sábado, 4 de agosto de 2018

Janeiro


JANEIRO

   No permanente ciclo das nossas vidas, entrámos num novo ano – um tempo propício à reflexão sobre o sentido da história e da nossa própria existência; bem como um tempo oportuno para renovar compromissos pessoais e de empenhamento comunitário. A experiência do reinício comporta, quase sempre, esta vontade de recomeçar. O reinício é sempre uma oportunidade para aprofundarmos a nossa maneira de ser e de estar, num dinamismo contínuo de aperfeiçoamento – na relação intrapessoal, na relação interpessoal e na relação com o mundo.

   Mas confrontamo-nos, não raro, com três atitudes possíveis: a inércia, como predisposição mais comum, deixando que a vida prossiga, com os mesmos hábitos e costumes, mesmo quando estes são penosos para a vida pessoal ou para a relação comunitária; o desejo do passado, do que já se viveu e conhece, como que numa espécie de nostalgia da vida já vivida; e o investimento e determinação em viver um tempo novo, sem medos, nem receios, mesmo que tendo de assumir limites humanos sérios, num verdadeiro compromisso que se inicia com a atitude pessoal de autodeterminação.

   É interessante que o significado do mês de Janeiro nos reporta precisamente para estas duas últimas atitudes. O nome janeiro provém, como alguns outros do calendário anual, da mitologia romana, recordando-nos o deus Jano (Janus, em latim). Ora, o deus Jano é precisamente o deus da mudança, o deus dos começos e dos fins. Daí ser representado com duas caras – uma virada para o passado e a outra virada para o futuro. Com efeito, este deus associava-se, frequentemente, a direções opostas, como a guerra e a paz, ou o passado e o futuro.

   Situados neste mês de Janeiro, e tomando a simbologia da mitologia romana, somos colocados diante desta dupla opção – viver do passado ou construir o futuro. Isto é, olhar para trás, ou ser capaz de me determinar a olhar para a frente, para o tempo novo que surge. Naturalmente, a vida não se faz com sobressaltos – e nenhum de nós os deseja! -, mas é um crescimento contínuo – amadurecimento físico, psíquico, emocional, social,  a que chamamos processo contínuo de maturação -, que se processa sempre no presente. Sem nos determos excessivamente em conceitos filosóficos, o que existe é apenas o presente, pois o passado já não é e futuro sê-lo-á. Todavia, alicerçados no passado, esse lastro fundamental que dá profundidade à vida, somos convidados, no início de cada ciclo anual, a viver o presente, com a perspetiva de que o futuro seja promissor. É isto que nos desejamos, uns aos outros, nos votos de bom ano.

   Mesmo que as nossas vidas estejam condicionadas por múltiplos fatores que são alheios à nossa vontade, mas que são próprios da nossa humanidade frágil, a coragem de viver o presente, rompendo com cadeias do passado, que não nos deixam ser livres e felizes, será, por certo, a forma mais sábia e inteligente de viver a vida. A vida humana não é algo que tenhamos de arrastar, mas sim um dom que temos de viver, esse dom primeiro que nos foi confiado. E há vidas arrastadas! O compromisso, para todos nós, ao iniciarmos um novo ano tem de ser mesmo este: viver a autodeterminação na vida pessoal, interpessoal e comunitária! Assumindo atitudes que constituam fonte de felicidade para cada um de nós e para os demais. Se limitados, nas nossas condições de vida, por realidades que nos tolhem, assumamos, então, a resiliência como atitude, sabendo que seremos sempre mais fortes que todos os nossos limites! Para todos, seja qual for a condição, mesmo que distinta à partida, existe sempre uma oportunidade de ser feliz!

   É com estas reflexões que desejo a todos os ouvintes da RCP/fm um excelente 2018! Um ano verdadeiramente novo na capacidade de recriarmos as nossas vidas e as nossas relações! Tornando-as mais positivas e felizes!


Pampilhosa, 04 de Janeiro de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(69ª Reflexão)