DIA MUNDIAL
DOS POBRES
No
passado domingo, a Igreja Católica celebrou, universalmente, o Iº Dia Mundial dos Pobres. Uma
celebração instituída pelo Papa Francisco, na sequência do recente Jubileu da
Misericórdia. Ainda que sendo um convite dirigido aos cristãos, este dia
alarga-se a todos, como refere o Papa Francisco: «Este dia pretende estimular,
em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do
desperdício, assumindo a cultura do encontro» (DMP. 6). Para logo acrescentar,
numa perspetiva universal: «Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos,
independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com
os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de
fraternidade» (DMP. 6).
O
fenómeno da pobreza tem causas muito profundas e diversificadas, que não
podemos analisar aqui, senão enunciá-las: políticas erradas, nacionais e
internacionais, incapazes de integrar socialmente todos os cidadãos; interesses
económicos desmedidos, por parte de pessoas e empresas; assimetrias
geográficas, em termos de capacidade de produção; falta de solidariedade
efetiva entre as nações; cultura do bem-estar e do desperdício de alguns, face
à necessidade de bens essenciais para outros… Enfim, uma multiplicidade de razões
que nos colocam num mundo profundamente desequilibrado, onde uma minoria detém
bens de forma excedentária e uma grande maioria não possui os bens essenciais
para a sua subsistência e desenvolvimento, como sejam os bens alimentares, o
acesso à saúde, à educação, ao desenvolvimento tecnológico, etc. Mas tudo isto
resulta essencialmente de uma atitude de egoísmo que marca a nossa humanidade.
O Papa Francisco, na sua mensagem para este dia, afirma claramente: «Deus criou
o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram
fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade
sem qualquer exclusão» (DMP. 6). Em conformidade, de resto, com a afirmação da Gaudium et Spes do Vaticano II, que diz:
«Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de todo o género humano
e de todos os povos, de modo que os bens criados devem chegar equitativamente
às mãos de todos, segundo a regra da justiça, inseparável da caridade» (GS.
69).
Ora,
se este é o panorama internacional, também a nível nacional vivemos
desequilíbrios muito profundos. Bastaria, para o evidenciar, enunciar dois
aspetos: num país com cerca de dez milhões de habitantes, mais de dois milhões
de portugueses vivem na pobreza; e, no contexto da crise que atravessámos, nos
últimos anos, as diferenças acentuaram-se, tendo Portugal registado um número
impar de milionários.
Se é
certo que não se pretende nivelar, sem mais, o nível de vida de todos os
cidadãos, num igualitarismo ideológico; a verdade é que cabe à Igreja,
associada a todos os homens de boa vontade, trabalhar no sentido da
implementação da justiça, que mais não é senão o dar a cada um o que lhe é
devido! Precisamente o que lhe é devido pela criação, naquela conceção do
destino universal dos bens, que está sempre acima de qualquer apropriação
pessoal ou de apenas algumas comunidades.
É
certo também que muitos dos nossos concidadãos têm uma incapacidade quase
permanente de orientação pessoal e de gestão básica dos seus bens, o que os remete
para situações de fragilidade social: por via do álcool, da toxicodependência,
da falta de capacidade mental, ou de outras condicionantes pessoais, de caráter
familiar ou até mesmo de inadaptação laboral.
Tendo em consideração todas estas situações, cabe-nos a nós, em espírito
de autêntica fraternidade, cuidarmos uns dos outros, não nos alheando dos seus
problemas. Ora, é precisamente isto que o Papa Francisco nos pede, com a
instituição deste dia. Afirma ele, apontando-nos o grande objetivo do Dia Mundial dos Pobres: «Convido a
Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste
dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a
nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai
celeste» (DMP. 6).
Um
desafio que se tem de estender para além de um dia; mas cuja recordação, no
domingo que lhe é dedicado, tem este desiderato: fazer-nos lembrar que somos
todos irmãos e que devemos cuidar uns dos outros, promovendo sempre a justiça e
a equidade.
Pampilhosa, 23 de Novembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(64ª Reflexão)