sábado, 4 de agosto de 2018


INTEGRAÇÃO SOCIAL

   Espero, com esta crónica, não cometer alguma inconfidência, ao referir-me a uma conversa particular, entre pessoas responsáveis pela vida da comunidade, cada uma segundo a sua natureza e funções. No passado mês de Dezembro, em conversa pessoal e informal com a Engenheira Arminda Martins, vereadora da Câmara Municipal da Mealhada, no contexto do jantar de Natal do Agrupamento de Escuteiros da Pampilhosa, dialogávamos sobre a realidade social do município e, muito particularmente, sobre os distúrbios sociais que, no final do ano, assolaram um pouco todo o concelho. Neste sentido, afirmava de forma clarividente a senhora Vereadora: «Mas as comunidades fazem ainda muito pouco para integrar aqueles que vivem na marginalidade». Se é certo que se as situações de marginalidade, que conduzem a distúrbios na comunidade, como furtos e destruição, necessitam de uma intervenção decidida das autoridades competentes; não é menos verdade que estas situações só se resolvem, na raiz, quando nos empenharmos em procurar recuperar quem vive na marginalidade, na sua maioria jovens ou jovens adultos. Bem sei que não é fácil, mesmo até por experiência própria. Mas há que assumir este desafio: procurar integrar quem vive na marginalidade. Empenhando, para tanto, todas as forças sociais, capazes de contribuir para este desiderato.

   Na sequência desta conversa, veio-me à memória a Fazenda da Esperança, que conheci no Brasil, onde se recuperam jovens toxicodependentes. E lembrava-me, então, da expressão que partilhei aqui, de que «só o amor cura». Por mais idílico que este princípio possa parecer, na verdade só o amor cura, ao passo que a marginalização gera marginalidade. Em espirais de destruição ou de recuperação.

   Naquele contexto de Natal lia, ainda, a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, que se assinalou no dia 1 de Janeiro deste ano. Muito embora o Papa se referisse, nesta sua mensagem, à problemática dos refugiados, indicava quatro verbos que – parece-me! – podem ter uma extensão maior, na relação com várias problemáticas humanas. Afirmava o Papa que em relação aos refugiados devemos saber «acolher», «proteger», «promover» e integrar».

   Ora, nas situações de marginalidade, que temos estado a considerar, aplicam-se claramente três destes verbos: «acolher», «promover» e «integrar». Efetivamente, o acolhimento é a capacidade de aceitação do outro e das suas condições, não para nos resignarmos a elas, mas para, a partir daí, podermos propor outra forma de ser e de estar. Este acolhimento pró-ativo visa, então, a promoção daqueles que somos capazes de acolher. E feita esta sua promoção, muitas vezes exigente e requerendo esforços concertados, podemos experimentar a satisfação por reintegrar quem se pôs à margem da comunidade, vivendo em conflito com ela.

   Estes três verbos cruzaram-se com aquela conversa, reforçando em mim a certeza de que eles se constituem como um verdadeiro caminho programático na abordagem de alguns dos nossos problemas sociais, também aqui no concelho da Mealhada.

   Para mim são um forte incentivo e desafio! Quem dera o possam ser para muitos mais, para que, na verdade, as nossas comunidades cuidem melhor de quem vive em marginalidade e sejam capazes de viver, na relação com estes, num permanente processo de acolhimento e reintegração.

Pampilhosa, 11 de Janeiro de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(70ª Reflexão)