quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Poder Local


PODER LOCAL

   O início deste mês de Outubro foi marcado, a nível nacional, pelas eleições autárquicas – para as Câmaras Municipais, respetivas Assembleias e Assembleias de Freguesia. Uma verdadeira expressão da democracia, com a participação dos eleitores, dos múltiplos eleitos e das demais listas concorrentes aos cargos locais, de norte a sul do país. Com efeito, o poder local reveste-se de características muitos próprias, de entre as quais podemos salientar a proximidade, a descentralização, a cidadania e o controle democrático mais eficaz. Na verdade, uma das características fundamentais do poder local é precisamente a proximidade, com a sua capacidade de resolução próxima das necessidades das pessoas e das comunidades. Constituindo-se esta numa das características mais importantes; mobilizadora, por isso, de uma maior participação dos eleitores locais. Por outro lado, as autarquias locais constituem-se como sedes de poder que cooperam na realização das orientações comuns que provêm do estado central. Em muitas matérias, são responsáveis pela sua implementação nas comunidades locais e na mobilização política e administrativa enquanto agentes locais de autoridade. Convém, todavia, que esta articulação entre competências do poder central e do poder local seja ampliada, no sentido de se operacionalizarem decisões políticas e administrativas, facilitadoras da implementação de muitas das diretivas decididas nos órgãos de soberania central. A proximidade, uma vez mais, possibilita a eficácia na implementação de reformas administrativas e num governo mais eficaz do todo nacional. Neste sentido, o poder local nunca pode ser visto como opositor, que reclama ou compromete o poder central, mas sim como cooperador, trabalhando ambos num serviço mais célere e eficiente aos cidadãos e às respetivas comunidades locais. Muitas têm sido as manifestações de sensibilidade política no sentido de descentralizar serviços, nos vários quadrantes políticos, e que urge implementar, para que o exercício do governo se torne mais célere, eficaz e menos burocrático. Devemos considerar, ainda, que o exercício do poder local promove uma mais ampla participação cívica, porquanto está em causa o governo da comunidade de pertença. E esta mobilização é notória nas listas dos que concorrem a estes cargos públicos, bem como na participação dos eleitores nas eleições autárquicas, não obstante os elevados índices de abstenção que ainda podemos registar, embora menor nestas eleições. Por fim, há igualmente um exercício de democracia mais evidente nas eleições locais: as pessoas conhecem melhor os programas eleitorais, conhecem as pessoas que se propõem aos cargos, bem como as suas capacidades de realização dos programas a sufragar; tendo ainda, mais facilmente, a possibilidade de avaliar a eficácia de governo local, podendo efetuar sempre, no fim de cada mandato, um juízo sério sobre o exercício do poder assumido por aqueles que foram investidos nos cargos. Não obstante, temos ainda de caminhar bastante no sentido de assegurar esta escolha objetiva. Para tanto – julgo - deveríamos privilegiar mais as listas nominais, mesmo que dependentes do espetro dos partidos políticos nacionais, e não tanto as listas de partidos, onde, inclusive, os candidatos estão ausentes, em termos de boletim de voto. Por outro lado, os programas eleitorais deveriam constituir-se como elemento chave de escolha, mais do que a opção partidária de cada eleitor. A escolha, cada vez mais ampla, de listas de independentes, vem sublinhar alguns destes aspetos, conquanto não sejam listas de dissidentes partidários que se propõem à votação, excessivamente centradas no culto de algumas pessoas.

   Volvidos mais de quarenta anos sob a renovação do poder local, como poder democrático e não apenas administrativo, há que aprofundar as suas competências e possibilidades. Por certo, um poder local forte, eficaz, com mais amplos poderes de ação e fiscalizado pelos cidadãos, contribuirá para um governo mais equitativo, mais eficiente e facilitador de um desenvolvimento global do todo nacional.

   Terminados os escrutínios, num período em que os novos eleitos são agora empossados nos seus cargos, resta-nos desejar as maiores felicidades a todos os que assumem funções de governo, na esperança de que os seus programas eleitorais sejam levados à prática, a bem das pessoas e das comunidades que servem.

Pampilhosa, 12 de Outubro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(58ª Reflexão)