quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ambiente


AMBIENTE

   Uma das questões mais candentes da atualidade, não obstante haver ainda quem a relativize, é a questão ambiental. De uma forma muito sucinta, esta pode definir-se como uma preocupação social (há quem refira mesmo um movimento social!) em torno dos problemas que a falta de um desenvolvimento sustentável adequado pode trazer para a qualidade de vida do ser humano, na atualidade, e para o futuro das próximas gerações.[1] Realidade que ultrapassou, há muito, os meandros de algumas ideologias, para assumir lugar importante na agenda política internacional. Pese embora, apesar de algumas decisões assertivas, permaneça enfraquecida face à supremacia de alguns interesses económicos, que relegam para segundo plano a sustentabilidade ambiental. Todavia, estamos num ponto sem retorno. E quem no-lo diz são, uma vez mais, os cientistas. Depois de um primeiro grande aviso sobre as consequências de uma destruição ambiental, de há vinte cinco anos atrás, da Union of Concerned Scientists, acompanhada da assinatura de mais mil e setecentos cientistas independentes, alguns deles prémio nobel da ciência, com o documento «Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade», de 1992, em que referiam perentoriamente que «é necessária uma grande mudança na nossa gestão da Terra e da vida para se evitar uma vasta miséria humana»[2]; eis que surge agora uma segunda advertência, que nos chama a atenção para o fracasso das medidas tomadas desde então, com exceção da diminuição da camada de ozono, e a advertência de que estamos à beira de uma catástrofe ambiental, sobretudo devido à trajetória das mudanças climáticas, como consequência do aumento dos gases de efeito estufa (GEE), particularmente provocados pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e aumento significativo de produção agropecuária, entre outras causas. Nesta segunda advertência, em que se propõem diversas medidas concretas em ordem a uma nova sustentabilidade ambiental, reafirma-se que «para evitar miséria generalizada e perda catastrófica de biodiversidade, a humanidade deve adotar práticas ambientalmente mais sustentáveis e alternativas em relação às práticas atuais»[3].

   Ora, sem uma visão demasiado pessimista, podemos afirmar que começamos já a sentir os efeitos das alterações climáticas enunciados. Particularmente os países do sul da Europa, como Portugal e Espanha, são dos mais vulneráveis, onde o aumento das temperaturas e a diminuição da pluviosidade mais se fazem sentir, com todas as consequências que daí advêm para a resposta às nossas necessidades humanas mais básicas e às necessidades da produção agrícola. Este ano, em que tivemos menos chuva e temperaturas mais elevadas, ainda que podendo ser um ano de exceção, insere-se, todavia, num ciclo de continuidade temporal que não é muito animador. Assim, necessitamos de nos consciencializar que urge tomarmos medidas eficazes que envolvam a sociedade no seu todo – decisores políticos, empresários, instituições formativas e cada cidadão, em particular. A defesa do ambiente deve ser transversal a todas as nossas atividades – públicas e privadas.

   Mas sintomas deste efeito da crise ambiental registam-se ainda a outros níveis, de que é exemplo a degradação do património histórico construído. Como se pode constatar na Catedral de Notre Dame, em Paris, cujas pedras multiseculares estão a desfazer-se com a poluição, ameaçando ruir. Realidade que afeta outros monumentos, um pouco por toda a parte.

   A preservação do ambiente e, consequentemente, da nossa casa comum, exige-nos uma nova atitude. O Papa Francisco, na sua encíclica Laudato Si (Louvado Sejas – Sobre o cuidado da casa comum), dirigida a todos os cristãos e a todos os homens de boa vontade, faz um apelo veemente neste sentido, interpelando-nos a viver uma autêntica «conversão ecológica» (LS. 217); que compreenda uma nova mentalidade e uma nova atitude na relação com a criação. É que a questão ambiental não é já uma questão ideológica, como alguns ainda querem fazer crer, mas sim uma questão da nossa sobrevivência!

 
Pampilhosa, 30 de Novembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(65ª Reflexão)



[1] Cf. GRUPO ESCOLAR – A questão ambiental. Disponível em www.grupoescolar.com (consultado a 28.11.2017).
[2] Cf. Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade: um segundo aviso. In Sustentabilidade é ação. Disponível em: http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com (Consultado a 28.11.2017).
[3] Cf. Ibidem.