quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dia Mundial dos Pobres


DIA MUNDIAL DOS POBRES

   No passado domingo, a Igreja Católica celebrou, universalmente, o Iº Dia Mundial dos Pobres. Uma celebração instituída pelo Papa Francisco, na sequência do recente Jubileu da Misericórdia. Ainda que sendo um convite dirigido aos cristãos, este dia alarga-se a todos, como refere o Papa Francisco: «Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro» (DMP. 6). Para logo acrescentar, numa perspetiva universal: «Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade» (DMP. 6).

   O fenómeno da pobreza tem causas muito profundas e diversificadas, que não podemos analisar aqui, senão enunciá-las: políticas erradas, nacionais e internacionais, incapazes de integrar socialmente todos os cidadãos; interesses económicos desmedidos, por parte de pessoas e empresas; assimetrias geográficas, em termos de capacidade de produção; falta de solidariedade efetiva entre as nações; cultura do bem-estar e do desperdício de alguns, face à necessidade de bens essenciais para outros… Enfim, uma multiplicidade de razões que nos colocam num mundo profundamente desequilibrado, onde uma minoria detém bens de forma excedentária e uma grande maioria não possui os bens essenciais para a sua subsistência e desenvolvimento, como sejam os bens alimentares, o acesso à saúde, à educação, ao desenvolvimento tecnológico, etc. Mas tudo isto resulta essencialmente de uma atitude de egoísmo que marca a nossa humanidade. O Papa Francisco, na sua mensagem para este dia, afirma claramente: «Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão» (DMP. 6). Em conformidade, de resto, com a afirmação da Gaudium et Spes do Vaticano II, que diz: «Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de todo o género humano e de todos os povos, de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a regra da justiça, inseparável da caridade» (GS. 69).

   Ora, se este é o panorama internacional, também a nível nacional vivemos desequilíbrios muito profundos. Bastaria, para o evidenciar, enunciar dois aspetos: num país com cerca de dez milhões de habitantes, mais de dois milhões de portugueses vivem na pobreza; e, no contexto da crise que atravessámos, nos últimos anos, as diferenças acentuaram-se, tendo Portugal registado um número impar de milionários.

   Se é certo que não se pretende nivelar, sem mais, o nível de vida de todos os cidadãos, num igualitarismo ideológico; a verdade é que cabe à Igreja, associada a todos os homens de boa vontade, trabalhar no sentido da implementação da justiça, que mais não é senão o dar a cada um o que lhe é devido! Precisamente o que lhe é devido pela criação, naquela conceção do destino universal dos bens, que está sempre acima de qualquer apropriação pessoal ou de apenas algumas comunidades.

   É certo também que muitos dos nossos concidadãos têm uma incapacidade quase permanente de orientação pessoal e de gestão básica dos seus bens, o que os remete para situações de fragilidade social: por via do álcool, da toxicodependência, da falta de capacidade mental, ou de outras condicionantes pessoais, de caráter familiar ou até mesmo de inadaptação laboral.

   Tendo em consideração todas estas situações, cabe-nos a nós, em espírito de autêntica fraternidade, cuidarmos uns dos outros, não nos alheando dos seus problemas. Ora, é precisamente isto que o Papa Francisco nos pede, com a instituição deste dia. Afirma ele, apontando-nos o grande objetivo do Dia Mundial dos Pobres: «Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste» (DMP. 6).

   Um desafio que se tem de estender para além de um dia; mas cuja recordação, no domingo que lhe é dedicado, tem este desiderato: fazer-nos lembrar que somos todos irmãos e que devemos cuidar uns dos outros, promovendo sempre a justiça e a equidade.

Pampilhosa, 23 de Novembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(64ª Reflexão)