sábado, 4 de agosto de 2018


PÁSCOA

   A festa da Páscoa, que provém já da tradição judaica, associando a passagem do Egito para a Terra Prometida a uma festa anterior, em que as tribos nómadas imolavam as primícias dos seus rebanhos, centra-nos, na tradição cristã, no mistério central da salvação oferecida por Deus aos homens, mediante a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A palavra Páscoa, que provém do hebraico pesach e nos chega através do latim pascûa, significa precisamente passagem. Na tradição cristã, a passagem da morte à vida, mediante a ressurreição de Cristo, vivida por ocasião da Páscoa hebraica, constitui o centro do mistério da nossa fé e da celebração dos cristãos.

   Mas a Páscoa, como muitas outras celebrações cristãs, foi-se esbatendo nas sociedades hodiernas, fruto de uma passagem da vivência cristã sociológica – de cristandade – para uma vivência mais personalizada, de maior consciência da vida cristã e de opção celebrativa mais esclarecida. Sabendo que nos meios mais pequenos – as aldeias e algumas vilas – persistem ainda traços dos dois tipos de vivência. Contudo, fruto de um aprofundamento que ainda falta fazer, o número dos que celebram integralmente o tríduo pascal é ainda diminuto; sobrevalorizando-se na celebração pascal o que esta compreende de mais tradicional e exterior – a visita pascal ou outras formas exteriores de celebração da Páscoa. Muitos há, ainda, entre batizados, que aproveitam esta quadra como uma pausa para o descanso e o lazer – legítimos – eventualmente sem qualquer celebração do maior acontecimento da vida cristã. A Páscoa necessita, assim, de ser revalorizada no contexto da celebração das comunidades cristãs, evidenciando-se a sua centralidade no quadro celebrativo do ano litúrgico.

   A Páscoa, cujo significado já expusemos, é efetivamente o ápice do ano litúrgico, porque celebra a Morte e Ressurreição do Senhor, «quando Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo Seu mistério pascal; quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida» (NALC 18). Esta é a novidade permanente que celebramos e testemunhamos, causa da nossa alegria e da nossa esperança. Porque na Páscoa de Cristo celebramos a vida que nos foi dada em plenitude. Assim, diante dos dramas da existência humana, particularmente da doença e da morte, sabemos que a última palavra é a da ressurreição, de que participamos em Jesus Cristo. Vida que nos foi dada mediante a graça batismal, que nos uniu a Ele de forma tão íntima, ao ponto de nos fazer participar da Sua condição.

   Nestes dias, as comunidades cristãs são convidadas a redescobrir a centralidade da Páscoa e a revalorizar a sua celebração.

   Mas, essencialmente, compreendendo o sentido profundo do acontecimento pascal, somos todos convidados a acolher a vida plena que amorosamente Deus nos concede no Seu Filho Jesus Cristo. Ele é a nossa verdadeira esperança.

   Esta será a permanente novidade que não devemos guardar para nós, seja nas nossas convicções ou atos celebrativos, mas que devemos proclamar com júbilo a todos: Cristo Ressuscitou e nós ressuscitámos com Ele! Proclamá-lo sem atitudes proselitistas, mas como proposta alegre que dá sentido a toda a vida humana. Esta é a permanente novidade que devemos anunciar a todos, porque não é exclusiva de ninguém, sabendo que na cruz de Cristo todos nós fomos igualmente amados e pela Sua ressurreição igualmente transfigurados.

   Nestes dias, quando muitos dizem não sentir alegria para celebrar a Páscoa, porque lhes falta a saúde, porque perderam alguém, porque têm dificuldades pessoais ou familiares de natureza diversa, urge tornar mais firme este grito de júbilo, ajudando a que cada situação de sombra ou de dor se abra à luz e á alegria pascal.

   Na certeza do amor de Deus, que em Jesus Cristo se ofereceu por nós, quero desejar a todos uma Santa e Feliz Páscoa.


Pampilhosa, 29 de Março de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(81ª Reflexão)