sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Feliz Natal!


No Natal são muitas as mensagens que trocamos: de felicitações, de solidariedade, de amizade, de partilha de sentimentos, etc...
Mas o Natal é sempre o NASCIMENTO DE CRISTO!
Não o nascimento na história, já acontecido há mais de dois mil anos (acontecimento real, histórico e transformador);
mas o nascimento no serviço à pessoa humana, que Deus quis assumir!
Por isso, se renova para mim, e certamente para cada um de nós, aquele desafio que este Deus feito homem nos dirigiu e nos dirige, em cada momento presente:
O que fizeste a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizeste!
Aqui está a essência do Natal:
celebrando a vinda à história do Deus feito Menino, reconhecê-lo, aqui e agora, em tantos rostos, que são o seu!
Só assim o Natal fica completo!
Um Santo Natal para todos, cheio das bençãos do Deus Menino!
Cheio daquela benção que nos advém da vivência da Caridade!
Com muito carinho por quem me visita:
Pe. Carlos Godinho

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Ver com o coração!


"Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível aos olhos."

(Antoine Saint-Exupéry)

domingo, 16 de dezembro de 2007

A Alegria!

Adormeci e sonhei que a vida era alegria; despertei e vi que a vida era serviço; servi e vi que o serviço era alegria.
(Tagore)
Neste Domingo - Domingo da Alegria - partilhava estas convicções:
- A Alegria é um dom que jamais nos será tirado, pois a Verdadeira Alegria é a própria Vida Divina;
- A Alegria é uma possibilidade, aqui e agora, pelo acolhimento do Espírito de Deus e da Palavra de Jesus Cristo;
- A Alegria é um dom partilhado: sempre que somos uns para os outros à imagem de Jesus Cristo, somos fonte de Alegria, porque fonte de liberdade e de paz.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Felicidade!


A vida é demasiado breve para a não vivermos com intensidade e com Felicidade!
Deus criou-nos para sermos Felizes!
Este é um dos nossos deveres!
Sede Felizes, enquanto esperais a FELICIDADE PLENA!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Verdadeira Educação!

"Os Portugueses estão cada vez mais a libertar-se da culpa e a assumir as suas responsabilidades!"

Ana Mesquita in Portugal no Coração


Esta é uma indicação interessante, uma vez que a opção nunca se pode basear na culpa, mas sim na convicção. Qualquer ética tem de apontar para aqui - para a responsabilidade e a capacidade de optar. Este parece-me, também, o maior desafio em termos de educação: formar para a responsabilidade e nunca para o medo.
Esta visão da vida configura novos modos de comunicação e interiorozação de valores; estes não se fazem pelo medo, mas sim pelo descernimento.
É, igualmente, um forte desafio para quem forma: pais, escolas, igrejas, sociedade... Formar para a responsabilidade é sempre o grande desafio!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Um novo estilo de organização: renovar ou reformar!

Deixo aqui este texto interessantíssimo, do Sr. D. António Marcelino, que me parece ser um bom ponto de partida para uma reflexão séria!


Numa palavra de ordem à Igreja em Portugal, o Papa assinalou a necessidade de mudar o estilo de organização da comunidade eclesial e a mentalidade dos seus membros. Só assim, acrescenta, a Igreja poderá caminhar ao ritmo do Concílio Vaticano II.
Esta recomendação vem muito a propósito e com marcas de urgência. Teremos de nos interrogar se este objectivo se procura por reformas ou por um processo de renovação.
É um facto que a Igreja, em alguns campos e aspectos, não se desprendeu ainda de formas e de estruturas que hoje mais dificultam a circulação da vida, que a favorecem. As estruturas são um serviço à vida das pessoas e das comunidades. Por isso mesmo, são, por sua natureza, avaliadas periodicamente e substituídas ou renovadas, quando deixam de servir os objectivos desejados.
A Igreja está, em nome do Deus em que acredita e da Mensagem que lhe foi confiada, ao serviço das pessoas, construindo comunidades, animadas pela graça de os seus membros se sentirem uma família nova de filhos e de irmãos. Quando a vida das pessoas muda ou as mudanças sociais dão origem a novas culturas, nas quais se alteram valores, critérios e modelos de vida, logo tem de surgir a interrogação sobre os novos caminhos a abrir e percorrer para melhor se poder servir. De outro modo, a Igreja fica fora do tempo e começa a funcionar e a gastar as suas melhores energias em função de si própria e não daqueles aos quais é enviada. Fica assim em causa a sua condição de servidora do Evangelho de Cristo, uma Boa Nova nunca esgotada, nem envelhecida, e sempre necessária, para que as pessoas vivam e comuniquem segundo a dignidade que lhes é própria e, pelas relações mútuas, exerçam o seu protagonismo de construtores responsáveis de uma sociedade humanizada e fraterna.
Séculos houve em que, no aspecto religioso, o campo invadiu a cidade e aí assentou arraiais com formas de vida e de acção eminentemente rurais. As paróquias são estruturas rurais na sua origem e medievais na sua óptica e concepção.
Numa sociedade estática, na qual a cidade não era senão um campo alargado onde vivia maior número de gente rural, a estrutura territorial ajudava a coesão por via da delimitação de fronteiras e da concretização de tarefas religiosas. Os leigos em geral não eram mais que membros passivos da Igreja que dela recebiam a Palavra e os Sacramentos. A eles mais não se pedia que a ajuda material.
De depressa, por motivos ridículos, se foram gerando bairrismos e conflitos. Muitos destes ainda perduram sensíveis a formas novas que se pretendam implementar.
Pela explosão das ordens religiosas, ao tempo com clero mais abundante e preparado, foram surgindo no tecido religioso alguns quistos, que não favoreceram e ainda hoje nem sempre favorecem a renovação desejada.
O mundo das pessoas mudou nas suas expressões, objectivos e relacionamentos e as fronteiras territoriais amoleceram, no sentido da coesão e até da expressão comunitária. O urbanismo, como pensamento e expressão de vida, invadiu o que restava de mundo rural. A mobilidade cresceu pelas mais diversas razões e é hoje expressão normal da vida de muita gente. Democratizaram-se a vida pública e os regimes políticos, a escola e as relações pessoais, alteraram-se os valores tradicionais e multiplicaram-se as fontes de informação, com manifesta influência nos ideais de vida e nos comportamentos pessoais e colectivos. De repente, tudo mudou. Porém, algumas estruturas eclesiásticas, nomeadamente as paróquias, mas não só, perduram neste século XXI, embora com algumas reformas, com o colorido de formas estruturais de séculos longínquos. A palavra de ordem passou, por isso mesmo, a ser outra: Tempos novos, novas formas de acção pastoral e de expressão apostólica.
Esta reflexão, que vai continuar, pretende ser uma ajuda operativa ao apelo do Papa.

D. António Marcelino, in Dossier da Agência Ecclesia

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Pampilhosa: «Crescer Juntos»

Na sequência de algumas conversas e de algumas acções, que fui tendo nestes dias, recordava aquele princípio básico da nossa experiência, recolhido no adágio popular «ninguém é feliz sozinho», e sentia como é necessário encontrarmos formas próximas de comunicação. A primeira, indiscutivelmente, passa pela relação mais íntima, no diálogo pessoa a pessoa, de que o nosso mundo de hoje tanto carece. E este mundo é, também, cada um de nós, em circunstâncias tão variadas da nossa própria vida. Necessitamos uns dos outros para nos confrontarmos, para nos aconselharmos, para nos descobrirmos, para manifestarmos as nossas ideias e sentimentos… Em suma, para crescermos!
Desde logo, a psicologia diz-nos que o que somos se forma nesta interacção; ou ainda, que são os outros a revelar-nos uma boa parte de nós. Isto é, necessitamos do outro para nos descobrirmos na nossa identidade mais profunda e crescermos como pessoas.
Poder partilhar as nossas vidas é, então, não apenas uma graça, mas também uma necessidade! Efectivamente, «ninguém é feliz sozinho»!
Os campos primeiros de acolhimento e de expressão do que somos encontramo-los na família, no grupo de amigos, nesta ou naquela instituição de que somos pertença. É aí que formamos a nossa identidade e nos expressamos na pura verdade daquilo que somos e vivemos.
Partindo do que referi, e ao olhar, agora, para a nossa comunidade cristã, sinto igualmente que ela tem de ser essencialmente um espaço de crescimento conjunto. Não apenas um lugar de rituais, de aprendizagem dos conteúdos da fé, ou de referência como lugar de uma certa pertença territorial. A Comunidade Cristã tem de ser um espaço de acolhimento de cada um, de partilha, de escuta, de confronto sadio, de expressão autêntica da identidade pessoal. Tendo por base um ideal comum – o projecto de vida definido por Jesus Cristo – a comunidade tem de ser o lugar da minha identidade e da minha expressão. Isto é, o espaço em que partilho o que sou e acolho o que os outros são!
Nesta perspectiva, importa que cada um de nós se abra à partilha com os demais; mas importa, igualmente, que cada um seja capaz de acolher a diferença e a complementaridade. Na Comunidade cada um é dom para o outro e cresce na medida em que acolhe esse outro como dom! Só assim, libertos de egocentrismos e abertos à alteridade, podemos crescer em conjunto.
Acabado de chegar à Pampilhosa, também eu gostaria de ser contributo neste crescimento conjunto; dando-me e recebendo o muito que cada um traz à minha presença. É aqui – creio – que aprendo, em dinâmica constante, a ser padre. Porque também eu não estou «feito», estou em pleno crescimento! A vida é sempre uma aprendizagem contínua e é-o, essencialmente, por aquilo que cada um nos traz de si como verdadeiro dom!
Também eu quero crescer convosco e, se possível, dar-vos algo de mim, que nos permita dizer sempre, momento a momento: crescemos em conjunto!
Pe. Carlos Alberto Godinho
Editorial do Jornal Voz da Paróquia


terça-feira, 27 de novembro de 2007

Em memória...

Hoje escrevo porém para a Saudade
- Nome que diz permanência do perdido.

Sofia de Mello Breyner Andresen
Hoje cito Sofia recordando aquele amigo, aquele colega, aquele «irmão» - o Álvaro Alfeu - que tão cedo partiu!
Tanto queria ser padre; tanto gostava de cantar os louvores de Deus (foi ele quem me entusiasmou a dedicar-me ao canto litúrgico); tanto amou os outros, ao ponto de partilhar aquilo que lhe era necessário (não esqueço, Álvaro, os ciganos que assististe com os teus cobertores, naquela noite de massacre, na Figueira da Foz!); tanto queria dedicar-se ao serviço das comunidades... E tão cedo partiu! Com apenas dezoito anos, vítima daquela leucemia que o não poupou.
Não esqueço os teus projectos de continuarmos os estudos no ano seguinte quando, na cama do hospital, só pensavas em recuperar-te e nós sabiamos que daí a pouco já não estarias entre nós!... Quão dificil foi viver esse momento derradeiro da tua presença, da tua esperança, da tua alegria, ainda que macerada pela dor que te atormentava. Não esqueço a alegria com que exibias o terço recentemente oferecido pelo Bispo da Diocese quando te visitou no Hospital, acabado de oferecer pelo Papa na sua recente visita.
Não esqueço - como adivinhavas tu? - a tua expressão contínua: «vou morrer!», sem que nada nos pudesse levar a supor isso! Mas também não esqueço o que nos dizias (e celebrámos no dia das tuas exéquias!): «quando morrer cantem; cantem o Te Deum». E eu nunca pensei que tão depressa o iriamos cantar!
O Te Deum! Dando graças a Deus por aquilo que foste, para cada um de nós!
Não esqueço as lágrimas incontroladas daquele padre que tanto te estimava, o nosso director espiritual. Não esqueço a tua «vaidade», no modo como te arranjavas antes de sair para um acto público qualquer.... Não esqueço as tuas lágrimas quando, no teu quarto, partilhavas comigo o teu drama familiar... Tanta coisa que não esqueço! Não esqueço a tua amizade; nem te esqueço a ti, mesmo quando passaram já vinte e cinco anos sobre a tua partida! Sim, nesse dia 27 de Novembro de 1982.
Nunca esquecerei o céu cheio de nuvens, por onde brilhavam alguns raios de sol, dizendo-nos, naquele fim de tarde, quando regressávamos a casa, após a tua descida à terra, que mesmo para além das nuvens o sol continua a brilhar. E hoje, como ontem, fica a mesma vontade: Álvaro até à eternidade!

Diálogo Necessário!

Comecei hoje, entre outras leituras, a ler o Livro Religiões do Mundo, de Hans Küng. Dizia ele a concluir o prefácio deste Livro:
Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões.
Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões.
Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais.
O nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro.
Talvez o autor não diga nada de particularmente novo e o mérito maior seja o de arrumar bem as ideias. Contudo, é necessário que alguém nos chame a atenção para esta realidade, de forma renovada. Até porque o diálogo pressupõe a aceitação do outro. E dificilmente se aceita a diferença, particularmente quando a não conhecemos. Há um diálogo civilizacional que importa revalorizar persistentemente.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mudança necessária!

"Mudar de estilo e de mentalidades não é o mesmo que mudar a cor das vestes litúrgicas ou afinar os cânticos das missas - é mudar tudo.
"Os cristãos portugueses estão mal preparados, vivem agarrados a uma religiosidade popular mal fundamentada e isso faz com que entre o fim da infância e o início da idade adulta boa parte das ovelhas se pisgue do redil. Em Portugal baptiza-se quase tudo à nascença, aos sete anos faz-se a primeira comunhão e aos 15 despacha-se o crisma - como se fosse possível aos sete alguém compreender a profundidade da eucaristia e aos 15 estar em condições de afirmar a maturidade da sua fé. Esta juvenília religiosa é boa para se chegar aos noventa e tal por cento de católicos em Portugal, mas leva a que aos 15 esteja feita a licenciatura cristã e que aos 18 já só haja jovens no coro. Isto sim vale a pena debater e falar muito a sério. Vamos continuar a falar em paninhos de rendas, latim e incensos ou vamos tentar ser sérios e mudar onde as coisas precisam realmente mudar?Será que há essa vontade?"
Publicado no blog Padres Inquietos
A isto eu chamo falar directo e chamar as questões pelo nome! Daqui se depreende a necessidade urgente (melhor: absoluta!) de uma verdadeira Catequese de Adultos.
A experiência a iniciar na paróquia de Pampilhosa, com catequistas próprios, espero que seja um primeiro passo. Mesmo que seja modesto será um primeiro passo.
É urgente formar catequistas que ajudem adultos a crescer na fé e a assumir com garra esta acção da Igreja, tal como se assume a Catequese de Infãncia e Adolescência!
Este é, indiscutivelmente, o caminho!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Para Ser Grande!

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

Este pensamento foi retirado do belíssimo Romance, de José Rodrigues dos Santos, O Codex 632, que acabo de ler. Se ele serve, efectivamente, o pensamento do autor, pode servir-nos de desafio em todas as circunstâncias da vida. Mas, de entre todas - como o autor deixa entrever -, na busca permanente da verdade e da autenticidade. Deixo aqui este pensamento de Fernando Pessoa como homenagem ao autor e como desafio pessoal. Valeu!

domingo, 11 de novembro de 2007

É preciso mudar o estilo de organização e a mentalidade dos membros da Igreja Portuguesa!
Pediu Bento XVI aos bispos portugueses.

