quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Questão de Género


QUESTÃO DE GÉNERO!

   Os tempos que correm são particularmente complexos, senão mesmo vertiginosos, ao nível da conceção da pessoa e das suas características essenciais. Vivemos uma pretensa liberdade que poderá ter como consequência uma desagregação psicoafectiva e sexual de muitos jovens, neste período de maturação.

   A teoria de género, que já aqui considerámos, insiste na revisão dos papéis sociais atribuídos ao masculino e ao feminino, considerando que estes foram construções sociais fixistas, que agora urge mudar, conferindo a cada um a liberdade de escolha da sua própria conduta. Todavia, esta teoria – sempre em aberto – tem conduzido a conceções inacreditáveis no que toca à definição de pessoa e à sua autodeterminação quanto ao género, ou géneros, a assumir na conduta pessoal. Ao ponto de, no Canadá, um pai ter conseguido autorização legal para registar o seu filho (e ao afirmá-lo assim, estamos já a referir o masculino!) como tendo um género neutro. Ora, na vida humana não existe o neutro, nem física, nem psíquica, nem afetivamente; nem tão pouco socialmente. O neutro existe apenas, a par do masculino e do feminino, nalguma linguística e nunca na experiência humana.

   Se é certo que a nossa construção pessoal é fruto do meio e dos valores sociais que nos são incutidos, resulta também – como substrato – da nossa identidade biológica, determinada pela natureza. Negá-lo será negarmo-nos a nós mesmos. E, neste momento, a teoria de género avançou exatamente por aí: no afã de conquistar uma pretensa liberdade social, chega a negar a própria identidade biológica. Neste sentido, já não se trata apenas do distanciamento em relação a outras conceções antropológicas, consideradas como conservadoras, como a da Igreja, entre outras, mas sim de um negacionismo daquilo que empiricamente é verificável pela biologia.

   Ora, em nome de uma liberdade absoluta nega-se a pessoa, na sua identidade. O que, em boa verdade, deixa de ser autêntica liberdade, porquanto não serve a realização humana, ao serviço da qual a liberdade se compreende.

   O mais grave destas teorias não é apenas a desestruturação da sociedade e, logo na sua base, da família; mas sim o atentado contra a pessoa humana, a quem se nega uma identidade psicoafectiva e sexual que se vai maturando na inter-relação pessoal e social, mas tendo por base as características biológicas de cada um.

   Neste contexto, em que as distinções são sempre absolutamente necessárias, para não nos confundirmos, outra coisa é a consideração de vivências homoafetivas ou bissexuais. Estas realidades marcam indiscutivelmente um bom número de pessoas e a ciência, ainda hoje, não nos consegue dizer se o seu fundamento é apenas fruto de uma não diferenciação do mesmo género, no processo de maturação, com enfoque na adolescência, ou se existem causas genéticas para tal orientação. Não obstante, não há a negação de um género – masculino ou feminino -, mas sim a tendência para a relação física e afetiva com pessoas do mesmo sexo, ou de ambos os sexos. Estas pessoas, em tais circunstâncias, devem ser acolhidas e respeitadas na sua vivência; ressalvando-se o direito social de quem vive a homoafetivade em estabelecer relações de compromisso pessoal em conformidade com a sua identidade profunda. Forçar alguém a viver o que não sente é também uma violência; e o passado está cheio de realidades penosas, destrutivas de pessoas conjugalmente desajustadas, bem como de relações tensas, onde, não raro, predominam a ansiedade e a mentira.

   Mas cada realidade necessita de um enquadramento próprio, sem confusões, para que se procure sempre o bem da pessoa.

   Ora, neste enquadramento, salvo raríssimas exceções, permitir que um jovem, em maturação física, psíquica e afetiva, tome decisões irreversíveis na sua vida, como é a da mudança de sexo, como defendem algumas forças políticas nacionais, que apresentaram já um projeto lei, determinando que aos dezasseis anos de idade um jovem se possa autodeterminar quanto ao seu género, é algo de muito perigoso. Aliás, o Conselho Nacional de Ética pronunciou-se sobre esta matéria, definindo-a como «inadequada»; e os Bispos Portugueses manifestaram preocupação em relação a tal projeto lei, sobretudo sem que haja um debate profundo sobre tal matéria. Questionar este projeto de lei e aprofundar os seus fundamentos antropológicos é um dever de todos, em sociedade. Pois o que se pretende é sempre e tão só o bem da pessoa; porquanto a pessoa é que tem de estar no centro das nossas preocupações!


Pampilhosa, 26 de Outubro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(60ª Reflexão)