GESTÃO
TURÍSTICA E IDENTIDADE!
Estamos no verão! Período do ano em
que a maioria das pessoas aproveita para viver alguns dias de férias,
retemperando as forças após um ano de trabalho. Mas o verão, para nós,
portugueses, tem significado também um maior afluxo de turistas estrangeiros,
que nos visitam, aproveitando as qualidades naturais e culturais do nosso país,
para usufruírem do mesmo descanso e de algumas atividades lúdicas que Portugal
lhes possa proporcionar.
Certo é que, apesar de o verão ser o período
de turismo por excelência, o fenómeno turístico, particularmente de incoming (entrada de turistas
estrangeiros em Portugal), já não se resume apenas a esta estação. Com fluxos
diferentes, a entrada de turistas regista-se ao longo de todo o ano. O que é
uma enorme vantagem económica, pois Portugal tem beneficiado profundamente
desta atividade, fazendo com que o país se afirme cada vez mais como destino
turístico.
Todavia, há que salvaguardar alguns
princípios fundamentais na gestão turística, para que esta atividade não se
sobreponha a outras, conduzindo a situações de instabilidade e
insustentabilidade. Como o boom
turístico tem sido muito grande, nos últimos anos, há cada vez mais
particulares, a par das grandes empresas do setor, a procurar beneficiar das
vantagens económicas desta atividade. O que, em parte é legitimo, mas
acarretando vários perigos.
Todos sabemos que os fluxos do mercado – e o
turismo, em boa parte, insere-se também aí – se definem por oscilações,
variando entre movimentos em alta e em baixa, e não na permanência de uma linha
contínua ou sempre em crescendo. Essa é a opinião unânime dos especialistas em
economia e comprovável pela história. Portugal beneficia, de momento, ao nível
do turismo, de vários fatores: das suas qualidades internas, que é fundamental
promover; mas também de múltiplos condicionantes externos, que conduzem à opção
por este destino turístico. Daí a necessidade de pensarmos o presente, mas
também com o olhar no futuro. Ora, o preocupante é vermos muita gente a querer
esgotar o presente sem essa perspetiva de futuro, na gestão da atividade
turística, com prejuízo para a identidade das comunidades e com a possibilidade
de comprometer o futuro próximo. Há dias ouvia a notícia de que vários
proprietários de imóveis nos bairros típicos de Lisboa estão a notificar os
seus inquilinos para que abandonem estes espaços, sob pretexto de quererem
efetuar obras de fundo nestes imóveis. Sabendo que a lei permite ações de despejo
com base neste pressuposto, a verdade é que muitos destes proprietários estão a
reconverter os seus imóveis para alojamento familiar, destinando-os
precisamente à atividade turística. E aqui está a perversão de um sistema,
gerando instabilidade – particularmente para quem é morador – e futura
insustentabilidade – pois é possível que não tenhamos, no futuro, mais
longínquo, tantos turistas na cidade como presentemente. Conclusão: retiramos
dos bairros os habitantes que lhes dão o seu verdadeiro rosto, com uma cultura
típica, que tende a apagar-se, perdendo-se o que é genuíno e atrativo nestes
bairros; indiferenciamos os espaços, o que lhes rouba o seu interesse; e
futuramente podemos não ter turistas a ocupar estes imóveis; o que conduzirá,
inevitavelmente, à perda de identidade e à desertificação destes espaços
históricos. Ainda que sabendo que a venda de imóveis a estrangeiros, em Lisboa,
seja atrativa, mas conscientes de que estes são, para eles, apenas uma segunda
residência. O que, na prática, não inverte a tendência de desertificação, já
tão acentuada pela falta de condições de habitabilidade nos centros históricos;
essa, sim, uma situação a reverter.
O que acontece em Lisboa, acontece
igualmente no Porto, nalguns espaços típicos da cidade, a serem igualmente
reconvertidos quase exclusivamente para a atividade turística. Mas, fundamentalmente
devemos atender a perigos semelhantes que possam alargar-se a outros âmbitos de
ação comunitária, seja ela económica, social ou cultural, sempre que depreciamos
ou abdicamos dos nossos valores e da nossa cultura, para dar lugar ao que nos é
estranho! Quando assim é, perdemos a nossa identidade e nosso interesse! É que
muitos dos estrangeiros procuram-nos devido ao sol, à beleza das nossas
paisagens, à nossa gastronomia… mas também devido à nossa alma, presente nos nossos elementos identitários! Se os perdermos,
estaremos a comprometer-nos na nossa identidade, mas também na oferta turística
que fazemos a quem nos visita.
Pampilhosa, 13 de Julho de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(53ª Reflexão)