“É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja” – pediu esta manhã (10 de Novembro) Bento XVI aos bispos portugueses.
Neste encontro integrado na visita «Ad Limina» que os prelados estão a realizar até 12 de Novembro, o Papa também apontou caminhos novos para a Igreja Portuguesa: “eclesiologia da comunhão na senda do Concílio, à qual a Igreja portuguesa se sente particularmente interpelada na sequência do Grande Jubileu é a rota certa a seguir, sem perder de vista eventuais escolhos tais como o horizontalismo na sua fonte, a democratização na atribuição dos ministérios sacramentais, a equiparação entre a Ordem conferida e serviços emergentes, a discussão sobre qual dos membros da comunidade seja o primeiro”.
Depois de analisados os relatórios das dioceses portuguesas e verificar “a maré crescente de cristãos não praticantes”, Bento XVI alertou os pastores portugueses para que estudassem “a eficácia dos percursos de iniciação actuais, para que o cristão seja ajudado, pela acção educativa das nossas comunidades, a maturar cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo”.
Dois desafios têm sido afirmados, ao longo do dia de hoje: reorganizar o serviço Eclesial e assumir um novo impulso na Inicação dos Adultos. Um desafio bem real para a Igreja Portuguesa e, consequentemente, para cada uma das nossas Comunidades. Tarefa a assumir em verdadeira «corresponsabilidade», como bem afirma, ainda, o Papa.

sábado, 3 de novembro de 2007

A Misericórdia Divina!

"A Igreja proclama a verdade da misericórdia de Deus, revelada em Cristo crucificado e ressuscitado, e proclama-a de várias maneiras. Procura também praticar a misericórdia para com os homens por meio dos homens, como condição indispensável da sua solicitude por um mundo melhor e «mais humano», hoje e amanhã.
Mas, além disso, em nenhum momento e em nenhum período da história, especialmente numa época tão crítica como a nossa, pode esquecer a oração que é um grito de súplica à misericórdia de Deus, perante as múltiplas formas do mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam. Tal é o direito e o dever da Igreja, em Cristo Jesus: direito e dever para com Deus e para com os homens."

João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia, nº 15


Aqui está um belo e profundo desafio para cada um de nós cristãos! Um desafio que tem de se renovar em cada dia!

Unidades Pastorais!

Vai demorar vários anos, muito provavelmente décadas, mas é uma reforma que a Igreja já iniciou e que, embora sem pressas, quer concretizar. Trata-se da criação de Unidades Pastorais, congregando três, quatro ou cinco paróquias, por norma tuteladas pelo mesmo pároco.

Esta reforma deve-se à cada vez maior escassez de sacerdotes e também a uma perspectiva mais “moderna e actual” no que diz respeito à prestação de serviços pela Igreja.“Isto não se faz por decreto, como as reformas que nós conhecemos. As unidades pastorais vão sendo constituídas à medida que forem criadas condições para isso”, disse ao CM D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), sublinhando que “o ideal é que essa constituição parta das próprias comunidades”.A ideia da Igreja não é, pelo menos numa primeira fase, acabar com as paróquias, mas integrá-las numa unidade em que todos os serviços, desde as celebrações à catequese, obedeçam a uma só coordenação.“Na maior parte dos casos não poderemos deixar de ter os centros paroquiais em cada terra para a realização de reuniões ou para as aulas de catequese, já que a Igreja não tem possibilidades de assegurar os transportes das crianças, mas, onde for possível concentrar, entendemos que é a melhor solução”, afirmou D. Carlos Azevedo.Em termos práticos, as actuais 4300 paróquias devem, a longo prazo, dar lugar a cerca de 1100 unidades paroquiais, a maioria delas formada por quatro paróquias.Algumas já foram constituídas, pelo menos no papel, nas dioceses de Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra e Braga, devendo avançar também nas restantes 15 dioceses do País.“É um processo que está em andamento e que está a decorrer consoante o que planeámos”, disse ao CM D. Jorge Ortiga, o presidente da CEP. Rejeitando a ideia de que possa haver contestações, o prelado explicou que “elas só serão criadas onde as comunidades quiserem”.
Retirado do Jornal Correio da Manhã
É inevitável que assim seja. Parece-me é que o esforço que vamos fazendo neste sentido é ainda diminuto. Sofremos de grande inércia. Basta recordar que há dez anos já nós - então padres do Arciprestado de Cantanhede - entregámos documento com propostas bem concretas. À distância destes anos, todavia, permanecemos na mesma, nesta Diocese de Coimbra. Há a necessidade de um esforço e compromisso muito maior!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Santuário de Fátima!

Com a nova Basílica da Santíssima Trindade, o Santuário de Fátima tornou-se verdadeiramente uma grande «cidade» de oração, continuando na perspectiva de permitir aos peregrinos ter novos espaços de recolhimento, particularmente centrados na celebração da Eucaristia. A sensação que tive ao visitar o novo espaço e ao ver o seu enquadramento no todo do Santuário, é exactamente essa: Fátima convida-nos cada vez mais à oração. Pouco importa o que é acessório - ao mesmo tempo que necessário para a concretização das obras -; o que importa é a dimensão espiritual para a qual somos elevados. Pessoalmente, fez-me muito bem passar por Fátima nestes dias!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pobreza!

Hoje, ao celebrarmos o Dia Mundial contra a Pobreza, fiquei «chocado» ao ouvir as notícias que nos davam conta de que em Portugal existem dois milhões de pobres. Dois milhões, em cerca de dez milhões de portugueses. Fiquei triste ao saber que as diferenças entre ricos e pobres se estão a agravar cada vez mais. Fiquei triste ao saber que a pobreza perpassa já pelo meio de uma certa classe média portuguesa, até aqui assim definida.
Para onde caminhamos nós? Que comunidade estamos a construir? Assente em que valores?... E nós, cristãos, que estamos a fazer no sentido de ir ao encontro efectivo de quem tem necessidade? Bem sei que muito está para além das nossas possibilidades. Mas será que temos feito tudo para ajudar a resolver a multiplicidade de problemas que se vão erguendo ao nosso lado? Ou permanecemos na tranquilidade das nossas consciências e dos nossos «ritos»?
E não se trata, aqui, de uma certa vivência da caridade, mas sim de uma exigência de justiça. Por isso, a petição da Comissão Justiça e Paz, que pude assinar, faz todo o sentido: é necessário considerar a pobreza como um dos maiores flagelos que atormenta um considerável número dos nossos concidadãos.
E para nós fica sempre aquele desafio do Evangelho: o que fizeste a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizeste!...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

As Bem-Aventuranças!

Este último fim-de-semana foi, para mim, um tempo rico de vivências e de comunhão espiritual: a entrada ao serviço de uma nova paróquia, que agora me é confiada; a partilha da experiência espiritual que emanava de Fátima, nos 90 anos das aparições e na dedicação da nova Basílica da Santíssima Trindade; a comunhão com o sofrimento de algumas pessoas que me estão próximas, por via da minha actividade pastoral. Tudo isto vivido num clima de alguma debilidade pessoal, porque, eu próprio, durante a última parte da semana anterior, fui vitima de uma forte amigdalite que me prostrou durante dois ou três dias. Talvez por isso mais sensível a um conjunto de sinais envolventes.
E foi na sequência desta maior sensibilidade ao sofrimento alheio que me ocorreu recordar-me das Bem-Aventuranças.
Muitas vezes julgamos tratar-se de um «discurso evangélico» que nos atira para a meta-história, isto é, para uma dimensão exclusiva do Reino que há-de vir em definitivo, esquecendo a dimensão intra-histórica, da concretização desse Reino aqui e agora, ainda que, sabemo-lo, não em definitivo. Ora, é isto que Cristo nos convida a viver: à Sua imagem, realizar aqui e agora o Reino de Deus, atentos, em particular, aos mais desfavorecidos.
De todas as Bem-Aventuranças, chamava-me particular atenção a terceira, segundo a formulação de Mateus: Bem Aventurados os aflitos, porque serão consolados. E percebi que este é um forte desafio à atenção de cada um de nós cristãos: quantos irmãos nossos, ao nosso lado, vivem tantas formas de «aflição» física, psicológica, afectiva, moral, económica, material, eu sei lá… sem que nós nos apercebamos das suas necessidades? Muitas vezes porque demasiado centrados em nós, incapazes de estar atentos a quem nos rodeia.
E se escrevo no plural, devo fazê-lo também no singular. Quantas vezes, eu próprio vivo demasiado centrado nas minhas preocupações e desatento relativamente a quem me rodeia? E quis deixar que esta Bem-Aventurança fosse um desafio para mim: levar consolação a quem está aflito. Pouco importam os modos ou a intensidade dos gestos; importa, sim, a sua permanência numa atitude de presença e de ajuda a quem sofre.
Nesta hora, algumas pessoas estão bem presentes no meu coração, por quem rezo a Deus, no sentido de encontrarem consolação; estão presentes na minha acção, na justa medida do que me é possível fazer por elas.
Mas, ao mesmo tempo, o consolo gera em nós acção de graças. A experiência da doença ou de qualquer forma de dor, quando encontra acolhimento na disponibilidade do irmão, faz-nos reconhecer este prolongamento da bondade de Deus expressa nas mãos de quem nos acolhe. Ter tido uma pequena experiência de dor, nestes dias, permitiu-me valorizar o dom de Deus que é o outro, expresso no rosto de quem nos acompanha. Em definitivo, é mais uma lição de vida a recordar-me o Evangelho. E a lembrar-me, sobretudo, que as Bem-Aventuranças são um desafio contínuo à minha vivência como cristão e como padre.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

É necessária uma estratégia para a Diocese de Coimbra!

