sexta-feira, 24 de junho de 2016

Humildade


HUMILDADE 

   Uma das características que mais enobrece a vida humana é a qualidade da humildade. É certo que a palavra humildade, que provém do latim humilitate, significa coisas tão distintas como a qualidade do que é humilde, modéstia, submissão ou inferioridade. Daí que tendamos a confundir, não raro, humildade com humilhação, enquanto desvalorização de algo ou de alguém.

   A verdade é que a humildade é a qualidade de quem age com simplicidade, verdade e respeito. Ser humilde é ser simples e genuíno.

   A humildade não é nem retraimento de si, nem desconsideração dos outros. Pelo contrário: a humildade, enquanto qualidade positiva e benéfica, permite-nos, a título pessoal, avaliar, com verdade, as nossas capacidades – com suas potencialidades e limites – e tornar-nos decididos na luta pela realização de objetivos pessoais. E, na relação com os demais, leva-nos a compreender que ninguém é melhor ou pior do que os outros, mas que todos devem ser igualmente reconhecidos na sua dignidade, com autêntica cordialidade, honestidade e respeito.

   Vem esta minha reflexão a propósito do Europeu de Futebol, que estamos a viver. Não porque alguém tenha desrespeitado os seus adversários; mas porque tendemos a querer celebrar por antecipação o que ainda não foi alcançado no seu espaço próprio – o estádio! Bem sabemos que o desporto compreende estas atitudes, de disputa entre «adversários», ainda por antecipação. Mas também aqui, como em tudo na vida, devemos ser mais simples e humildes. É que só assim, sem perder a garra e o entusiasmo, que nos levam a apoiarmo-nos numa causa comum, seremos capazes de nos incentivar a crescer nos nossos objetivos, mas sem desconsiderar aqueles que connosco se confrontam.

   Neste sentido, a humildade, numa perspetiva construtiva, compreende algumas atitudes que me parecem fundamentais: a tomada de consciência de nós mesmos, com simplicidade, e a definição clara de objetivos pessoais ou de grupo; o esforço sério, o trabalho, e a exigência para que estes sejam alcançados; o respeito pelos outros, nomeadamente pelos companheiros e adversários, sem nunca descurar as suas capacidades; o confronto sério, respeitoso e equilibrado, onde a excelência se alcança como resultado do nosso esforço; e, por fim, a capacidade de celebrar as vitórias pessoais ou de grupo, sem nunca humilhar quem connosco se bateu por um sucesso semelhante. E assim no desporto, como na vida!

    Certamente que muitos de nós, a outros níveis, já experimentámos exemplos singulares de humildade. Como o daquele professor catedrático, que após ter atingido o cume da excelência na sua área de ensino e investigação, passeava o seu cão no espaço do Jardim Botânico, em Coimbra, acolhendo com simplicidade alunos e professores, que com ele se cruzavam, e para com quem tinha sempre uma palavra simples e amiga. Ou ainda, um outro professor, reconhecido internacionalmente pelas suas descobertas na área da botânica, que ao chegar junto dos seus alunos, antes de iniciar as aulas, começava por os abraçar. Ou aquele padre artista, de obra plástica singular, que nunca deixou de ser o homem de postura simples e fraterna, mesmo no contexto do seu reconhecimento pessoal. Exemplos singulares que me marcaram!

   A humildade abre-nos, efetivamente, ao desenvolvimento de nós e à valorização aos outros; enquanto o orgulho, atitude antagónica da humildade, nos fecha nas nossas certezas adquiridas, limitando o nosso crescimento pessoal; e fechando-nos, igualmente, ao sincero, respeitoso e frutuoso reconhecimento dos outros. Compreendemos, assim, a máxima de Ernest Hemingway: «o segredo da sabedoria, do poder e do conhecimento é a humildade»; e ainda esta outra, de Rabindranath Tagore: «Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza»[1].

 

Pampilhosa, 23 de Junho de 2016

Pe. Carlos Alberto G. Godinho

(6ª Reflexão)



[1] Cf. http://www.citador.pt

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Amor


AMOR
 

   Ouso hoje refletir convosco sobre uma temática universal, das mais caras a cada um de nós, enquanto pessoa – o Amor! Algo de tão forte e tão banalizado! Forte, porque o amor é essencial à vida humana: nascemos por amor, existimos por amor e vivemos para amar! Sem amor a vida perderia não apenas o seu sentido, mas também o seu fundamento. Bastaria perceber como a inteligência afetiva influencia todo o nosso agir; e como sem afeto a vida se torna inviável (um dos documentários que mais impressionou, neste sentido, há anos, foi precisamente o de uma creche, na China, onde as funcionárias podiam alimentar os bebés, mas sem lhes tocarem, sabendo que eles morreriam por falta de afeto, expresso no toque).

