JANEIRO
No
permanente ciclo das nossas vidas, entrámos num novo ano – um tempo propício à
reflexão sobre o sentido da história e da nossa própria existência; bem como um
tempo oportuno para renovar compromissos pessoais e de empenhamento comunitário.
A experiência do reinício comporta, quase sempre, esta vontade de recomeçar. O
reinício é sempre uma oportunidade para aprofundarmos a nossa maneira de ser e
de estar, num dinamismo contínuo de aperfeiçoamento – na relação intrapessoal,
na relação interpessoal e na relação com o mundo.
Mas
confrontamo-nos, não raro, com três atitudes possíveis: a inércia, como
predisposição mais comum, deixando que a vida prossiga, com os mesmos hábitos e
costumes, mesmo quando estes são penosos para a vida pessoal ou para a relação
comunitária; o desejo do passado, do que já se viveu e conhece, como que numa
espécie de nostalgia da vida já vivida; e o investimento e determinação em
viver um tempo novo, sem medos, nem receios, mesmo que tendo de assumir limites
humanos sérios, num verdadeiro compromisso que se inicia com a atitude pessoal
de autodeterminação.
É
interessante que o significado do mês de Janeiro nos reporta precisamente para
estas duas últimas atitudes. O nome janeiro provém, como alguns outros do
calendário anual, da mitologia romana, recordando-nos o deus Jano (Janus, em latim). Ora, o deus Jano é
precisamente o deus da mudança, o deus dos começos e dos fins. Daí ser
representado com duas caras – uma virada para o passado e a outra virada para o
futuro. Com efeito, este deus associava-se, frequentemente, a direções opostas,
como a guerra e a paz, ou o passado e o futuro.
Situados neste mês de Janeiro, e tomando a simbologia da mitologia
romana, somos colocados diante desta dupla opção – viver do passado ou
construir o futuro. Isto é, olhar para trás, ou ser capaz de me determinar a
olhar para a frente, para o tempo novo que surge. Naturalmente, a vida não se
faz com sobressaltos – e nenhum de nós os deseja! -, mas é um crescimento
contínuo – amadurecimento físico, psíquico, emocional, social, a que chamamos processo contínuo de maturação
-, que se processa sempre no presente. Sem nos determos excessivamente em
conceitos filosóficos, o que existe é apenas o presente, pois o passado já não
é e futuro sê-lo-á. Todavia, alicerçados no passado, esse lastro fundamental
que dá profundidade à vida, somos convidados, no início de cada ciclo anual, a
viver o presente, com a perspetiva de que o futuro seja promissor. É isto que
nos desejamos, uns aos outros, nos votos de bom ano.
Mesmo que as nossas vidas estejam condicionadas por múltiplos fatores
que são alheios à nossa vontade, mas que são próprios da nossa humanidade
frágil, a coragem de viver o presente, rompendo com cadeias do passado, que não
nos deixam ser livres e felizes, será, por certo, a forma mais sábia e
inteligente de viver a vida. A vida humana não é algo que tenhamos de arrastar,
mas sim um dom que temos de viver, esse dom primeiro que nos foi confiado. E há
vidas arrastadas! O compromisso, para todos nós, ao iniciarmos um novo ano tem
de ser mesmo este: viver a autodeterminação na vida pessoal, interpessoal e
comunitária! Assumindo atitudes que constituam fonte de felicidade para cada um
de nós e para os demais. Se limitados, nas nossas condições de vida, por
realidades que nos tolhem, assumamos, então, a resiliência como atitude,
sabendo que seremos sempre mais fortes que todos os nossos limites! Para todos,
seja qual for a condição, mesmo que distinta à partida, existe sempre uma
oportunidade de ser feliz!
É
com estas reflexões que desejo a todos os ouvintes da RCP/fm um excelente 2018!
Um ano verdadeiramente novo na capacidade de recriarmos as nossas vidas e as
nossas relações! Tornando-as mais positivas e felizes!
Pampilhosa, 04 de Janeiro de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(69ª Reflexão)