Agora que fazemos avaliação de um quinquénio pastoral na Diocese de Coimbra e que nos confrontamos com as suas mais prementes necessidades, não deixo de pensar que é necessária uma verdadeira estratégia para a nossa Diocese. A avaliação, incidindo nas temáticas do Plano, deve compaginar-se com propostas de futuro, que respondam aos mais urgentes desafios que se nos colocam. Esta será a forma de aproveitar este ano pastoral, dando-lhe um cunho, simultaneamente, de avaliação e programação. Outro modo será dizer de avaliação pró-activa.
Como sabemos, estratégia, expressão derivada da linguagem militar, propõe-nos a adequação de meios em ordem a alcançar os objectivos definidos para determinada acção. Ora, é disto mesmo que a Diocese precisa: redefinir os objectivos a alcançar, a médio e longo prazo, e equacionar os esforços a implementar em ordem à sua concretização.
De outro modo, continuaremos a marcar passo, não assumindo compromissos estruturantes que dêem respostas capazes às necessidades do presente e do futuro, em ordem à missão da Igreja, assumida no contexto desta Igreja Particular de Coimbra. E não podemos alhear-nos de que continuamos com a manutenção de respostas que se situam no quadro do passado, não respondendo já à actual realidade eclesial e social; desgastando os agentes de pastoral (bispo, padres e leigos…) física, psíquica e emocionalmente; não preparando uma resposta inadiável face ao futuro que se avizinha.
Neste sentido, sem pretender focar todos os aspectos (só a temática da Evangelização e Reevangelização seria suficiente para um artigo), proponho três elementos estruturantes:
1 – É necessário retomar, com a maior brevidade possível e o maior empenho de todos, as Unidades Pastorais. Para tal, é prioritária uma reflexão profunda, que envolva, o mais possível, todos os cristãos, sobre a reestruturação do território diocesano. Algumas Dioceses começaram já, ainda que uma ou outra timidamente, a fazê-lo.
2 – Articulado com o primeiro ponto, é necessário implementar um verdadeiro espírito de corresponsabilidade: do bispo com todo o presbitério e todos os seus diocesanos; dos padres entre si, em verdadeira unidade presbiteral, diluindo todas as formas de isolamento e de individualismo pastoral; empenhando efectivamente, numa séria participação de toda a missão da igreja, os leigos da diocese, particularmente os que se vão manifestando mais responsáveis; empenhando as comunidades paroquiais no sentido de suscitarem no seu seio os ministérios e serviços de que têm realmente necessidade.
3 – Urge reequacionar e requalificar a formação de leigos. Depois de alguns anos de experiência de formação laical, particularmente com a Escola de Leigos e com a Escola de Música Sacra, há necessidade de criar sinergias, de potenciar esta formação e de lhe definir um plano articulado que se oriente para o exercício dos Ministérios. Tem sido meritória a acção da Escola de Música Sacra; tenho registado com agrado a acção da Escola de Leigos, projecto em que me sinto envolvido. Todavia, parece-me uma formação ainda desaproveitada, no sentido de qualificar quem assume Ministérios Eclesiais. Uma Escola de Ministérios é uma das necessidades da Diocese.
São três campos de acção prioritária ente tantos outros que podíamos equacionar.
Parece-me que só assim, privilegiando factores estratégicos para a concretização da missão da Igreja entre nós, podemos responder com mais eficácia ao presente e preparar o futuro que urge. Não podemos esquecer que já gastámos demasiado tempo sem conseguirmos dar passos concretos para uma reestruturação que se impõe. A diocese, e cada um de nós, só tem a ganhar quando todos nos empenharmos, em verdadeira comunhão, em assumir conjuntamente a missão que é de todos. Além disso, é de todos a responsabilidade pelo presente e pelo futuro desta Igreja, necessariamente aberta a encontrar novos caminhos de fidelidade à sua missão!


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

As dúvidas de Madre Teresa!

Quando lia, há dias, um artigo da revista Visão sobre as dúvidas de Fé de Madre Teresa de Calcutá, vinha-me à memória uma imagem que as Irmãs Carmelitas expunham num quadro, para dar a conhecer a sua congregação, no contexto de uma semana das vocações. Apresentavam-nos elas a imagem da montanha e a dificuldade em ver claro quando se está imerso nela. E recordava a minha primeira experiência de contacto com a Serra da Estrela. Quando, depois de Nelas, nos aproximamos da serra, ela aparece-nos com toda a sua majestade no horizonte e nós temos uma imagem clara da sua dimensão; ao contrário, quando começamos a subi-la, tudo parece bem mais difícil e aquela precisão de contornos deixa de se ver. A subida da serra torna-se, aliás, muito mais difícil do que poderíamos imaginar. Mas há aqui uma diferença profunda: à distância ainda não estamos na serra, e ela é clara para nós; quando imersos nela, deixamos de ver tão claramente, mas estamos no seu seio, envolvidos pela sua grandiosidade. Ora, esta bem pode ser uma imagem que nos permite compreender os meandros da fé: à distância, tudo parece claro, mas é ainda realidade externa; quando imersos na sua vivência, com um compromisso total da vida, a clareza de contornos parece perder-se, mas estamos lá, tocados pela realidade que nos envolve em todos os sentidos. O cume parece mais distante, mas não o é, pois que não vendo claramente estamos mais próximos dele do que aqueles que o olham à distância. Esta imagem da montanha ajudou-me sempre a compreender este mistério. Não devemos preocupar-nos em ter uma visão total da realidade, mas sim em viver imersos na realidade! Este sim é o caminho da fé, como desafio à nossa existência!
Esta mesma imagem permite-me compreender as inquietações pelas quais passou Madre Teresa de Calcutá: totalmente imersa em Deus, não via claramente, pois o Mistério era tão denso à sua volta que reconhecê-lo se tornava mais difícil. Mas, na verdade, estava no seu seio, muito mais do que nós, que, com ideias claras, ainda estamos longe do cume e a necessitar, como ela, de nos lançarmos na sua conquista!

sábado, 15 de setembro de 2007

Dos «abusos litúrgicos» a São Pio V: o fim de um ciclo

Pesem embora razões válidas para a defesa da dignidade das celebrações litúrgicas, afrontando os exageros que têm sido cometidos, continuo a afirmar que o regresso à Missa de São Pio V não pode ser a resposta a dar pela Igreja. A dignificação da Liturgia tem de fazer-se na linha do Vaticano II, até porque existe uma unidade intrinseca entre a Constituição Sacrossantum Concilium e a Lumen Gentium. Há aqui, reafirmo-o, uma questão de Eclesiologia.
E já agora, de pastoral: numa diocese como a nossa - Coimbra -, onde faltam os padres e recorremos cada vez mais aos leigos para celebrações da Palavra, fará sentido recear o protagonismo que estes têm assumido nas celebrações litúrgicas? Pelo amor de Deus, parece que falamos duas linguagens ao mesmo tempo.
Preocupa-me, de sobremaneira, é o facto de estas opções assentarem na autoridade sinodal. Mas, já agora: quantos Bispos se revêm nesta orientação? Serão em maioria, capaz de justificar estas opções? Duvido. Ou, pelo menos, quero duvidar!
Vejam o artigo que recolhi da Agência Ecclesia:

O Motu Proprio de Bento XVI sobre a Liturgia Romana anterior à reforma de 1970, "Summorum Pontificum", que entra em vigor esta Sexta-feira não pode deixar de estar ligado a um ciclo de intervenções pontifícias e do Vaticano a respeito da questão dos "abusos litúrgicos". O próprio Papa escreve, na carta aos Bispos de todo o mundo, que em muitos lugares, a "criatividade" levou frequentemente "a deformações da Liturgia no limite do suportável". Este ciclo iniciou-se no tempo de João Paulo II, com a publicação da encíclica "Ecclesia de Eucharistia" (2003), cujo capítulo V é dedicado ao "decoro da celebração eucarística" e da Carta Apostólica "Mane Nobiscum Domine" (2004). Em 2004, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou a Instrução "Redemptionis Sacramentum" (O Sacramento da Redenção), "Sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia". Entre os abusos que a Santa Sé pretendia evitar encontravam-se o excesso de protagonismo dos leigos durante as celebrações, a partilha da comunhão com não-católicos, a substituição das leituras bíblicas na Missa por outros textos, o hábito de os sacerdotes partirem a hóstia no momento da consagração, a exposição do Santíssimo em condições inadequadas ou a introdução de elementos não-cristãos na Liturgia Católica, entre outros. "Não se podem deixar passar em silêncio os abusos, da máxima gravidade, contra a natureza da Liturgia e dos Sacramentos, bem como contra a tradição e a autoridade da Igreja que subsistem em diversos âmbitos eclesiais nos nossos dias e comprometem a celebração litúrgica" é a tese central do documento.
Sínodo
O debate sobre os abusos litúrgicos no Sínodo dos Bispos de 2005 constituiu a terceira parte deste processo. A violação das normas litúrgicas, praticadas por sacerdotes ou leigos, fez parte, sistematicamente, do debate dos padres sinodais. Alguns Bispos intervieram para protestar contra homilias longas, contra a distribuição da comunhão na mão dos fiéis e contra a presença de muitos concelebrantes para uma única liturgia. Houve queixas também sobre a realização de missas sem o povo de Deus, e sobre a falta de padres em paróquias com um grande número de fiéis. Algumas práticas pré-conciliares seriam recebidas de volta com agrado, de acordo com alguns padres sinodais: um Bispo da Bielorússia pediu que o sacrário voltasse a ter o "lugar central" nas igrejas e um prelado do Cazaquistão gostaria que "a Santa Sé estabelecesse uma norma universal segundo a qual o modo oficial de se receber a Comunhão fosse na boca e de joelhos; a comunhão com a mão deveria estar reservada ao clero". Para estes e outros participantes no Sínodo, as "inovações litúrgicas" no mundo ocidental obscureceram de certo modo o aspecto da centralidade e o carácter sagrado da Eucaristia. Bento XVI recolheu todas estas preocuapações na Exortação Apostólica Pós-Sinodal "Sacramentum Caritatis" (O Sacramento da Caridade), de 2007, onde põe em evidência também a bondade da reforma litúrgica promovida pelo Concilio Vaticano II. Algumas dificuldades e abusos "não podem ofuscar a excelência e a validade da renovação litúrgica que contém riquezas ainda não plenamente exploradas", escreveu. Bento XVI defende que "a simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas".
Papa fiel a Ratzinger
A decisão de facilitar a celebração no Rito de São Pio V já era algo que o Papa defendia enquanto Cardeal. A 5 de Setembro 2003, numa entrevista concedida ao Canal Católico EWTN, Joseph Ratzinger deixava claro que a "antiga Liturgia nunca foi proibida". O então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé mostrava-se agastado com a questão dos "abusos" a que se assistiam na Liturgia. Nessa mesma entrevista, não escondia a sua paixão pelo latim, indicando que a presença desta língua "ajudaria a dar uma dimensão universal" às celebrações.O uso das línguas nacionais foi classificado como "uma solução", ressaltando que "um pouco de latim poderia ajudar a ter a experiência de universalidade". Na sua única Exortação Apostólica até ao momento, o Papa valoriza a celebração em latim e o canto gregoriano. Para isso, recomenda a formação necessária aos sacerdotes e também aos leigos.Joseph Ratzinger sempre ligou a crise eclesial ao "esboroamento da liturgia", concebida "etsi Deus não daretur": como se nela não importasse mais se Deus existe. Por isso, já enquanto Cardeal, defendia um novo movimento litúrgico, que ressuscitasse a "verdadeira herança" do Concílio Vaticano II.




terça-feira, 11 de setembro de 2007

Pôr do Sol!

Com o início do novo ano lectivo (leccionação e investigação), a acrescer ao trabalho paroquial (com início de um novo ano pastoral),o tempo tem sido pouco para escrever neste espaço. Todavia, gostaria de partilhar convosco algumas imagens das minhas férias: o pôr do sol! Este assume para mim uma "mística" especial - as significações podem ser muitas: o ocaso, a serenidade, a paz, a beleza, o recolhimento, a esperança.... Cada um descubra um significado e, se quiser, pode partilhá-lo aqui. Essencialmente, para mim, o pôr do sol significa tranquilidade, beleza e paz, ao mesmo tempo que uma esperança de retorno.

Nota: As imagens foram recolhidas por mim na Zambujeira do Mar, este verão (uma ou outra de menor qualidade! Paciência!)








Um abraço, ou beijinho, a todos (as) os que por aqui passarem.



















quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Inquietações!

Não posso deixar de registar aqui, hoje, um conjunto de inquietações que senti perante as notícias que nos vão chegando: os fogos na Grécia, a morte de um adolescente em Inglaterra e a morte do jogador espanhol , António Puerta.

1. Não existem palavras para descrever o drama e a angústia dos nossos irmãos gregos, perante um drama nunca visto como o dos incêndios que ali lavram, particularmente na Península do Peloponeso. É horrível o “espectáculo de morte” e o drama da perda total de bens. Imagino a angústia de quem vive este drama.
Mas, mais ainda, a ser verdade aquilo de que se suspeita, de que existem motivações políticas por detrás destes incêndios, então o “horror” torna-se maior. A pergunta só pode ser: que motivações – a não ser a loucura! – poderão conduzir alguém a pôr em causa, deste modo, a vida e os bens dos seus concidadãos? Se se provar que existem motivações políticas, então digamos que é hora de acabar com estes políticos e estas políticas!
E o paradoxo é mesmo esse (a provarem-se essas motivações!): falamos de um país onde nasceu a democracia e onde todos eram responsáveis uns pelos outros. Se assim for, não será hora de repensar os modelos políticos sobre os quais assentam as nossas governações? Bom, espero que outras motivações possam estar por detrás deste drama. Todavia, não acredito que perante aquelas centenas de fogos apenas existam pirómanos. Há um mundo que temos de repensar!


2. Vivemos num mundo perfeitamente louco, em que os valores se subvertem, e no qual, depois, nos lamentamos das nossas próprias acções. Não sei que motivos podem estar por detrás da morte daquele adolescente inglês, que regressava a casa depois de um jogo de futebol (por isso a base deste comentário é ainda incipiente), mas é certo que muitos dramas de morte entre jovens e adolescentes resultam de má formação que vão construindo ao longo da vida. E falo de má formação ao referir o permanente acento na violência que hoje povoa a mente das nossas crianças e adolescentes. Olhemos para os brinquedos que lhes oferecemos, para os filmes, os jogos, as consolas… que colocamos nas suas mãos. Existem jovens, hoje, que passam muito do seu tempo a divertirem-se com a violência. Não terá esta realidade consequências no seu crescimento e nas suas atitudes? Será a violência meramente uma realidade lúdica, sem consequências na formação de alguém, capaz de passar com o tempo? Espero bem que sim! E que o futuro não nos traga pequenos “monstros” que fomos alimentando paulatinamente. A realidade pode até ser outra, mas julgo que não podemos ficar descansados, acolhendo a dose de violência que se nos impõe, como se ela fosse uma simples brincadeira sem significado. Mas aqui deixo a palavra aos psicólogos, que, certamente, muito têm a dizer a este respeito.

3. A morte do jovem futebolista espanhol, do Sevilha, António Puerta, chocou-me terrivelmente. Como já me havia chocado a morte do nosso Fehér. Particularmente por se tratar de um jovem, no início da sua vida, com apenas vinte e dois anos. Ficamos sempre sem resposta perante notícias destas. Mas não deixa de me recolocar as questões de fundo: que sentido tem a vida? Que segurança podemos encontrar nos nossos sucessos, nos nossos projectos, nas nossas conquistas? Aquele jovem tinha conquistado já o seu reconhecimento, a partir do seu talento, e tinha direito a continuar a sonhar – pessoalmente, profissionalmente, familiarmente, socialmente... Tinha um futuro à sua frente. A vida tem de ser mais justa! E acredito que um dia (ainda que já hoje, “como num espelho”) possamos compreender o sentido profundo do nosso existir. Senão a vida seria uma espécie de presente envenenado. E acredito (e espero!) que o não é!

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

AquaJovem!

Uma boa sugestão para o fim de semana de 31 de Agosto, 1 e 2 de Setembro. Um evento organizado pela Associação de Jovens Cristãos de Luso, inserido nas comemorações dos seus 25 anos.
Os objectivos, programa e informações podem encontrar-se em:

Só existem caminhos!

Relia, há pouco, um pensamento escrito pelo Pe. Vasco Pinto de Magalhães, que aproveito para partilhar aqui:
Há pessoas que estão sempre à espera de milagres, pensam que têm o direito de que Deus lhes faça a vontade e resolva os seus problemas. Como isso não acontece, desanimam e dizem que não têm fé. Não vêem que o único milagre que Deus faz, ou quer fazer, é dar-lhes força e sabedoria para serem elas a resolver os seus próprios problemas. Não existe o Deus das soluções, só existe o dos caminhos.

In Não há Soluções, Há Caminhos

Um pensamento bem interessante, que temos de ter presente em muitos momentos da vida. E afinal, nem por isso é um Deus mais ausente. Bem ao contrário, é um Deus bem presente!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Contributo da Fé!

Dizia Humberto Pagiola que "a fé pode não mover montanhas, mas ajuda a subi-las". Assim é, na verdade. Muitas vezes, sentimos que a ligação a Deus não nos retira dos problemas que temos de enfrentar (tão pouco retirou o próprio Jesus Cristo), mas dá-nos o sentido da presença do Outro e a força interior necessária para continuar a lutar. Diante de muita gente que afirma que o recurso à fé é um baluarte dos fracos, vale a pena dizer que ela é um baluarte que nos fortalece. Principalmente porque, enquanto abertura a Deus, nos permite contar com a força desse Outro que me acompanha no mistério da minha vida. Por outro lado, ajuda-me a assumir o compromisso com a minha existência, porquanto me confronta com o modelo de vida que é Jesus Cristo. Nesta medida, qualquer experiência humana - mesmo que por mais dolorosa - pode ser vivida como abertura amorosa aos outros, fazendo-me sair do meu isolamento. Pela fé, tudo ganha absolutamente um sentido novo. Até a própria morte. Como escrevia João Azevedo Mendes, na introdução ao livro do Pe. Vasco Pinto de Magalhães, Não há Soluções, Há Caminhos, "ter fé é outro modo de dizer que temos futuro, que podemos ser felizes se quisermos".
A fé é esse alicerce da nossa existência, que nos faz assumir o presente com todas as consequências do simples viver e nos permite vislumbrar um futuro, transformado em esperança.

Padre no desemprego!

Na sequência de um artigo publicado no blog Padres Inquietos (artigo entretanto publicado no DN de 28 de Junho passado) a propósito de padre no desemprego, deixei os seguintes comentários, que aqui reproduzo:

1º Comentário:

Perante o artigo, dois comentários:
1 - Sem dúvida que um padre continua a ser um homem livre e deverá assumir as opções que, em cada momento, entender. Isto é, se a sua realização não passa pelo exercício do ministério, tem todo o direito a ser dele dispensado quando o pede. Eu próprio - padre em exercício - afirmei um dia ao meu bispo: «Se Deus respeita a minha liberdade, não posso entender como é que a Igreja, pela imposição das mãos de um Bispo, julga tê-la anulado». Portanto, o exercíco do ministério tem de ser algo livre e querido por cada um!
2 - Não consigo, todavia, entender como é que um padre que deixa o ministério não procura assegurar uma vida digna. Não pode estar à espera que a Igreja resolva os seus problemas imediatos. Tem de saber procurar uma nova forma de vida. E devo dizer que muito me preocupa ver colegas que abandonaram sem terem, depois, meios de subsistência. Têm de ir à luta. Não podem vitimizar-se ou ficar numa atitude de inércia. Já agora, ainda: quanto ao aproveitamento de quem deixou o ministério, julgo que esse será um caminho absolutamente necessário. Eu próprio o defendo. Todavia, isso não anula o que expus anteriormente.
Abraço a todos.
2º Comentário:
Tenho acompanhado este debate de ideias, que vai muito para além do caso do Francisco, que muito respeito e gostaria de ver feliz, a todos os níveis. Para reforçar a primeira ideia do meu comentário anterior, deixo aqui uma expressão de Hans Küng (um teólogo mal amado, mas de uma enorme pertinência) no pequeno livro que me foi emprestado: "Por que ainda ser Cristão?". Diz ele: "se quisermos ser cristãos, não podemos exigir exteriormente liberdade e direitos humanos para a Igreja e deixar de reconhecer interiormente esses direitos." Penso que vem bem a propósito. Toda a acção na Igreja tem de ser livre; só assim podemos ser fiéis a Jesus Cristo, que nos diz: "quem quiser...", nunca obrigando, mas fazendo sempre um desafio livre à opção de cada um.
Abraço.
Pe. Carlos

Formação de Catequistas!

«A formação dos catequistas é actualmente uma das tarefas mais urgentes das nossas comunidades, pois, “o catequista é de certo modo, o intérprete da Igreja junto dos catequizandos” (DCG 35).
“Qualquer actividade pastoral que não conte para a sua realização, com pessoas realmente formadas e preparadas, coloca em risco a sua qualidade” (DGC 234); portanto, é preciso contar com uma adequada pastoral de catequese que possa:
Suscitar vocações para a catequese;
Distribuir melhor os catequistas entre os diversos sectores;
Organizar a formação dos catequistas (de base e permanente);
Atender pessoal e espiritualmente os catequistas e formar um grupo de catequistas integrado na vida da comunidade.
O objetivo principal da formação do catequista é o de prepará-lo para comunicar a mensagem cristã àqueles que desejam entregar-se a Jesus Cristo. A finalidade da formação requer, portanto, que o catequista se torne o mais capacitado possível para realizar sua missão.»


Este pequeno apontamento foi retirado do sitio http://www.presbiteros.com.br/ Na verdade, encerra um desafio dos mais urgentes feito às nossas comunidades, nos dias de hoje - a transmissão da fé e o modo como o podemos e devemos fazê-lo. Não é por acaso que este tem sido o tema em debate nas últimas sessões da nossa Conferência Episcopal; nem, igualmente por acaso, que será tema de reflexão nas Jornadas Pastorais, no próximo mês de Setembro, para os padres da Diocese de Coimbra. É um tema verdadeiramente da máxima urgência!
E há tanto a fazer, a este nível, nas nossas comunidades! Bastaria colocarmo-nos, sériamente, a pergunta: qual a qualidade da transmissão da fé na minha Comunidade Paroquial? Que Deus nos ajude a privilegiar esta tarefa prioritária da Igreja!

domingo, 19 de agosto de 2007

Homenagem!

