sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Um novo estilo de organização: renovar ou reformar!

Deixo aqui este texto interessantíssimo, do Sr. D. António Marcelino, que me parece ser um bom ponto de partida para uma reflexão séria!


Numa palavra de ordem à Igreja em Portugal, o Papa assinalou a necessidade de mudar o estilo de organização da comunidade eclesial e a mentalidade dos seus membros. Só assim, acrescenta, a Igreja poderá caminhar ao ritmo do Concílio Vaticano II.
Esta recomendação vem muito a propósito e com marcas de urgência. Teremos de nos interrogar se este objectivo se procura por reformas ou por um processo de renovação.
É um facto que a Igreja, em alguns campos e aspectos, não se desprendeu ainda de formas e de estruturas que hoje mais dificultam a circulação da vida, que a favorecem. As estruturas são um serviço à vida das pessoas e das comunidades. Por isso mesmo, são, por sua natureza, avaliadas periodicamente e substituídas ou renovadas, quando deixam de servir os objectivos desejados.
A Igreja está, em nome do Deus em que acredita e da Mensagem que lhe foi confiada, ao serviço das pessoas, construindo comunidades, animadas pela graça de os seus membros se sentirem uma família nova de filhos e de irmãos. Quando a vida das pessoas muda ou as mudanças sociais dão origem a novas culturas, nas quais se alteram valores, critérios e modelos de vida, logo tem de surgir a interrogação sobre os novos caminhos a abrir e percorrer para melhor se poder servir. De outro modo, a Igreja fica fora do tempo e começa a funcionar e a gastar as suas melhores energias em função de si própria e não daqueles aos quais é enviada. Fica assim em causa a sua condição de servidora do Evangelho de Cristo, uma Boa Nova nunca esgotada, nem envelhecida, e sempre necessária, para que as pessoas vivam e comuniquem segundo a dignidade que lhes é própria e, pelas relações mútuas, exerçam o seu protagonismo de construtores responsáveis de uma sociedade humanizada e fraterna.
Séculos houve em que, no aspecto religioso, o campo invadiu a cidade e aí assentou arraiais com formas de vida e de acção eminentemente rurais. As paróquias são estruturas rurais na sua origem e medievais na sua óptica e concepção.
Numa sociedade estática, na qual a cidade não era senão um campo alargado onde vivia maior número de gente rural, a estrutura territorial ajudava a coesão por via da delimitação de fronteiras e da concretização de tarefas religiosas. Os leigos em geral não eram mais que membros passivos da Igreja que dela recebiam a Palavra e os Sacramentos. A eles mais não se pedia que a ajuda material.
De depressa, por motivos ridículos, se foram gerando bairrismos e conflitos. Muitos destes ainda perduram sensíveis a formas novas que se pretendam implementar.
Pela explosão das ordens religiosas, ao tempo com clero mais abundante e preparado, foram surgindo no tecido religioso alguns quistos, que não favoreceram e ainda hoje nem sempre favorecem a renovação desejada.
O mundo das pessoas mudou nas suas expressões, objectivos e relacionamentos e as fronteiras territoriais amoleceram, no sentido da coesão e até da expressão comunitária. O urbanismo, como pensamento e expressão de vida, invadiu o que restava de mundo rural. A mobilidade cresceu pelas mais diversas razões e é hoje expressão normal da vida de muita gente. Democratizaram-se a vida pública e os regimes políticos, a escola e as relações pessoais, alteraram-se os valores tradicionais e multiplicaram-se as fontes de informação, com manifesta influência nos ideais de vida e nos comportamentos pessoais e colectivos. De repente, tudo mudou. Porém, algumas estruturas eclesiásticas, nomeadamente as paróquias, mas não só, perduram neste século XXI, embora com algumas reformas, com o colorido de formas estruturais de séculos longínquos. A palavra de ordem passou, por isso mesmo, a ser outra: Tempos novos, novas formas de acção pastoral e de expressão apostólica.
Esta reflexão, que vai continuar, pretende ser uma ajuda operativa ao apelo do Papa.

