sábado, 4 de agosto de 2018

Médio Oriente


MÉDIO ORIENTE

   O conflito no Médio Oriente tem sido uma chaga permanente, a criar instabilidade política e social na região, mas também no mundo inteiro. Refiro-me não aos diversos conflitos que assolam presentemente aquele espaço geográfico, mas especificamente às relações de tensão permanente entre judeus e palestinianos.

   Sem nos determos excessivamente sobre a história deste conflito e a sua génese, recordemos apenas que após a Segunda Guerra Mundial, depois de muitos judeus se terem refugiado já em Israel, a Organização das Nações Unidas (ONU) sentiu a necessidade de propor uma solução de consenso entre judeus e palestinianos, no sentido de partilharem o território, com a constituição do estado de Israel, que contava já com 650 mil habitantes, e um Estado Árabe-Palestiniano, que contava com mais do dobro dessa população israelita. Com o processo negocial a decorrer, David Ben Gurion, a 14 de Maio de 1948, lê a declaração de independência de Israel, logo reconhecida pelos Estados Unidos da América e pela União Soviética, tornando-se Ben Gurion o primeiro chefe de governo do novel estado de Israel. Acontece, porém, que logo no dia a seguir à declaração de independência, os árabes uniram-se para atacar Israel. Como este saiu vitorioso da luta contra os árabes, conquistaram logo 78% do antigo território palestiniano, mais 22% do que se previa com o acordo da ONU. É certo que em 1949 foi firmado um acordo de paz entre Árabes e o estado de Israel; mas a verdade é que decorrida toda a segunda metade do séc. XX e já parte do séc. XXI, o Estado da Palestina nunca chegou realmente a ser criado e a paz nunca mais se alcançou em definitivo.

  Ora, numa perspetiva ocidental, muitos tendem a olhar com mais simpatia para Israel e, porventura, com menos simpatia para os Palestinianos. Sendo esta, de resto, uma imagem frequentemente transmitida por vários opinion makers, de alguns canais de televisão. Contudo, quem experimenta a realidade in loco apercebe-se de uma relação injusta entre dois povos, que tinham direito a viver uma relação pacífica. Por um lado, os palestinianos, com os seus territórios dispersos no seio do estado de Israel, veem-se não só profundamente limitados no acesso ao território israelita, como ainda lhes é vedada a circulação de acesso aos demais territórios da palestina, tendo, mesmo, num dos casos que pude conhecer, de transitar pela Jordânia para aceder a estes territórios. Por outro lado, na sequência da Guerra dos Seis Dias, ou terceira Guerra Israelo-Árabe, travada entre 05 e 10 de Junho de 1967, Israel ultrapassou a denominada «linha verde» (que delimitava os territórios de Israel e da Palestina), construindo colunatos em território palestiniano, exercendo, assim, um domínio injusto sobre aquele território e asfixiando, cada vez mais, os seus habitantes. Extensão e domínio que nunca mais pararam, tornando-se uma fonte permanente de opressão dos palestinianos.

   A estas razões políticas, juntam-se as de natureza religiosa, particularmente no que se refere a Jerusalém – a cidade santa para Judeus, Cristãos e Árabes.

   Ora, é neste quadro tão complexo, quanto injusto, pesem embora todas as razões históricas e religiosas reclamadas pelas partes, que o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, numa ação completamente irracional, que se inscreve no seu espírito belicoso e irresponsável, vem agudizar, ainda mais, o conflito no Médio Oriente, com a declaração da transferência da embaixada dos Estados Unidos da América de Telaviv para Jerusalém; o que significa, na prática, o reconhecimento político de que Jerusalém é a capital do Estado de Israel. Sendo uma afronta aos Palestinianos, provocou imediatamente novos conflitos, com centenas de feridos e alguns mortos e renovou a instabilidade que se refletirá em todo o mundo ocidental. Numa palavra: acicatou ainda mais os ódios contra os Estados Unidos e seus aliados, muitas vezes canalizados em atos terroristas que, cada vez mais, nos colocam sob a sensação de instabilidade global. Ato verdadeiramente irresponsável.

   Na verdade, como defendeu a ONU, e como defendem alguns estadistas, a questão da Palestina só se resolve com a definição de dois estados e seus legítimos territórios: o Estado de Israel e o Estado da Palestina. Por seu turno, como bem defendeu o Papa João Paulo II, e bem defende o Papa Francisco, atualmente, Jerusalém, pela sua natureza, necessita de um estatuto especial, que contemple a partilha dos dois povos e dos três credos.

   Podemos concluir que sem justiça e com opressão nunca se alcançará a paz desejada. A Palestina é um exemplo singular disto mesmo! Um exemplo que vale para muitos outros âmbitos das relações internacionais, locais e até pessoais: só com justiça e respeito pela dignidade dos demais a paz será possível.


Pampilhosa, 14 de Dezembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(67ª Reflexão)