EDUCAÇÃO
O Papa Francisco, na sua
audiência geral de 13 de Maio de 2015, deixou-nos três palavras fundamentais
para uma vida em família tranquila e em paz. São elas: «com licença»,
«obrigado» e «desculpa»[1]. Como refere o próprio
Papa, «trata-se de palavras muito simples», mas que «não são fáceis de pôr em
prática»[2].
Com
estas expressões, o Papa situa-nos ainda na esfera da boa educação. Refere o
Papa Francisco: «uma pessoa bem-educada pede licença, diz obrigado ou pede
desculpa quando se engana»[3].
Ora,
aquilo que pode parecer demasiado simples, quase desnecessário na sua reflexão,
evidencia-se atualmente como algo a necessitar de aprofundamento, pois são
expressões que compreendem atitudes que tendem, em muitas circunstâncias, a
desvanecer-se nas relações interpessoais. É certo que o Papa contempla a vida
familiar e algumas atitudes base para que esta se viva na tranquilidade. Mas
podemos partir daqui para uma consideração mais vasta, que atenda às nossas
relações interpessoais na família alargada – a comunidade de pertença.
Se é
certo que algumas destas atitudes de respeito e de consideração, consideradas
pelo Papa, podem ter-se desvanecido na relação social, podíamos acrescentar-lhes
outras expressões tão simples como bom dia, boa noite, ou até logo. Estas
formas de tratamento sempre fizeram parte das relações comunitárias, como
expressão básica de boa educação. Quantos de nós ouvimos dos nossos pais a
interpelação: o que é que se diz? Exatamente a reclamar um obrigado, diante de
um gesto de atenção para connosco, ou mesmo um bom dia, quando passávamos
desatentos diante dos vizinhos.
Hoje, numa sociedade que apela a uma hipervalorização do indivíduo,
esquecendo, porventura, a correta relação comunitária, também as nossas
pequenas comunidades tendem a desatender às expressões básicas de comunhão com
os demais. Eu próprio reparava, há dias, como no contexto de uma vila, com
traços próprios de uma aldeia, as pessoas se cruzavam, quantas vezes, sem nada
se dizerem umas às outras. Especialmente os mais novos, que são os que mais
tendem a isolar-se, sem esta expressão de vida comunitária, marcada por uma
simples saudação. Se calhar não tanto por culpa sua, mas sim pela formação que
lhes foi dada.
Ficamos por vezes com a sensação de que numa mesma comunidade nos
tornámos estranhos, na relação de uns com os outros.
Como
se não bastassem os meios tecnológicos, que hoje nos isolam em casa, as nossas
interações comunitárias, na rua, padecem igualmente de algumas fragilidades,
que advêm do isolamento e do individualismo. Necessitamos de retomar expressões
básicas de inter-relação, de comunicação e de educação.
Se é
certo que o conceito de educação, como os demais conceitos, é evolutivo, em
conformidade com o desenvolvimento humano e das comunidades, há valores que
este conceito engloba que jamais se poderão perder. Entendendo a educação, de
entre os seus múltiplos aspetos, como «domínio e observância das normas de
conduta socialmente aceites»[4], ou como expressão de
«cortesia», dizer «obrigado», «desculpe», «bom dia» ou «boa tarde» é algo de
elementar.
Numa
sociedade individualista não podemos perder vivências básicas de comunhão. É
que educar significa também o «processo que visa o pleno desenvolvimento
intelectual, físico e moral de um indivíduo e a sua adequada inserção na
sociedade»[5]. E não haverá, por certo,
inserção e desenvolvimento da vida comunitária sem estas atitudes básicas. Um
desafio a refazermos permanentemente as nossas relações, partindo das coisas
mais simples.
Pampilhosa, 03 de Maio de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho