sábado, 4 de agosto de 2018


EDUCAÇÃO

   O Papa Francisco, na sua audiência geral de 13 de Maio de 2015, deixou-nos três palavras fundamentais para uma vida em família tranquila e em paz. São elas: «com licença», «obrigado» e «desculpa»[1]. Como refere o próprio Papa, «trata-se de palavras muito simples», mas que «não são fáceis de pôr em prática»[2].

   Com estas expressões, o Papa situa-nos ainda na esfera da boa educação. Refere o Papa Francisco: «uma pessoa bem-educada pede licença, diz obrigado ou pede desculpa quando se engana»[3].

   Ora, aquilo que pode parecer demasiado simples, quase desnecessário na sua reflexão, evidencia-se atualmente como algo a necessitar de aprofundamento, pois são expressões que compreendem atitudes que tendem, em muitas circunstâncias, a desvanecer-se nas relações interpessoais. É certo que o Papa contempla a vida familiar e algumas atitudes base para que esta se viva na tranquilidade. Mas podemos partir daqui para uma consideração mais vasta, que atenda às nossas relações interpessoais na família alargada – a comunidade de pertença.

   Se é certo que algumas destas atitudes de respeito e de consideração, consideradas pelo Papa, podem ter-se desvanecido na relação social, podíamos acrescentar-lhes outras expressões tão simples como bom dia, boa noite, ou até logo. Estas formas de tratamento sempre fizeram parte das relações comunitárias, como expressão básica de boa educação. Quantos de nós ouvimos dos nossos pais a interpelação: o que é que se diz? Exatamente a reclamar um obrigado, diante de um gesto de atenção para connosco, ou mesmo um bom dia, quando passávamos desatentos diante dos vizinhos.

   Hoje, numa sociedade que apela a uma hipervalorização do indivíduo, esquecendo, porventura, a correta relação comunitária, também as nossas pequenas comunidades tendem a desatender às expressões básicas de comunhão com os demais. Eu próprio reparava, há dias, como no contexto de uma vila, com traços próprios de uma aldeia, as pessoas se cruzavam, quantas vezes, sem nada se dizerem umas às outras. Especialmente os mais novos, que são os que mais tendem a isolar-se, sem esta expressão de vida comunitária, marcada por uma simples saudação. Se calhar não tanto por culpa sua, mas sim pela formação que lhes foi dada.

   Ficamos por vezes com a sensação de que numa mesma comunidade nos tornámos estranhos, na relação de uns com os outros.

   Como se não bastassem os meios tecnológicos, que hoje nos isolam em casa, as nossas interações comunitárias, na rua, padecem igualmente de algumas fragilidades, que advêm do isolamento e do individualismo. Necessitamos de retomar expressões básicas de inter-relação, de comunicação e de educação.

   Se é certo que o conceito de educação, como os demais conceitos, é evolutivo, em conformidade com o desenvolvimento humano e das comunidades, há valores que este conceito engloba que jamais se poderão perder. Entendendo a educação, de entre os seus múltiplos aspetos, como «domínio e observância das normas de conduta socialmente aceites»[4], ou como expressão de «cortesia», dizer «obrigado», «desculpe», «bom dia» ou «boa tarde» é algo de elementar.

   Numa sociedade individualista não podemos perder vivências básicas de comunhão. É que educar significa também o «processo que visa o pleno desenvolvimento intelectual, físico e moral de um indivíduo e a sua adequada inserção na sociedade»[5]. E não haverá, por certo, inserção e desenvolvimento da vida comunitária sem estas atitudes básicas. Um desafio a refazermos permanentemente as nossas relações, partindo das coisas mais simples.


Pampilhosa, 03 de Maio de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(86ª Reflexão)


[1] PAPA FRANCISCO – Audiência Geral. Vaticano, 13 de Maio de 2015. [Disponível em www.vatican.va. Consultado a 02.05.2018].
[2] Ibidem.
[3] Ibidem.
[4] Voc. Educação. In Dicionário de Língua Portuguesa. Aplicação online.
[5] Ibidem.