Se fosse vivo, o Senhor Pe. Abílio Simões completaria hoje, dia 19 de Agosto, 62 anos. Passados seis meses sobre o seu falecimento, continua a haver um sentimento imenso de perda. Se é certo que o choque inicial se atenua, a saudade do amigo, do companheiro, do padre, persiste! E é curioso que após a perda notamos melhor o bem que tivemos.
Igualmente se completaram cinquenta anos sobre a data de ordenação sacerdotal do Senhor Pe. Virgílio Gomes, no passado dia quinze. Acontecimento que ele estava a preparar com tanto entusiasmo e que não chegou a celebrar. Morreu cerca de cinco meses antes dessa data. Recordei-o, no passado dia 15, numa celebração de Bodas de Ouro Sacerdotais, com o pároco da minha paróquia natal, seu colega de curso.
Continuo a olhar à volta e a sentir o peso da perda e de uma certa solidão. Seis meses em que eu permaneço como único padre residente no espaço deste Arciprestado.
Curioso que mesmo que não nos vissemos com frequência (o que com o padre Abílio não acontecia, até porque me cruzava muitas vezes com ele), a certeza de que eles estavam ali era conforto e alento, o que agora não acontece. Tanto mais que o presbitério vive uma comunhão "sui generis" (prefiro chamar-lhe assim - sem queixa alguma, apenas como constatação), em que cada um continua a cuidar da sua vida e do seu trabalho. O sentido de corresponsabilidade é algo de muito diluído, vivendo cada um no seu pequeno mundo (como muitas vezes eu, no meu!...)
É por isso que hoje sinto mais essa ausência; e confrontar-me com uma imagem de quem desaparece faz surgir ainda um nó no intímo do coração!

Obs. Ainda que a data de publicação seja 20 de Agosto, comecei a escrever nos últimos minutos do dia 19. Na verdade, tudo é passageiro e, como diz a lenda, Cronos devora os seus própros filhos!

sábado, 18 de agosto de 2007

Exemplo!...

"A estrada é longa pelo preceito, mas curta e fácil pelo exemplo. O exemplo convence-nos mais do que as palavras."
Séneca

Vale bem a pena reflectir sobre este pensamento. E aplica-se a toda a nossa vida!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Nova Evangelização!

Na sequência de um jantar com uma família, aqui no Luso, conversava com o Eng. Rui Mesquita, Diácono Permanente do Patriarcado de Lisboa, sobre a sua acção Pastoral. Sabia já que tinha estado envolvido no Congresso da Nova Evangelização. Não conhecia, todavia, a proposta de formação cristã que surgiu a partir daí. Dizia-me o Rui (ele não se importa que o trate assim!) uma coisa muito interessante: "Se a Igreja persisitir em não querer mudar nos seus métodos, não só deixa de falar ao mundo moderno, como - mais ainda - deixa de ser reconhecida por este! A Igreja, por isso, deixa de criar cultura!" Achei muito interessante a expressão!Foi igualmente curioso perceber os três pilares sobre os quais se pretende efectuar esta Nova Evangelização: conversão, oração, acção.
Mas de toda a conversa, eu prório sublinhava duas notas importantes: em primeiro lugar, a Igreja tem de abrir-se à experiência de outros quadrantes, na capacidade de resposta aos tempos modernos; os bispos e os padres não são os únicos "iluminados" no sentido de saber como fazer para que o Evangelho chegue hoje à vida das pessoas. Em segundo lugar - e aqui eramos unânimes - a Igreja necessita de uma formação que seja cada vez mais existencial e não tanto intelectual. E este pode ser o nosso "pecado".
Foi uma conversa interessante com alguém que, além do ministério, tem desempenhado ao longo da vida tarefas de gestão, nomeadamente em multinacionais. Penso que a partilha, o caminho em conjunto, a troca de opiniões e, sobretudo, a humildade para aprender, será caminho fecundo para o objectivo a que todos nos propomos: anunciar o Evangelho ao homem de hoje, históricamente situado.
Se nós não tivermos esta humildade, podemos correr o risco de querer anunciar ao homem de hoje tendo como referência o homem de ontem. E, por isso, falhar esse objectivo que nos propomos. Não será esta, em parte, a nossa dificuldade? Não estarão os nossos métodos de Evangelização desadequados e, assim, incapazes de falar à vida dos nossos contemporâneos?
No mínimo, julgo que esta é uma reflexão que cada vez mais se nos impõe!
Para sermos fiéis ao Senhor da Messe e aos homens, a quem nos envia!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Estar com as pessoas!

Ontem, após ter celebrado uma Eucaristia com vários baptismos, necessitei de regressar à Igreja para recolher uma ficha que necessitava para a Missa seguinte. Entretanto, os pais de uma das crianças baptizadas pediam-me que tirasse uma fotografia com eles. Respondi-lhes de imediato que tinha muita pressa, pois estava já atrasado para a Missa seguinte. Mas acedi e fiz a fotografia com eles. Enquanto me dirigia para a outra paróquia pensava nisto mesmo: quantas vezes andamos tão absorvidos com a multiplicidade de celebrações, de compromissos que pressionam o relógio, e não temos tempo para as pessoas. Entretanto, consciencializava o pedido daquele jovem casal, tão simpático, e de como pode ser importante para eles a presença do seu pároco e um simples registo de um momento tão significativo nas suas vidas - o baptismo do seu primeiro filho. Ainda bem que acedi, que abracei aqueles pais e que aquele registo se poderá manter.
De facto, parece que se inverteu a vocação presbiteral: somos cada vez mais solicitados para a prática sacramental e temos cada vez menos tempo para as pessoas. E estas é que deveriam ocupar o primeiro lugar na nossa acção. Relembro a atitude do próprio Jesus de Nazaré, que acolhia, escutava, partilhava a mesma mesa, perdoava, olhava, abraçava... E nós? Que fazemos do nosso ministério? Estamos verdadeiramente ao lado das pessoas, ou actuamos para as pessoas? Serviu-me de exemplo aquele pequeno gesto: as pessoas necessitam de nós e nós das pessoas. Se nos limitarmos a fazer coisas tudo será muito mais vazio - humanamente, psicológicamente, afectivamente e espiritualmente!
Que Deus nos dê tempo para dispensarmos às pessoas a quem somos enviados, estendendo-lhes as nossas mãos e sabendo receber as suas!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Saber valorizar-se!

Deixo-vos este pensamento que acabo de ler:
«O importante na vida
é aprender a arte de se valorizar.
Não se consegue valorizar os outros
sem primeiro dar valor a si próprio;
não se consegue confiar nos outros
sem primeiro se crer em si mesmo.
Não se tem condições de cativar alguém,
se primeiro não houver amor próprio.
É preciso amar-se para viver em paz,
com a vida e com os outros.»

In Tarcila Tommasi, Mensagens de Sabedoria, Ed. Paulinas, p. 27.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Publicação dos Livros Litúrgicos segundo o rito de São Pio V.

Depois da notícia anterior, esta é para mim menos agradável, embora seja consequência do que já sabemos. Enfim.... não sei se é este o caminho (e nem me peçam para acreditar, neste caso, na infalibilidade do Papa, pese embora este assunto não ser dogma de fé!). É, naturalmente, uma consequência do que já considerámos atrás! Que Deus nos ilumine!

Nota: Ressalvo a beleza do Missal e da notação gregoriana, que muito aprecio. Embora em contextos específicos!

A aplicação prática do Motu Proprio "Summorum Pontificum", de Bento XVI, implica que os quatro livros litúrgicos necessários para as celebrações litúrgicas na forma anterior ao Concílio sejam reimpressos.Uma nota explicativa da sala de imprensa da Santa Sé sobre este documento do Papa sublinha que os livros vão contar com novas impressões, a cargo de casas especializadas neste tipo de trabalho, com a "recognitio" da comissão pontifícia competente.A última versão do Missale Romanum, anterior ao Concílio, que foi publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e utilizada durante o Concílio, poderá ser usada como forma extraordinária da celebração litúrgica, o mesmo se aplicando ao Rituale Romanum (Ritual Romano, para os Sacramentos do Baptismo, Matrimónio, Penitência e Unção dos Doentes), o Pontificale Romanum (Pontifical Romano, para a Confirmação e a Ordem), e o Breviarum Romanum (Breviário), para os padres que assim desejarem recitar a Liturgia das Horas.O Rito de São Pio V, que a Igreja Católica usava até à reforma litúrgica de 1970 (com algumas modificações, a últimas das quais datada de 23 de Junho de 1962) foi substituído pela Liturgia do "Novus Ordo" (Novo Ordinário) aprovada como resultado da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.Com o novo documento, Bento XVI estende a toda a Igreja de Rito Latino a possibilidade de celebrar a Missa e os Sacramentos segundo livros litúrgicos promulgados antes do Concílio.Esta aprovação universal significa que a Missa do antigo Rito poderá ser celebrada livremente em todo mundo, pelos sacerdotes que assim o desejarem, sem necessidade de autorização hierárquica (licença ou indulto) de um Bispo.Os livros litúrgicos redigidos e promulgados após o Concílio continuarão, contudo, a constituir a forma ordinária e habitual do Rito Romano.A propósito do Missal de 1962, em latim, recorda-se que se trata de um Missal "plenário", "integral", que contém também as leituras das celebrações. Prevê uma só Oração Eucarística (o Cânone Romano, I Oração Eucarística do Missal conciliar).Boa parte das orações (mesmo da Oração Eucarística) são recitadas pelo celebrante em voz baixa. No final da Missa, recita-se o prólogo do Evangelho segundo S. João.Este Missal de 1962 não prevê a concelebração. Nada diz sobre a orientação do altar e a posição do celebrante, voltado ou não para a assembleia.
Notícia da Agência Ecclesia de 02/08/07