   Mas o amor – essa plataforma da existência – tende hoje a banalizar-se ou a contradizer-se! Talvez daí encontrarmos à nossa volta tanta solidão. Já não me refiro a programas televisivos, como o «Love on Top», onde o amor se comercializa, para se tornar em produto de sucesso.

   O amor é entendido, não raro, como a satisfação de si, em vez da procura do bem do outro, numa negação da sua identidade própria, fechando o sujeito na vivência de um egocentrismo que nega a natureza própria do amor.

   Mas face à pergunta: o que é o amor?, talvez muitos se ergam afirmando que este é indefinível! Talvez! Talvez apenas possamos conceder aos poetas a aproximação ao seu conceito! Talvez! Contudo, ouso arriscar um sentido e uma lógica para o amor. E faço-o segundo um conceito cristão! Um dia, em diálogo com os seus discípulos, no momento dramático em que prepara a entrega plena da Sua vida, Jesus diz-lhes: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei» (Jo. 15, 12). Ora, segundo esta expressão, a medida do amor está na dádiva do Mestre, medida esta que só se entende no mistério da Sua cruz. Face a esta grandeza de amor, a lógica, para nós, é percetível: o amor é dádiva! Não dádiva de qualquer coisa, mas dádiva de si mesmo! Se necessário, até ao fim! De tal modo, que o bem do outro se transforma no meu próprio bem! É esta, para mim, inequivocamente a lógica clara do amor!

   Esta lógica, da entrega, é visível, depois, em múltiplas experiências humanas: na capacidade que os pais têm de abdicar de tudo por causa de seus filhos, procurando apenas o bem destes; no cuidado que uma filha presta ao seu pai ou à sua mãe idosa e acamada, por vezes já inconsciente, mas a merecer toda a atenção, carinho, e mesmo sacrifícios pessoais; naquela atitude – que tanto me impressionou, há tempos, na televisão – de um idoso que cuidava da sua esposa vítima de Alzheimer, que já não o reconhecia, mas que, mesmo assim, ele tinha dificuldade em aceitar vê-la partir, cuidando dela com todo o esmero; em cada voluntário ou voluntária, que dispondo de alguns anos da sua vida para servir quem está em maior necessidade, longe ou perto, sem nada em troca, nada mais visa senão a melhoria de condições de vida, de saúde ou de educação, daqueles a quem serve; de religiosos e religiosas que partem para os sítios mais recônditos, onde tudo falta, para levar carinho e novas possibilidades de vida humanamente mais digna, a quem a não tem!... São múltiplos os exemplos humanos de amor, cuja raiz é sempre a mesma: a dádiva de si! Essa dádiva que contribui para um autêntico bem do outro! Daí que o amor seja sempre centrifugo, partindo do coração e da ação de cada um ao encontro dos outros; e não centrípeto, buscando nos outros a satisfação pessoal ou das suas necessidades!

   O Amor é dádiva! Necessitamos, pois, de renovar o amor, deixando que ele dê sempre, de modo renovado, um sentido novo às nossas vidas pessoais e às nossas vidas em comunidade!

 

Pampilhosa, 16.06.2016

Pe. Carlos Alberto Godinho
(5ª Reflexão)

Género


GÉNERO


    Um dos sinais mais inquietantes da cultura hodierna, pelo que significa de degradação da identidade humana e da sua intersubjetividade e comunhão, é a atual questão do género. Uma séria antropologia, assente em factos e não em simples teorias, perfilha o princípio fundamental de que nos dividimos entre o masculino e o feminino; isto é, entre a riqueza de ser homem e de ser mulher. Este é um dado fundamentalíssimo da nossa identidade humana, que assenta numa conceção antropológica com bases científicas – seja na conceção física, psíquica, afetiva ou espiritual de cada ser humano. Todos nós somos homem ou mulher; e nunca uma realidade neutra; ou, menos ainda, uma realidade metamórfica que nos permita ser uma e outra coisa, de forma alternada ou permanente, como se em nós subsistisse o «Hermafrodito» - a divindade grega híbrida que, em certo sentido, representava a união entre Hermes e Afrodite.

