sábado, 4 de agosto de 2018


CORRUPÇÃO 

   A corrupção define-se, no direito, como «aliciamento de uma ou mais pessoas, geralmente através da oferta de bens ou de dinheiro, para a prática de atos ilegais, em benefício próprio ou de outrem», comumente traduzido como «suborno», e que, em sentido figurado, se entende também como «degradação de costumes» ou de «valores morais, e ainda como «perversão»[1].

   O Papa Francisco tem assumido uma autêntica «cruzada» (entenda-se o termo em sentido figurado) contra a corrupção, pois, refere: «a corrupção é a chaga da sociedade», afirmando-a como a «lei da selva» e a «fraude da democracia»[2]. Presente na política, nas empresas, nos meios de comunicação, nas Igrejas e mesmo nalguns movimentos populares, ela é mais uma doença do que um mal, afirma Francisco. O Papa define ainda a corrupção como um processo de morte que é a raiz da escravidão, do desemprego, do abandono do destino universal dos bens e da destruição da própria natureza». Afirma ele que «a ambição do poder e do ter não conhece limites»[3], fazendo com que muitos persistam nesta atitude permanente de mal. Daí que tenha proposto a todos os cristãos e homens de boa vontade, como sua intenção para este mês de Fevereiro, o «não à corrupção»; precisamente «para que aqueles que têm poder político ou espiritual não se deixem dominar pela corrupção»[4]. A este mal que grassa, de forma transversal, na sociedade, o Papa contrapõe a revalorização da honestidade, como um valor pessoal e como um requisito para o exercício das funções públicas.[5]

   Curiosamente, e sem pretendermos fazer juízo do que se encontra em processo de inquérito e de julgamento nas instâncias próprias da justiça, Portugal tem-se confrontando, por estes dias, com processos de corrupção que atingem políticos, empresários, magistrados, dirigentes desportivos, entre outros, que se interligam em rede com alguns dos nomes mais sonantes destes processos. Procedimentos jurídicos, devido à corrupção, que se associam a outros, já em curso e à espera de uma conclusão que parece tardar. Conscientes desta realidade, podemos perguntar-nos: Portugal está doente? Por mais que afirmássemos que comparativamente a outros países não chegamos aos mesmos níveis de corrupção, efetivamente Portugal está doente! O nosso país ocupa, segundo o Transparency Internacional, a 29ª posição no ranking sobre os níveis de corrupção no setor público, segundo os dados apurados para 2016.[6] Relevando esta organização não-governamental a relação entre corrupção sistémica e as desigualdades sociais.[7]

   Ora, as consequências da corrupção em Portugal são diversas: desde logo, porque evidenciadas pelas elites sociais e políticas, causam um efeito de mimetismo, com prejuízo para as finanças públicas, para o equilíbrio social e para a igualdade de oportunidades entre cidadãos; depois, a corrupção cria desconfiança e torna-se motivo para descredibilizar quem exerce funções públicas. Mas, mais grave: ela é fonte de injustiça, impede o desenvolvimento social harmónico e equitativo, pondo em causa a paz social e debilitando a própria democracia.

   Neste sentido, temos todos de caminhar para uma sociedade mais justa, assente em valores fundamentais, onde se recupere como requisito fundamental para o serviço público a verdadeira honestidade, condição de idoneidade incontornável para cuidar da res publica. E quando digo todos, refiro-me mesmo a um esforço comum! Admira-me a condescendência de alguns setores da sociedade portuguesa na aceitação em cargos públicos de pessoas que foram condenadas precisamente devido à corrupção, como se pôde verificar nas últimas eleições autárquicas. Sinal de que estamos anestesiados; ou não valorizamos suficientemente as consequências da corrupção. Necessitamos de retomar valores fundamentais para o exercício de funções públicas! A todos os níveis da administração. E um desses valores fundamentais é precisamente a reconhecida honestidade!

Pampilhosa, 08 de Fevereiro de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(74ª Reflexão)



[1] Cf. Voc. Corrupção. In Dicionário da Porto Editora [online].
[2] PAPA FRANCISCO – Discurso ao Empresários. Vaticano, 18.11.2016. Disponível em pt.radiovaticana.va [Consultado a 05.02.2018].
[3] Papa apela ao combate à corrupção. In Rádio Renascença, 01.02.2018.
[4] In Passo a Rezar com o Papa. Disponível em: passo-a-rezar.net [Consultado a 05.02.2018].
[5] Cf. Discurso aos empresários. Op. Cit.
[6] Cf. Corrupção. Portugal piora e cai para 29º lugar no ranking. In Jornal Expresso (25.01.2017), disponível em expresso.sapo.pt [Consultado a 06.02.2018].
[7] Cf. Ibidem.