sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Os desafios do Papa à Igreja Portuguesa!

Vale a pena relembrar os desafios feitos por Bento XVI aos Bispos Portugueses, aquando da visita ad sacra limina. De todo o discurso do Papa, retenho os dois elementos seguintes:

1 - «É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde que fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e que todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja.
Esta eclesiologia da comunhão no caminho aberto pelo Concílio, à qual a Igreja Portuguesa se sente particularmente interpelada na sequência do Grande Jubileu, é, meus amados Irmãos, a rota certa a seguir».

2 - «Tendo em conta o número cada vez maior de cristãos não praticantes nas vossas dioceses, talvez valha a pena verificar "a eficácia dos actuais processos de iniciação, para ajudar cada vez mais o cristão, pela acção educativa das nossas comunidades, a amadurecer cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo" (Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum Caritatis)».

In Lumen (Novembro-Dezembro de 2007)

São duas directivas bem concretas dirigidas á Igreja Portuguesa. Importa, agora, que estas palavras não passem na volatilidade do tempo e que sejam âncora para uma programação eclesial assente em objectivos bem concretos. E estes são dois desafios maiores!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Concerto de Aranjuez!

Uma realidade que em nós desperta a ânsia de plenitude, de imortalidade, de infinito, de desejo de atingir o até então inalcançado, pode ser a experiência extasiante de uma imagem, de um horizonte, de um pôr do sol, ou de uma música... Hoje continuo a sentir que uma das músicas que me faz viver este desejo de me superar, sabendo da impossibilidade de alguém sintonizar em absoluto com o que sinto, é este magnífico Concerto de Aranjuez! Da serenidade ao crescendo; da ânsia ao quase grito; à expressão mais plena do desejo de liberdade e de infinito; para depois terminar na paz e no silêncio... Aconselho vivamente a ouvir - no silêncio profundo! - este belo Concerto de Joaquín Rodrigo.
NOTA: Refiro o segundo andamento: Adágio; muito embora toda a obra seja de grande beleza e expressividade!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Para onde vai a saúde?

A afirmação feita pelo Presidente da República - «É necessário que o Governo explique aos cidadãos o que se pretende com esta política de saúde» - é de uma importância crucial, quando consideramos as políticas assumidas pelo executivo socialista. Mas, algumas respostas parecem assumir contornos de evidência, nomeadamente a de que a saúde é hoje um «buraco económico» que é preciso conter. Senão vejamos:com o fecho de um vasto conjunto de urgências, não se resolveram os problemas dos cidadãos, que, fruto desta política, se vêem como números a entopir as urgências dos Hospitais Centrais e de alguns Hospitais Distritais - começou por ser Aveiro, Cascais, Faro, a zona de Braga.... e porque ainda ninguém encontrou justificação para falar de outros, onde a espera para se ser atendido vai aumentando gradualmente. Estes Hospitais não têm capacidade de resposta. Veja-se, neste sentido, a atitude dos médicos, chefes de serviço, em Faro, que pediram em bloco a sua demissão. Mas, precisamente neste Hospital, a desfaçatez: fecharam-se alguns espaços de urgência na zona do Algarve, canalizaram-se os doentes para um Hospital central, sem capacidade de albergar as pessoas, e agora vem dizer-se que as obras de remodelação em breve darão resposta às novas necessidades. Isto não é brincar com as pessoas? Então, primeiro não se faziam as obras e depois admitiam-se as pessoas? O que é que se considera como mais importante na gestão destas políticas?
Mas, para mim, o caso mais evidente, noticiado hoje nos nossos telejornais, é aquele que nos surge em Chaves. Há um ano fechou-se a Maternidade (quanto ao hospital local deconheço o processo!) e agora abre uma Casa de Saúde Particular, com serviço de maternidade e com serviço permanente de urgências! Julgo que, pese embora ser iniciativa privada, necessita do aval do Ministério da Saúde! Senhor Ministro, talvez, por um momento, seja necessário falar claro: o encerramento de uma boa parte das urgências (ainda que algumas possam não prestar o serviço adequado!) é uma questão económica! Estamos num processo de privatização da saúde. É preciso falar claro!
Fica-me é a dupla questão: onde está a política social deste Executivo - Socialista! - que cede ao princípio de privatização dos serviços mais elementares, nos cuidados devidos aos cidadãos? Independentemente das minhas opções políticas e da minha opinião sobre o Dr. Mário Soares (que não registo aqui como negativa, nem positiva), julgo que ele tem toda a razão ao discordar desta orientação do executivo do Eng. Sócrates. E a segunda questão, para mim bem mais grave: quem poderá aceder aos serviços privados de saúde? Todos os cidadãos por igual (quando acabamos de ver que um em cada cinco portugueses corre o risco de vir a cair na pobreza)? Uma comunidade mais envelhecida, que vive dependente, na sua maioria, de reformas de miséria?Afinal, a quem serve esta política? Que sentido de justiça lhe subjaz? É hora de falar verdade e de dizer que esta «terceira via de socialismo» mais não é que uma forma disfarçada de política ao serviços dos interesses dos mais ricos, daqueles que, ao longo da história, sempre foram os mais privilegiados.
A terminar, quero referir que não me move, neste comentário, a defesa de uma ideologia, mas sim a defesa da pessoa como valor prioritário, a defesa da sua dignidade! Pois, para mim, o problema é exactamente esse: para este governo, primeiro estão os valores económicos e depois vêem as pessoas. E esta é que pode ser a preversão de um serviço público, como é o serviço político!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Direito à Profissão de Fé!

