sexta-feira, 17 de junho de 2016

Peregrinar


PEREGRINAR

      Estamos prestes a terminar o mês de Maio, ciclo de tempo marcado por múltiplas peregrinações, particularmente em direção ao Santuário de Fátima. São diversos os grupos em caminhada nesta época, particularmente nas datas mais próximas do dia 13. Mas também pessoas ou pequenos grupos, mais isolados, que calcorreiam os caminhos de Fátima, ao longo de todo o mês.

   Para além deste percurso de peregrinação, intensifica-se, neste período, prolongando-se pelos próximos meses, o número daqueles que percorrem os Caminhos de Santiago de Compostela. De resto, bem visíveis entre nós, nos trilhos definidos ou nos itinerários principais que conduzem ao norte.

   Diante deste fenómeno crescente, que se renova atualmente, surge-nos a pergunta: que significado tem peregrinar, nos tempos atuais? E que motivações conduzem à peregrinação? O sentido etimológico da palavra peregrino remete-nos para o significado de viagem e de estrangeiro. Peregrino é aquele que viaja; e, não raro, o estrangeiro em viagem. Mas peregrinar é símbolo da própria vida, cuja realização histórica se pode compreender à luz de um caminho a percorrer. Não é sem razão que muitos autores qualificam o ser humano como «homo viator» - homem viajante ou ser a caminho! Ora, como em qualquer outra peregrinação, esta – a da vida – requer três aspetos essenciais: a decisão da partida; o percurso; e a meta que se almeja. Não basta existir; é necessário ter a ousadia de partir permanentemente e dar um sentido à caminhada da vida. Assim, o percurso – definido por cada um, mas inevitavelmente permeado pelo desconhecido de tantos acontecimentos – constitui a decisão de perseguir, em cada dia, um conjunto de objetivos que dão sentido ao caminho. A meta será distinta (ou talvez não!), em conformidade com a decisão de cada um. Mas a meta será inevitavelmente o grande objetivo de todo o caminho. Num tempo de superabundância de propostas, palavras e ideias, tantas vezes transformadas em ideologias; num tempo de imposições, mesmo de credos religiosos, que se relativizam; cada um sente necessidade de procurar o seu caminho. De definir a sua peregrinação! Centrada no essencial, buscando a verdade, como sentido da vida.

   Se nos caminhos de Fátima se procura alcançar uma graça, agradecer um dom recebido, fazer experiência de comunhão ou experiência espiritual; se nos Caminhos de Santiago se busca, na quebra do ritmo ordinário da vida, uma experiência pacificadora, a procura ou encontro consigo, o repouso interior, a vivência espiritual ou cultural; a vida como peregrinação visa ousar arriscar uma vivência para além das propostas socialmente adquiridas; a capacidade de definir um sistema de valores que preencha o caminho, assentes no essencial da existência humana; no desejo de alcançar a meta, que se confunde, para todos nós, com os nossos anseios mais profundos – a plenitude, a autêntica felicidade! Que podendo ter rostos diferentes nos remete para um mesmo sentido.

   Urge, pois, peregrinar; fazer caminho… para que a vida valha a pena!

 

Pampilhosa, 26 de Maio de 2016

Pe. Carlos Alberto Godinho
(2ª Reflexão)