   A teoria de género fez o seu percurso ao longo dos últimos séculos, particularmente com as lutas feministas, na procura de suplantar a dominação masculina sobre o feminino, ganhando nova cidadania a partir da década de setenta, do século passado, com os estudos de género (gender studies). Mas estes estudos deram origem, atualmente, a uma ideologia – a ideologia de género - que dificulta a compreensão do ser humano, provocando uma autêntica revolução no conceito de pessoa. A ideologia de género absolutiza o individuo e o seu desejo subjetivo, independentemente de fatores determinantes de caráter físico, psíquico, afetivo ou social. Esta ideologia, assente em quatro pilares fundamentais: a negação da diferenciação entre homem e mulher, que subsiste apenas devido a uma distinção social, e que será necessário ultrapassar; a separação entre sexualidade e reprodução; a separação entre sexo e género, o que significa que cada um pode ter uma característica sexual e optar por viver um género diferente; e a multiplicação de termos para enquadrar novas possibilidades de autodeterminação de género, rejeitando como pensamento retrógrado e anticientífico quem reafirme os princípios tradicionais; coloca-nos face a uma visão subjetivista e desestruturadora da realidade humana, conduzindo-nos a uma conceção de pessoa que nega o que há em nós de mais profundo, pois nunca se pode estabelecer a cisão entre ser físico e ser psíquico ou espiritual. O ser humano é uno, sendo estas dimensões, que se interpenetram, constitutivas da identidade própria de cada individuo. Certamente enquanto dado natural e socialmente adquirido, sempre em aprofundamento, mas em conformidade com essa mesma identidade.

   Partilhando o princípio da ideologia de género, chegaremos à negação da nossa identidade pessoal; bem como à confusão do que pretendemos ser. Por outro lado, a ideologia de género, abre espaço a uma desestruturação social, onde a autêntica inter-relação, que é alteridade, em última instância se transforma em absoluto egocentrismo, solidão existencial e isolamento.

   Criados em «igualdade, enquanto pessoas humanas» (cf. CIC. 369), homem e mulher são feitos um para o outro (cf. CIC. 372), completando-se nessa entrega.

   Atente-se, todavia, que a negação da ideologia de género não significa a inaceitação terminante, sem discernimento, de outras formas de vivência da sexualidade e da intersubjetividade, que não podemos agora analisar. Terminologias como heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade ou transsexualidade, derivam da mesma conceção básica da natureza humana, ou seja do modelo primeiro do ser homem e mulher; deixando espaço, depois, ao modo como pessoalmente isso é vivenciado.

   Aceitar a ideologia de género significaria negarmos a nossa identidade pessoal e social. Necessitamos urgentemente de nos redescobrir como pessoas, na nossa identidade mais profunda; e como pessoas em relação, o que modela toda a nossa vida em sociedade!

 

Pampilhosa, 09 de Junho de 2016

Pe. Carlos Alberto Godinho
(4ª Reflexão)

 

Educar


EDUCAR 
 

   Nos últimos tempos temos assistido a um aceso debate público a propósito dos contratos de associação entre o Estado e os Colégios Particulares. Durante algum tempo – décadas – estes colégios complementaram e enriqueceram a rede pública de educação. Mas agora a realidade começa a inverter-se! Não querendo entrar, aqui, diretamente nesta problemática da legitimidade, ou não, do financiamento público dos colégios privados com contrato de associação, julgo que devem merecer a nossa atenção algumas das razões que subjazem a esta problemática, bem como a pergunta: a quem compete educar?

   Dois fatores são determinantes para a atual situação das escolas e a pretensão de rever imediatamente os critérios de contrato de associação. Em primeiro lugar, o fator demográfico: assistimos a uma crescente baixa da natalidade que, como seria de esperar, se viria a refletir nas escolas. Obrigando, naturalmente, a rever os estabelecimentos /escolas oferta face a uma diminuição da procura. Este é um fator que tende a agravar-se, no futuro, face à baixa natalidade. Depois, a opção governamental de revisão imediata e unilateral, sem reflexão apropriada, evidencia uma questão claramente ideológica, sobrepondo o decisor – o Ministério da Educação – a alguns dos seus parceiros que detêm a missão de educar. Bem sabemos, como afirma Fernando Catroga, na referência à «batalha pela escola laica» em França, na década de oitocentos, que «contra um ensino dogmático, ultramontano e antimoderno, se impunha [nessa altura] edificar uma «educação nacional» que fosse alfobre de cidadania”[1]. Por certo, não estaremos longe, hoje, deste princípio ideológico.