Na sequência de algumas opiniões publicadas, nos meios de comunicação, quer de um ou outro leigo, quer dos nossos Bispos, referindo a legitimidade de a Igreja assumir a sua missão, a ênfase continua a colocar-se, não raro, no serviço social que a Igreja presta a nível nacional. É inequívoco este serviço; e seria catastrófico para o Estado se a Igreja se demitisse destas suas responsabilidades. Sem dúvida, que não o fará, na justa medida em que esta acção se insere no cerne da sua vocação.
Mas parece-me, na linha daquilo que se pode subentender das palavras do Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, que afirmava, há dias, que o serviço social tem a sua origem na experiência do templo, particularmente na escuta da Palavra, que a profissão de qualquer fé está a montante desta prática social e que é um direito inalienável da pessoa humana. O direito a professar uma fé e a expressá-la pessoal e comunitariamente é um direito da pessoa humana. De tal modo assim é que a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia o consigna num dos seus artigos. Refere este documento, estruturante da vida dos cidadãos da Europa: «Todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, bem como a liberdade de manifestar a sua religião ou a sua convicção, individual ou colectivamente, em público ou em privado, através do culto, do ensino, de práticas e de celebração de ritos» (Art. 10º. §1 – Liberdade de pensamento, de consciência e de religião).
Ora, neste sentido, cabe a cada sociedade e a cada estado, democraticamente organizado, o respeito indiscutível pelos direitos mais fundamentais da pessoa humana, que aqui estão consignados. Ou seja, o estado tem o dever inquestionável de respeitar a prática religiosa pessoal e a livre associação em comunidade para a praticar.
A Igreja, por seu turno, não tem de se escudar na sua acção social. Sendo este um serviço inquestionável à pessoa humana e à sociedade, é apenas uma dimensão da sua prática e da sua acção. O direito ao culto é algo que lhe é devido! E não será qualquer organização do Estado, particularmente na União Europeia, que pode privá-la desse direito. Estamos todos obrigados ao respeito de normas comuns, mesmo que essas normas se refiram a convicções que não partilhamos. Um estado democrático assenta aqui as suas bases: no respeito pelo direito dos povos. E este é um, de entre tantos outros, que temos de saber assumir, afirmar e reivindicar.
Bom seria que os cristãos, conscientes da sua fé, assumissem como exigência por parte dos bens públicos, o respeito por um direito que lhes está salvaguardado.
É nesta linha que entendo a atitude do presidente francês de salvaguarda de princípios religiosos básicos. E partindo deste mesmo pensamento, acho perfeitamente inaceitável a afronta explícita, ou implícita, que certos governos europeus tentam fazer à Igreja, sejam eles italianos, espanhóis ou portugueses. O respeito pela legitimidade e pela acção de cada um é o único suporte de uma sociedade justa, equilibrada, mas igualmente democrática.
Carlos Alberto da Graça Godinho

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

No início de um Novo Ano!...

Estamos de novo em Janeiro! Iniciamos um novo ano. Tal significa iniciar um novo ciclo de vida. E refiro novo ciclo, porque o é realmente. A vida nunca se repete. Pese embora a semelhança com outros momentos da vida, numa linha de continuidade, cada momento é sempre uma novidade absoluta.
Por outro lado, o tempo é algo sem retorno. Segundo a mitologia grega, «Cronos», o deus do tempo, mata os seus filhos, significando com isto que o tempo nunca regressa ao passado. Mais ainda, o tempo é marcado por um processo de continuidade sem paragem.
Ora o tempo é a linha de construção da nossa vida. É nele que crescemos, nos desenvolvemos, realizamos os nossos projectos, convivemos, descansamos, trabalhamos, etc. Por isso, o tempo transforma-se em oportunidade única, considerando cada um dos seus momentos; pois cada um deles é singular, irrepetível, uma possibilidade de sermos cada vez mais, numa linha de construção da nossa própria identidade.
É assim que o tempo se transforma para nós em verdadeiro desafio, no sentido de vivermos «cada momento como se ele fosse o único», como afirmava o grande Papa João XXIII.
Mas o tempo não pode surgir desligado entre si; a vida construída no tempo não pode ser um somatório de momentos desarticulados, sem nexo e sem referências. A vida tem de ser construída no tempo com um fio condutor. Temos de ter um projecto: sabermos onde queremos chegar, dando-lhe um sentido. É aqui, então, que se inscrevem os valores – humanos, relacionais, cristãos…
Ainda em tempo de Natal, fica-nos, para nós cristãos, um forte desafio: no reconhecimento de Deus que se faz Homem, divinizarmos a nossa vida pela sua máxima Humanização, tendo como referência a Humanidade em Jesus Cristo. De todos os valores que n’Ele reconhecemos, sobressai a Sua vivência e o Seu ensinamento do Amor; de tal modo que a Sua própria vivência se torna verdadeiro ensinamento. O Amor é, para nós (certamente para todos nós homens!) o verdadeiro caminho, o verdadeiro projecto e o verdadeiro sentido. Não um amor qualquer, mas sim um amor autêntico, capaz de assumir exigências, de comportar a gratuidade, de assumir o risco do serviço, de ser dádiva de nós próprios. Só assim o amor nos plenifica, preenchendo cada momento. Um amor vivido deste modo é fundamento da alegria no tempo e é, desde já, construção da eternidade.
É com esta perspectiva, assumida por mim e partilhada convosco, que vos desejo a todos um Feliz Ano Novo. Um ano cheio de sentido; o mesmo é dizer, cheio de Amor. Então, inequivocamente, um ano de paz, de alegria, de partilha, de felicidade. Votos de um Feliz 2008!

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho