todos, porque não é
exclusiva de ninguém, sabendo que na cruz de Cristo todos nós fomos igualmente
amados e pela Sua ressurreição igualmente transfigurados.
Nestes dias, quando muitos dizem não sentir alegria para celebrar a
Páscoa, porque lhes falta a saúde, porque perderam alguém, porque têm
dificuldades pessoais ou familiares de natureza diversa, urge tornar mais firme
este grito de júbilo, ajudando a que cada situação de sombra ou de dor se abra
à luz e á alegria pascal.
Na
certeza do amor de Deus, que em Jesus Cristo se ofereceu por nós, quero desejar
a todos uma Santa e Feliz Páscoa.
Pampilhosa, 29 de Março de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(81ª Reflexão)