   Mas educar (na sua origem etimológica “direcionar para fora”; isto é, preparar as pessoas para o mundo e para a vivência em sociedade) cabe essencialmente aos pais, na escolha dos modelos de formação que pretendem para os seus filhos. Ao contrário de algumas teorias que afirmam que a escola apenas instrui, devemos afirmar que a escola educa – na formação de conteúdos, mas também no desenvolvimento pessoal e na cidadania. Ora, a escolha dos pais é mais do que legítima. Tanto mais que, pese embora a Constituição afirme que ao Estado pertence «assegurar o ensino básico e universal», criando um «sistema público» de educação (art. 74º); a mesma Constituição refere que é «garantida a liberdade de aprender e ensinar» e que o Estado «não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas» (art. 43º). Assim, as escolas não podem deter uma orientação monolítica. Mais do que a problemática entre escola pública e privada, deve equacionar-se o modelo de escola e de educação que pretendemos atualmente, correspondendo aos anseios dos pais, quanto à formação dos seus filhos. Neste sentido, necessitamos de novos modelos, com a definição clara e diversificada de projetos educativos; a liberdade de escolha de cada projeto; e um envolvimento efetivo dos pais na definição desses mesmos projetos de formação dos seus filhos. Não cabe ao Estado educar, mas sim garantir a todos a educação! Educar é tarefa dos pais, segundo os modelos que legitimamente se enquadrem nas opções formativas que estes desejem para os seus filhos.

 
Pampilhosa, 02 de Junho de 2016

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho
(3ª Reflexão)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




[1] CATROGA, Fernando – Entre Deuses e Césares. Secularização, Laicidade e Religião Civil – Uma perspetiva histórica. Coimbra: Edições Almedina, 2006, p. 330.
 
 

Peregrinar


PEREGRINAR

      Estamos prestes a terminar o mês de Maio, ciclo de tempo marcado por múltiplas peregrinações, particularmente em direção ao Santuário de Fátima. São diversos os grupos em caminhada nesta época, particularmente nas datas mais próximas do dia 13. Mas também pessoas ou pequenos grupos, mais isolados, que calcorreiam os caminhos de Fátima, ao longo de todo o mês.

   Para além deste percurso de peregrinação, intensifica-se, neste período, prolongando-se pelos próximos meses, o número daqueles que percorrem os Caminhos de Santiago de Compostela. De resto, bem visíveis entre nós, nos trilhos definidos ou nos itinerários principais que conduzem ao norte.

   Diante deste fenómeno crescente, que se renova atualmente, surge-nos a pergunta: que significado tem peregrinar, nos tempos atuais? E que motivações conduzem à peregrinação? O sentido etimológico da palavra peregrino remete-nos para o significado de viagem e de estrangeiro. Peregrino é aquele que viaja; e, não raro, o estrangeiro em viagem. Mas peregrinar é símbolo da própria vida, cuja realização histórica se pode compreender à luz de um caminho a percorrer. Não é sem razão que muitos autores qualificam o ser humano como «homo viator» - homem viajante ou ser a caminho! Ora, como em qualquer outra peregrinação, esta – a da vida – requer três aspetos essenciais: a decisão da partida; o percurso; e a meta que se almeja. Não basta existir; é necessário ter a ousadia de partir permanentemente e dar um sentido à caminhada da vida. Assim, o percurso – definido por cada um, mas inevitavelmente permeado pelo desconhecido de tantos acontecimentos – constitui a decisão de perseguir, em cada dia, um conjunto de objetivos que dão sentido ao caminho. A meta será distinta (ou talvez não!), em conformidade com a decisão de cada um. Mas a meta será inevitavelmente o grande objetivo de todo o caminho. Num tempo de superabundância de propostas, palavras e ideias, tantas vezes transformadas em ideologias; num tempo de imposições, mesmo de credos religiosos, que se relativizam; cada um sente necessidade de procurar o seu caminho. De definir a sua peregrinação! Centrada no essencial, buscando a verdade, como sentido da vida.

   Se nos caminhos de Fátima se procura alcançar uma graça, agradecer um dom recebido, fazer experiência de comunhão ou experiência espiritual; se nos Caminhos de Santiago se busca, na quebra do ritmo ordinário da vida, uma experiência pacificadora, a procura ou encontro consigo, o repouso interior, a vivência espiritual ou cultural; a vida como peregrinação visa ousar arriscar uma vivência para além das propostas socialmente adquiridas; a capacidade de definir um sistema de valores que preencha o caminho, assentes no essencial da existência humana; no desejo de alcançar a meta, que se confunde, para todos nós, com os nossos anseios mais profundos – a plenitude, a autêntica felicidade! Que podendo ter rostos diferentes nos remete para um mesmo sentido.

   Urge, pois, peregrinar; fazer caminho… para que a vida valha a pena!

 

Pampilhosa, 26 de Maio de 2016

Pe. Carlos Alberto Godinho
(2ª Reflexão)

 

 

  

 

 

Sentido da Comunicação


SENTIDO DA COMUNICAÇÃO

 

   Comunicar é uma ação fundamental da nossa vivência humana – pessoal e social. Comunicar, que tem a sua raiz na expressão latina communicare, significando «repartir, dividir alguma coisa com alguém», tem esta imensa força da partilha – do que somos e do que vivemos!
Assim, tem, por certo, um especial significado falar de comunicação, ao iniciarmos esta colaboração com a Rádio Clube da Pampilhosa, questionando-nos sobre o sentido da nossa comunicação.
   Comunicar confunde-se, frequentemente, com uma simples expressão unilateral de ideias, de pensamentos, de sensibilidades ou de experiências! Ou, o que seria mais grave, a imposição das ideias pessoais, convicções ou sentimentos. O que significaria a sobreposição pessoal sobre os demais.
   Comunicar é uma atitude dialógica, em que o diálogo, como referia, há uns anos, um grupo de trabalho italiano, consiste na capacidade de comunicar o nosso próprio íntimo, a fim de oferecermos ao outro o melhor de nós próprios e, deste modo, prepararmos uma abertura recíproca e profunda que constrói o amor.[1] Não um simples desabafar ou conversar com o outro, mas a vontade de construir uma comunhão profunda.[2] Sabendo que a primeira regra para essa comunhão é precisamente a atitude de escuta e de sincero acolhimento.[3] Implicando verdadeira alteridade, o diálogo pressupõe ainda o respeito infinito pelo outro – pelas suas vivências, ideias, sensibilidades ou convicções.
   Ora, a rádio tem de ser um profundo espaço de diálogo. E sê-lo-á quanto mais próxima estiver dos seus ouvintes! Isto é, quando mais enraizada estiver no âmago das vivências daqueles a quem se dirige.
   Durante algum tempo pensou-se a rádio segundo as orientações e sensibilidades de quem a dirigia ou nelas produzia conteúdos, atendendo a programas credíveis, previamente estabelecidos. Hoje, particularmente com as novas formas de comunicação, a rádio necessita de ser um espaço de escuta, de conhecimento aprofundado do seu auditório, das suas preocupações e das suas aspirações. Para depois, com a sua programação, ir ao encontro dos seus anseios. A rádio tem de tornar-se, cada vez mais, um meio de diálogo – entre pessoas, grupos, sensibilidades, vivências, num esforço de comunhão que abrace a todos. Como referiu o Papa Francisco, a propósito do último Dia Mundial das Comunicações Sociais: «A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade»[4]. Fazer rádio, como meio e instrumento de encontro e de diálogo, é um desafio profundo – no presente e para o futuro!
 
Pampilhosa, 19 de Maio de 2016
Pe. Carlos Godinho
(1ª Reflexão)
  



[1] Cf. CENTRO MISSIONÁRIO PE. FOUCAULD. CUNEO – O Diálogo. Reflexões Comunitárias. Tradução de Frei Paulo Beretta. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1989, p. 20.
[2] Cf. Ibidem, p. 20
[3] Cf. Ibidem, pp. 28 – 29.
[4] Cf. PAPA FRANCISCO – Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo. Mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 8 de Maio de 2016.

Novos textos

Com a minha participação na rúbrica «10 para as 10» na Rádio RCPfm, irei publicar aqui os textos que for escrevendo para este programa. Será uma outra forma de partilhar com todos as minhas reflexões! Que são sempre pontos de vista pessoais, assentes nas minhas convicções, sensibilidade e compreensão das realidades a abordar.
Luso, 17.06.2016
Carlos Alberto G. Godinho