D. António Marcelino, in Dossier da Agência Ecclesia

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Pampilhosa: «Crescer Juntos»

Na sequência de algumas conversas e de algumas acções, que fui tendo nestes dias, recordava aquele princípio básico da nossa experiência, recolhido no adágio popular «ninguém é feliz sozinho», e sentia como é necessário encontrarmos formas próximas de comunicação. A primeira, indiscutivelmente, passa pela relação mais íntima, no diálogo pessoa a pessoa, de que o nosso mundo de hoje tanto carece. E este mundo é, também, cada um de nós, em circunstâncias tão variadas da nossa própria vida. Necessitamos uns dos outros para nos confrontarmos, para nos aconselharmos, para nos descobrirmos, para manifestarmos as nossas ideias e sentimentos… Em suma, para crescermos!
Desde logo, a psicologia diz-nos que o que somos se forma nesta interacção; ou ainda, que são os outros a revelar-nos uma boa parte de nós. Isto é, necessitamos do outro para nos descobrirmos na nossa identidade mais profunda e crescermos como pessoas.
Poder partilhar as nossas vidas é, então, não apenas uma graça, mas também uma necessidade! Efectivamente, «ninguém é feliz sozinho»!
Os campos primeiros de acolhimento e de expressão do que somos encontramo-los na família, no grupo de amigos, nesta ou naquela instituição de que somos pertença. É aí que formamos a nossa identidade e nos expressamos na pura verdade daquilo que somos e vivemos.
Partindo do que referi, e ao olhar, agora, para a nossa comunidade cristã, sinto igualmente que ela tem de ser essencialmente um espaço de crescimento conjunto. Não apenas um lugar de rituais, de aprendizagem dos conteúdos da fé, ou de referência como lugar de uma certa pertença territorial. A Comunidade Cristã tem de ser um espaço de acolhimento de cada um, de partilha, de escuta, de confronto sadio, de expressão autêntica da identidade pessoal. Tendo por base um ideal comum – o projecto de vida definido por Jesus Cristo – a comunidade tem de ser o lugar da minha identidade e da minha expressão. Isto é, o espaço em que partilho o que sou e acolho o que os outros são!
Nesta perspectiva, importa que cada um de nós se abra à partilha com os demais; mas importa, igualmente, que cada um seja capaz de acolher a diferença e a complementaridade. Na Comunidade cada um é dom para o outro e cresce na medida em que acolhe esse outro como dom! Só assim, libertos de egocentrismos e abertos à alteridade, podemos crescer em conjunto.
Acabado de chegar à Pampilhosa, também eu gostaria de ser contributo neste crescimento conjunto; dando-me e recebendo o muito que cada um traz à minha presença. É aqui – creio – que aprendo, em dinâmica constante, a ser padre. Porque também eu não estou «feito», estou em pleno crescimento! A vida é sempre uma aprendizagem contínua e é-o, essencialmente, por aquilo que cada um nos traz de si como verdadeiro dom!
Também eu quero crescer convosco e, se possível, dar-vos algo de mim, que nos permita dizer sempre, momento a momento: crescemos em conjunto!
Pe. Carlos Alberto Godinho
Editorial do Jornal Voz da Paróquia


terça-feira, 27 de novembro de 2007

Em memória...

Hoje escrevo porém para a Saudade
- Nome que diz permanência do perdido.

Sofia de Mello Breyner Andresen
Hoje cito Sofia recordando aquele amigo, aquele colega, aquele «irmão» - o Álvaro Alfeu - que tão cedo partiu!
Tanto queria ser padre; tanto gostava de cantar os louvores de Deus (foi ele quem me entusiasmou a dedicar-me ao canto litúrgico); tanto amou os outros, ao ponto de partilhar aquilo que lhe era necessário (não esqueço, Álvaro, os ciganos que assististe com os teus cobertores, naquela noite de massacre, na Figueira da Foz!); tanto queria dedicar-se ao serviço das comunidades... E tão cedo partiu! Com apenas dezoito anos, vítima daquela leucemia que o não poupou.
Não esqueço os teus projectos de continuarmos os estudos no ano seguinte quando, na cama do hospital, só pensavas em recuperar-te e nós sabiamos que daí a pouco já não estarias entre nós!... Quão dificil foi viver esse momento derradeiro da tua presença, da tua esperança, da tua alegria, ainda que macerada pela dor que te atormentava. Não esqueço a alegria com que exibias o terço recentemente oferecido pelo Bispo da Diocese quando te visitou no Hospital, acabado de oferecer pelo Papa na sua recente visita.
Não esqueço - como adivinhavas tu? - a tua expressão contínua: «vou morrer!», sem que nada nos pudesse levar a supor isso! Mas também não esqueço o que nos dizias (e celebrámos no dia das tuas exéquias!): «quando morrer cantem; cantem o Te Deum». E eu nunca pensei que tão depressa o iriamos cantar!
O Te Deum! Dando graças a Deus por aquilo que foste, para cada um de nós!
Não esqueço as lágrimas incontroladas daquele padre que tanto te estimava, o nosso director espiritual. Não esqueço a tua «vaidade», no modo como te arranjavas antes de sair para um acto público qualquer.... Não esqueço as tuas lágrimas quando, no teu quarto, partilhavas comigo o teu drama familiar... Tanta coisa que não esqueço! Não esqueço a tua amizade; nem te esqueço a ti, mesmo quando passaram já vinte e cinco anos sobre a tua partida! Sim, nesse dia 27 de Novembro de 1982.
Nunca esquecerei o céu cheio de nuvens, por onde brilhavam alguns raios de sol, dizendo-nos, naquele fim de tarde, quando regressávamos a casa, após a tua descida à terra, que mesmo para além das nuvens o sol continua a brilhar. E hoje, como ontem, fica a mesma vontade: Álvaro até à eternidade!

