quinta-feira, 1 de julho de 2010

Perspectivas para uma Pastoral das Termas (Resumo)

No intuito de propor algumas reflexões, que sirvam a uma renovada Pastoral das Termas, considerarei, na minha exposição, três aspectos que julgo cruciais para o seu desenvolvimento: a análise da Pastoral das Termas, segundo inquérito elaborado; as orientações da Igreja para a Pastoral do Turismo, em que as termas se inserem; e algumas orientações práticas, emanadas da mesma documentação, reflectidas pessoalmente e adaptadas às comunidades que compreendem espaços termais.
Depois da abordagem de alguns pressupostos e símbolos, concretamente a especificidade da Pastoral das Termas no contexto da pastoral do Turismo, porquanto ela visa responder a uma realidade eminentemente ligada ao conceito de saúde e não tanto a uma dimensão lúdica, recreativa ou cultural, ainda que a possa e deva pressupor, consideraremos a simbologia da água, particularmente na sua visão bíblica, que nos permite introduzir uma concepção global de saúde, que não se limite ao simples bem-estar físico, mas que abre o homem à sua dimensão mais profunda, numa visão integradora de todas as dimensões da existência humana, a que a pastoral terá de responder.
Fundamental para uma adequação de propostas será a análise dos resultados recolhidos do inquérito sobre A realidade das Termas em Portugal e respectiva Acção Pastoral, enviado a todos os párocos encarregados de estâncias termais. Ainda que os resultados obtidos nos permitam simplesmente uma amostragem, pois que responderam menos de 50% dos contactados, podemos concluir alguns dados significativos, como são a tipologia das termas, as faixas etárias que frequentam os espaços termais, a existência, ou não, de relações próximas com as paróquias, os serviços religiosos mais solicitados e as respostas específicas facultadas pelas comunidades paroquias. Pudemos concluir, deste inquérito, que a Pastoral das Termas é eminentemente de tipo celebrativo ou sacramental, que optámos por definir como tradicional, e muito pouco missionária. Ora, a perspectiva que importa incrementar é exactamente esta segunda, em conformidade com a documentação da Igreja para a Pastoral do Turismo, particularmente com as Orientações para a Pastoral do Turismo, do Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes. Neste sentido, far-se-á uma reflexão mais alargada sobre as oportunidades de acção em tempo livre; o turismo – e nele o termalismo – como desafio pastoral; algumas acções pastorais a desenvolver, entre as quais se destacam o acolhimento e a formação de novos agentes de pastoral, que comprometam toda a comunidade cristã e, se possível, os próprios agentes profissionais ligados directamente às termas; o relacionamento com as autoridades públicas, no intuito de estabelecer pontos de diálogo que permitam um acompanhamento mais alargado dos termalistas; chegando mesmo a um compromisso com novas dinâmicas de acção que contemplem o respeito pela natureza e seu usufruto, como dom de Deus que podemos contemplar. Por fim, as propostas práticas a apresentar, pretendem passar do patamar celebrativo ou sacramental, ainda que a Eucaristia, particularmente a dominical, desempenhe aqui lugar central, como nas mais diversas realidades eclesiais, para uma dinâmica mais aberta à comunidade, tendo em consideração quem nos visita, os agentes profissionais que trabalham no termalismo, o trabalho em equipa pastoral, para além de muitos outros elementos concretos que facilmente podem ser assumidos pela Pastoral das Termas e ser ponto de encontro da Comunidade que acolhe com aqueles que são acolhidos. Preocupação fundamental é a de que, quem chega, possa sentir como sua, ainda que transitoriamente, a Comunidade Cristã de acolhimento. Comunidade aberta à relação interpessoal, à partilha de experiências, à reflexão, à revitalização da vida sacramental e de aprofundamento da fé. Toda a perspectiva de fundo será de assumir, como indicada, a dinâmica missionária, que permita ao termalista uma revitalização da sua vida espiritual, ao mesmo tempo que a revitalização física e de bem-estar que procura nas estâncias termais. Neste sentido, as paróquias não poderão ficar à espera de quem procure os seus serviços, mas deverão ser capazes de definir meios para ir ao encontro de quem chega, franqueando-lhes as suas portas e fazendo propostas objectivas que ajudem os termalistas a viver o tempo de descanso, e de tratamentos, como um tempo propício para um renovado encontro consigo, com os outros e com Deus.

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho
Pároco de Luso

Publicado in Agência Ecclesia