INTEGRAÇÃO
SOCIAL
Espero, com esta crónica, não cometer alguma inconfidência, ao
referir-me a uma conversa particular, entre pessoas responsáveis pela vida da
comunidade, cada uma segundo a sua natureza e funções. No passado mês de
Dezembro, em conversa pessoal e informal com a Engenheira Arminda Martins,
vereadora da Câmara Municipal da Mealhada, no contexto do jantar de Natal do
Agrupamento de Escuteiros da Pampilhosa, dialogávamos sobre a realidade social
do município e, muito particularmente, sobre os distúrbios sociais que, no
final do ano, assolaram um pouco todo o concelho. Neste sentido, afirmava de
forma clarividente a senhora Vereadora: «Mas as comunidades fazem ainda muito
pouco para integrar aqueles que vivem na marginalidade». Se é certo que se as
situações de marginalidade, que conduzem a distúrbios na comunidade, como
furtos e destruição, necessitam de uma intervenção decidida das autoridades
competentes; não é menos verdade que estas situações só se resolvem, na raiz,
quando nos empenharmos em procurar recuperar quem vive na marginalidade, na sua
maioria jovens ou jovens adultos. Bem sei que não é fácil, mesmo até por
experiência própria. Mas há que assumir este desafio: procurar integrar quem
vive na marginalidade. Empenhando, para tanto, todas as forças sociais, capazes
de contribuir para este desiderato.
Na
sequência desta conversa, veio-me à memória a Fazenda da Esperança, que conheci no Brasil, onde se recuperam
jovens toxicodependentes. E lembrava-me, então, da expressão que partilhei
aqui, de que «só o amor cura». Por mais idílico que este princípio possa
parecer, na verdade só o amor cura, ao passo que a marginalização gera
marginalidade. Em espirais de destruição ou de recuperação.
Naquele contexto de Natal lia, ainda, a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, que se assinalou no dia 1 de Janeiro deste ano.
Muito embora o Papa se referisse, nesta sua mensagem, à problemática dos
refugiados, indicava quatro verbos que – parece-me! – podem ter uma extensão
maior, na relação com várias problemáticas humanas. Afirmava o Papa que em
relação aos refugiados devemos saber «acolher», «proteger», «promover» e
integrar».
Ora,
nas situações de marginalidade, que temos estado a considerar, aplicam-se
claramente três destes verbos: «acolher», «promover» e «integrar».
Efetivamente, o acolhimento é a capacidade de aceitação do outro e das suas
condições, não para nos resignarmos a elas, mas para, a partir daí, podermos
propor outra forma de ser e de estar. Este acolhimento pró-ativo visa, então, a
promoção daqueles que somos capazes de acolher. E feita esta sua promoção,
muitas vezes exigente e requerendo esforços concertados, podemos experimentar a
satisfação por reintegrar quem se pôs à margem da comunidade, vivendo em
conflito com ela.
Estes três verbos cruzaram-se com aquela conversa, reforçando em mim a
certeza de que eles se constituem como um verdadeiro caminho programático na
abordagem de alguns dos nossos problemas sociais, também aqui no concelho da
Mealhada.
Para
mim são um forte incentivo e desafio! Quem dera o possam ser para muitos mais,
para que, na verdade, as nossas comunidades cuidem melhor de quem vive em
marginalidade e sejam capazes de viver, na relação com estes, num permanente
processo de acolhimento e reintegração.
Pampilhosa, 11 de Janeiro de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(70ª Reflexão)