segunda-feira, 17 de setembro de 2007

As dúvidas de Madre Teresa!

Quando lia, há dias, um artigo da revista Visão sobre as dúvidas de Fé de Madre Teresa de Calcutá, vinha-me à memória uma imagem que as Irmãs Carmelitas expunham num quadro, para dar a conhecer a sua congregação, no contexto de uma semana das vocações. Apresentavam-nos elas a imagem da montanha e a dificuldade em ver claro quando se está imerso nela. E recordava a minha primeira experiência de contacto com a Serra da Estrela. Quando, depois de Nelas, nos aproximamos da serra, ela aparece-nos com toda a sua majestade no horizonte e nós temos uma imagem clara da sua dimensão; ao contrário, quando começamos a subi-la, tudo parece bem mais difícil e aquela precisão de contornos deixa de se ver. A subida da serra torna-se, aliás, muito mais difícil do que poderíamos imaginar. Mas há aqui uma diferença profunda: à distância ainda não estamos na serra, e ela é clara para nós; quando imersos nela, deixamos de ver tão claramente, mas estamos no seu seio, envolvidos pela sua grandiosidade. Ora, esta bem pode ser uma imagem que nos permite compreender os meandros da fé: à distância, tudo parece claro, mas é ainda realidade externa; quando imersos na sua vivência, com um compromisso total da vida, a clareza de contornos parece perder-se, mas estamos lá, tocados pela realidade que nos envolve em todos os sentidos. O cume parece mais distante, mas não o é, pois que não vendo claramente estamos mais próximos dele do que aqueles que o olham à distância. Esta imagem da montanha ajudou-me sempre a compreender este mistério. Não devemos preocupar-nos em ter uma visão total da realidade, mas sim em viver imersos na realidade! Este sim é o caminho da fé, como desafio à nossa existência!
Esta mesma imagem permite-me compreender as inquietações pelas quais passou Madre Teresa de Calcutá: totalmente imersa em Deus, não via claramente, pois o Mistério era tão denso à sua volta que reconhecê-lo se tornava mais difícil. Mas, na verdade, estava no seu seio, muito mais do que nós, que, com ideias claras, ainda estamos longe do cume e a necessitar, como ela, de nos lançarmos na sua conquista!

sábado, 15 de setembro de 2007

Dos «abusos litúrgicos» a São Pio V: o fim de um ciclo

Pesem embora razões válidas para a defesa da dignidade das celebrações litúrgicas, afrontando os exageros que têm sido cometidos, continuo a afirmar que o regresso à Missa de São Pio V não pode ser a resposta a dar pela Igreja. A dignificação da Liturgia tem de fazer-se na linha do Vaticano II, até porque existe uma unidade intrinseca entre a Constituição Sacrossantum Concilium e a Lumen Gentium. Há aqui, reafirmo-o, uma questão de Eclesiologia.
E já agora, de pastoral: numa diocese como a nossa - Coimbra -, onde faltam os padres e recorremos cada vez mais aos leigos para celebrações da Palavra, fará sentido recear o protagonismo que estes têm assumido nas celebrações litúrgicas? Pelo amor de Deus, parece que falamos duas linguagens ao mesmo tempo.
Preocupa-me, de sobremaneira, é o facto de estas opções assentarem na autoridade sinodal. Mas, já agora: quantos Bispos se revêm nesta orientação? Serão em maioria, capaz de justificar estas opções? Duvido. Ou, pelo menos, quero duvidar!
Vejam o artigo que recolhi da Agência Ecclesia:

O Motu Proprio de Bento XVI sobre a Liturgia Romana anterior à reforma de 1970, "Summorum Pontificum", que entra em vigor esta Sexta-feira não pode deixar de estar ligado a um ciclo de intervenções pontifícias e do Vaticano a respeito da questão dos "abusos litúrgicos". O próprio Papa escreve, na carta aos Bispos de todo o mundo, que em muitos lugares, a "criatividade" levou frequentemente "a deformações da Liturgia no limite do suportável". Este ciclo iniciou-se no tempo de João Paulo II, com a publicação da encíclica "Ecclesia de Eucharistia" (2003), cujo capítulo V é dedicado ao "decoro da celebração eucarística" e da Carta Apostólica "Mane Nobiscum Domine" (2004). Em 2004, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou a Instrução "Redemptionis Sacramentum" (O Sacramento da Redenção), "Sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia". Entre os abusos que a Santa Sé pretendia evitar encontravam-se o excesso de protagonismo dos leigos durante as celebrações, a partilha da comunhão com não-católicos, a substituição das leituras bíblicas na Missa por outros textos, o hábito de os sacerdotes partirem a hóstia no momento da consagração, a exposição do Santíssimo em condições inadequadas ou a introdução de elementos não-cristãos na Liturgia Católica, entre outros. "Não se podem deixar passar em silêncio os abusos, da máxima gravidade, contra a natureza da Liturgia e dos Sacramentos, bem como contra a tradição e a autoridade da Igreja que subsistem em diversos âmbitos eclesiais nos nossos dias e comprometem a celebração litúrgica" é a tese central do documento.
Sínodo
O debate sobre os abusos litúrgicos no Sínodo dos Bispos de 2005 constituiu a terceira parte deste processo. A violação das normas litúrgicas, praticadas por sacerdotes ou leigos, fez parte, sistematicamente, do debate dos padres sinodais. Alguns Bispos intervieram para protestar contra homilias longas, contra a distribuição da comunhão na mão dos fiéis e contra a presença de muitos concelebrantes para uma única liturgia. Houve queixas também sobre a realização de missas sem o povo de Deus, e sobre a falta de padres em paróquias com um grande número de fiéis. Algumas práticas pré-conciliares seriam recebidas de volta com agrado, de acordo com alguns padres sinodais: um Bispo da Bielorússia pediu que o sacrário voltasse a ter o "lugar central" nas igrejas e um prelado do Cazaquistão gostaria que "a Santa Sé estabelecesse uma norma universal segundo a qual o modo oficial de se receber a Comunhão fosse na boca e de joelhos; a comunhão com a mão deveria estar reservada ao clero". Para estes e outros participantes no Sínodo, as "inovações litúrgicas" no mundo ocidental obscureceram de certo modo o aspecto da centralidade e o carácter sagrado da Eucaristia. Bento XVI recolheu todas estas preocuapações na Exortação Apostólica Pós-Sinodal "Sacramentum Caritatis" (O Sacramento da Caridade), de 2007, onde põe em evidência também a bondade da reforma litúrgica promovida pelo Concilio Vaticano II. Algumas dificuldades e abusos "não podem ofuscar a excelência e a validade da renovação litúrgica que contém riquezas ainda não plenamente exploradas", escreveu. Bento XVI defende que "a simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas".
Papa fiel a Ratzinger
A decisão de facilitar a celebração no Rito de São Pio V já era algo que o Papa defendia enquanto Cardeal. A 5 de Setembro 2003, numa entrevista concedida ao Canal Católico EWTN, Joseph Ratzinger deixava claro que a "antiga Liturgia nunca foi proibida". O então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé mostrava-se agastado com a questão dos "abusos" a que se assistiam na Liturgia. Nessa mesma entrevista, não escondia a sua paixão pelo latim, indicando que a presença desta língua "ajudaria a dar uma dimensão universal" às celebrações.O uso das línguas nacionais foi classificado como "uma solução", ressaltando que "um pouco de latim poderia ajudar a ter a experiência de universalidade". Na sua única Exortação Apostólica até ao momento, o Papa valoriza a celebração em latim e o canto gregoriano. Para isso, recomenda a formação necessária aos sacerdotes e também aos leigos.Joseph Ratzinger sempre ligou a crise eclesial ao "esboroamento da liturgia", concebida "etsi Deus não daretur": como se nela não importasse mais se Deus existe. Por isso, já enquanto Cardeal, defendia um novo movimento litúrgico, que ressuscitasse a "verdadeira herança" do Concílio Vaticano II.




terça-feira, 11 de setembro de 2007

Pôr do Sol!

Com o início do novo ano lectivo (leccionação e investigação), a acrescer ao trabalho paroquial (com início de um novo ano pastoral),o tempo tem sido pouco para escrever neste espaço. Todavia, gostaria de partilhar convosco algumas imagens das minhas férias: o pôr do sol! Este assume para mim uma "mística" especial - as significações podem ser muitas: o ocaso, a serenidade, a paz, a beleza, o recolhimento, a esperança.... Cada um descubra um significado e, se quiser, pode partilhá-lo aqui. Essencialmente, para mim, o pôr do sol significa tranquilidade, beleza e paz, ao mesmo tempo que uma esperança de retorno.

Nota: As imagens foram recolhidas por mim na Zambujeira do Mar, este verão (uma ou outra de menor qualidade! Paciência!)








Um abraço, ou beijinho, a todos (as) os que por aqui passarem.