Nova divisão territorial na Diocese de Portalegre - Castelo Branco

"D. José Francisco Sanches Alves, Bispo de Portalegre-Castelo Branco, publicou um decreto em que apresenta a Diocese dividida em apenas 5 Arciprestados, em vez dos 14 que têm vigorado até agora.O prelado fundamenta a nova divisão nas seguintes razões: "É tradição da Igreja agrupar as paróquias com características comuns e proximidade geográfica em Arciprestados, com o duplo objectivo de optimizar o trabalho pastoral em cada zona e de facilitar os encontros periódicos dos clérigos, destinados à formação permanente e à programação de inter-ajuda pastoral".O número de Arciprestados de cada Diocese varia ao longo do tempo, conforme as conveniências pastorais de cada época. Segundo D. José Alves, na Diocese de Portalegre-Castelo Branco "alteração dos condicionalismos sociais e pastorais, ocorrida nos últimos tempos, aconselha a que se proceda a uma reestruturação dos Arciprestados, reduzindo o seu número e alterando a sua composição".Tendo em conta "a progressiva redução do número de sacerdotes diocesanos e a diminuição e envelhecimento das populações das paróquias rurais" e verificando, por outro lado, que nos últimos anos melhorou significativamente a rede viária e a facilidade de deslocação de umas paróquias para as outras, procedeu-se então à nova organização dos Arciprestados".

Esta notícia foi retirada da informação da Agência Ecclesia. Aqui está o dinamismo de um Bispo que é capaz de adequar as circunscrições territoriais aos novos contextos pastorais, sociais, geográficos e até de novas possibilidades de comunicação. Tudo numa perspectiva de optimizar o serviço às comunidades, agilizando o serviço pastoral. É disto que necessitamos, de facto! De quem tome decisões fundamentadas e procurando adequar as realidades aos novos contextos, de modo a que a Igreja continue a exercer a sua Missão de forma mais capaz!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Partidos Políticos!

É curioso o facto de a história nunca se repetir, mas de assumir expressões semelhantes, como se fosse marcada por uma dinâmica de espiral – em pontos diferentes, realidades semelhantes. Isto vem a propósito dos partidos políticos. Surgidos na segunda metade do século XIX, com o partido Regenerador e o partido Histórico, que havia de dar lugar, na década de 70, ao partido Progressista, logo acompanhados pelo Partido Republicano e do Socialista, definiam-se como “organização política que procura pôr em prática um conjunto de princípios ideológicos, através da confiança e apoio[1] dos cidadãos, manifestados em eleições”[2].
A verdade é que, na conjuntura da época, marcada essencialmente por um profundo elitismo e por um forte analfabetismo das populações, os partidos se resumiam a uma participação de algumas elites citadinas e, quando muito, a uma ou outra elite rural.
Os tempos mudaram: as nossas populações não são já – felizmente – analfabetas; o sentido de participação foi-se conquistando, consolidando-se o verdadeiro conceito de democracia; algumas elites foram-se diluindo (as sociais, de nome, de bom nascimento, mas não as de interesses económicos e, sobretudo, as oligarquias). Crescemos, indiscutivelmente, com o 25 de Abril (quando eu ainda era criança) para um novo sentido de participação. E quanto as memórias me permitem, essa participação foi muito intensa, efervescente, de confronto de ideias e de procura de novas soluções face a um passado recente ainda muito presente. Importava mobilizar toda a gente para uma nova configuração social, modelando o país no sentido de saber responder a novos desafios.
Volvidos pouco mais de trinta anos, todavia, essa mobilização começa a definhar. Os mais velhos manifestam-se ou desencantados, ou desmobilizados, agastados com propostas que não respondem senão aos interesses de novas elites que, entretanto, se foram formando, geradas no interior dos aparelhos partidários. Os mais novos, por seu turno, distanciam-se cada vez mais da política, encontrando-se hoje cada vez mais jovens apartidários e descomprometidos face ao exercício do direito de voto. Para muitos, votar é algo sem interesse, incapaz de os mobilizar.
Esta dupla situação vai-se agravando, conduzindo cada vez mais a um esvaziamento do conceito de partido político. Cada vez menos eles são motivo de confiança e de apoio dos cidadãos. Cada vez mais perdem as suas bases populares e se tornam, num novo contexto social, expressão dessas novas elites.
É neste sentido que a história parece conduzir-nos a um ponto comum: a luta entre pequenos grupos partidários, sem diferenças substanciais entre si, almejando apenas o exercício do poder. E o povo, essa base da democracia, está distante, porque desconfia, é distanciado, se desmotiva e deixa de participar.
Durante muito tempo, na segunda metade do século XIX, o poder foi transitando entre Regeneradores e Progressistas (inicialmente Históricos, como referi), em governos que se sucediam, sem grandes novidades para o desígnio nacional (pese embora o impulso logo inicial de Fontes Pereira de Melo; ainda que este tivesse de apelar à banca estrangeira devido à imobilidade dos potenciais investidores nacionais).
Portugal parece, hoje, ter regressado às décadas de 70 e 80 do século XIX. Particularmente à de 80, já que lhe falta o dinamismo de novas sensibilidades que marcaram o pensamento político português da década de 70.
Os maiores partidos políticos portugueses de hoje (com destaque para o PS e o PSD) parecem assemelhar-se aos piores momentos dos partidos Regenerador e Progressista. Ideologicamente próximos um do outro, parecem mais interessados numa luta de poder (interno e nacional) do que assumir verdadeiros desígnios nacionais.
O povo, repito-o, é cada vez mais uma “massa” desconfiada e desinteressada. Veja-se a tendência da abstenção nos actos eleitorais; vejam-se os comentários públicos, que nos chegam pelos meios de comunicação; vejam-se os índices de participação alargada nos aparelhos partidários.
Os partidos políticos são hoje, como ontem, o feudo de alguns, no sentido de salvaguardarem os seus interesses.
Não gostaria de terminar com notas negativas. Neste sentido, direi que, mesmo no meio de muitas incongruências ideológicas e sociais, o governo se vai esforçando por responder ao país real. Não sei se consegue, mas nota-se algum esforço.
Por outro lado, surgem cada vez mais movimentos de cidadãos e de independentes (mesmo que provenham de forças partidárias), capazes de refrescar o “pântano”[3] político nacional. E esta pode ser uma esperança, levando a cabo, a prazo, o desígnio de galvanizar de novo as bases da democracia, de modo a que se restitua o verdadeiro exercício do poder ao povo e não se mascare essa democracia com uma aparência que a poucos continua a enganar.

[1] O itálico é nosso.
[2] António Domingues de Almeida et Aliud, Dicionário Breve de História, Lisboa, Editorial Presença, 1996, p. 153.
[3] A expressão é de um notável político português – António Guterres – quando se demitiu do governo e deixou de exercer as funções de primeiro-ministro. Daí para cá, parece-me, as areias mudaram-se na voragem das águas, mas o pântano ainda não se consolidou.
Carlos Alberto Godinho