Diálogo Necessário!

Comecei hoje, entre outras leituras, a ler o Livro Religiões do Mundo, de Hans Küng. Dizia ele a concluir o prefácio deste Livro:
Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões.
Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões.
Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais.
O nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro.
Talvez o autor não diga nada de particularmente novo e o mérito maior seja o de arrumar bem as ideias. Contudo, é necessário que alguém nos chame a atenção para esta realidade, de forma renovada. Até porque o diálogo pressupõe a aceitação do outro. E dificilmente se aceita a diferença, particularmente quando a não conhecemos. Há um diálogo civilizacional que importa revalorizar persistentemente.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mudança necessária!

"Mudar de estilo e de mentalidades não é o mesmo que mudar a cor das vestes litúrgicas ou afinar os cânticos das missas - é mudar tudo.
"Os cristãos portugueses estão mal preparados, vivem agarrados a uma religiosidade popular mal fundamentada e isso faz com que entre o fim da infância e o início da idade adulta boa parte das ovelhas se pisgue do redil. Em Portugal baptiza-se quase tudo à nascença, aos sete anos faz-se a primeira comunhão e aos 15 despacha-se o crisma - como se fosse possível aos sete alguém compreender a profundidade da eucaristia e aos 15 estar em condições de afirmar a maturidade da sua fé. Esta juvenília religiosa é boa para se chegar aos noventa e tal por cento de católicos em Portugal, mas leva a que aos 15 esteja feita a licenciatura cristã e que aos 18 já só haja jovens no coro. Isto sim vale a pena debater e falar muito a sério. Vamos continuar a falar em paninhos de rendas, latim e incensos ou vamos tentar ser sérios e mudar onde as coisas precisam realmente mudar?Será que há essa vontade?"
Publicado no blog Padres Inquietos
A isto eu chamo falar directo e chamar as questões pelo nome! Daqui se depreende a necessidade urgente (melhor: absoluta!) de uma verdadeira Catequese de Adultos.
A experiência a iniciar na paróquia de Pampilhosa, com catequistas próprios, espero que seja um primeiro passo. Mesmo que seja modesto será um primeiro passo.
É urgente formar catequistas que ajudem adultos a crescer na fé e a assumir com garra esta acção da Igreja, tal como se assume a Catequese de Infãncia e Adolescência!
Este é, indiscutivelmente, o caminho!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Para Ser Grande!

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

Este pensamento foi retirado do belíssimo Romance, de José Rodrigues dos Santos, O Codex 632, que acabo de ler. Se ele serve, efectivamente, o pensamento do autor, pode servir-nos de desafio em todas as circunstâncias da vida. Mas, de entre todas - como o autor deixa entrever -, na busca permanente da verdade e da autenticidade. Deixo aqui este pensamento de Fernando Pessoa como homenagem ao autor e como desafio pessoal. Valeu!

domingo, 11 de novembro de 2007

É preciso mudar o estilo de organização e a mentalidade dos membros da Igreja Portuguesa!
Pediu Bento XVI aos bispos portugueses.

“É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja” – pediu esta manhã (10 de Novembro) Bento XVI aos bispos portugueses.
Neste encontro integrado na visita «Ad Limina» que os prelados estão a realizar até 12 de Novembro, o Papa também apontou caminhos novos para a Igreja Portuguesa: “eclesiologia da comunhão na senda do Concílio, à qual a Igreja portuguesa se sente particularmente interpelada na sequência do Grande Jubileu é a rota certa a seguir, sem perder de vista eventuais escolhos tais como o horizontalismo na sua fonte, a democratização na atribuição dos ministérios sacramentais, a equiparação entre a Ordem conferida e serviços emergentes, a discussão sobre qual dos membros da comunidade seja o primeiro”.
Depois de analisados os relatórios das dioceses portuguesas e verificar “a maré crescente de cristãos não praticantes”, Bento XVI alertou os pastores portugueses para que estudassem “a eficácia dos percursos de iniciação actuais, para que o cristão seja ajudado, pela acção educativa das nossas comunidades, a maturar cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo”.
Dois desafios têm sido afirmados, ao longo do dia de hoje: reorganizar o serviço Eclesial e assumir um novo impulso na Inicação dos Adultos. Um desafio bem real para a Igreja Portuguesa e, consequentemente, para cada uma das nossas Comunidades. Tarefa a assumir em verdadeira «corresponsabilidade», como bem afirma, ainda, o Papa.

sábado, 3 de novembro de 2007

A Misericórdia Divina!

"A Igreja proclama a verdade da misericórdia de Deus, revelada em Cristo crucificado e ressuscitado, e proclama-a de várias maneiras. Procura também praticar a misericórdia para com os homens por meio dos homens, como condição indispensável da sua solicitude por um mundo melhor e «mais humano», hoje e amanhã.
Mas, além disso, em nenhum momento e em nenhum período da história, especialmente numa época tão crítica como a nossa, pode esquecer a oração que é um grito de súplica à misericórdia de Deus, perante as múltiplas formas do mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam. Tal é o direito e o dever da Igreja, em Cristo Jesus: direito e dever para com Deus e para com os homens."

João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia, nº 15


Aqui está um belo e profundo desafio para cada um de nós cristãos! Um desafio que tem de se renovar em cada dia!

Unidades Pastorais!

Vai demorar vários anos, muito provavelmente décadas, mas é uma reforma que a Igreja já iniciou e que, embora sem pressas, quer concretizar. Trata-se da criação de Unidades Pastorais, congregando três, quatro ou cinco paróquias, por norma tuteladas pelo mesmo pároco.

Esta reforma deve-se à cada vez maior escassez de sacerdotes e também a uma perspectiva mais “moderna e actual” no que diz respeito à prestação de serviços pela Igreja.“Isto não se faz por decreto, como as reformas que nós conhecemos. As unidades pastorais vão sendo constituídas à medida que forem criadas condições para isso”, disse ao CM D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), sublinhando que “o ideal é que essa constituição parta das próprias comunidades”.A ideia da Igreja não é, pelo menos numa primeira fase, acabar com as paróquias, mas integrá-las numa unidade em que todos os serviços, desde as celebrações à catequese, obedeçam a uma só coordenação.“Na maior parte dos casos não poderemos deixar de ter os centros paroquiais em cada terra para a realização de reuniões ou para as aulas de catequese, já que a Igreja não tem possibilidades de assegurar os transportes das crianças, mas, onde for possível concentrar, entendemos que é a melhor solução”, afirmou D. Carlos Azevedo.Em termos práticos, as actuais 4300 paróquias devem, a longo prazo, dar lugar a cerca de 1100 unidades paroquiais, a maioria delas formada por quatro paróquias.Algumas já foram constituídas, pelo menos no papel, nas dioceses de Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra e Braga, devendo avançar também nas restantes 15 dioceses do País.“É um processo que está em andamento e que está a decorrer consoante o que planeámos”, disse ao CM D. Jorge Ortiga, o presidente da CEP. Rejeitando a ideia de que possa haver contestações, o prelado explicou que “elas só serão criadas onde as comunidades quiserem”.
Retirado do Jornal Correio da Manhã
É inevitável que assim seja. Parece-me é que o esforço que vamos fazendo neste sentido é ainda diminuto. Sofremos de grande inércia. Basta recordar que há dez anos já nós - então padres do Arciprestado de Cantanhede - entregámos documento com propostas bem concretas. À distância destes anos, todavia, permanecemos na mesma, nesta Diocese de Coimbra. Há a necessidade de um esforço e compromisso muito maior!