quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Água


ÁGUA 

    Nestes dias tenho-me sentido particularmente interpelado pelas questões em torno da sustentabilidade e usufruto de um produto essencial à vida – a água. Foram as Jornadas de Pastoral do Turismo, com um painel sobre o ambiente; foi o programa, do canal 1 da RTP, «Prós e Contras», com a temática do desenvolvimento do Alentejo, a problemática da seca persistente, em que temos vivido, e a sustentabilidade nos reservatórios da água, nesta região do país; e é ainda a releitura da Carta Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si. Uma variedade de eventos e leituras que me fazem olhar de outra maneira para um bem essencial que, tão poucas vezes, valorizamos suficientemente.

   Não me vou deter na importância da água, sobejamente conhecida de todos nós. Aliás, basta-nos confrontarmo-nos com uma breve interrupção do fornecimento deste bem indispensável, para todos nós sentirmos quanto dependemos dela, não só como elemento essencial à vida, mas também para múltiplos usos, que vão desde a higiene às demais formas de utilização. E não me refiro já a quem necessita absolutamente da água para o seu trabalho, desde a agricultura, às demais diversas formas de laboração, de pequenas, médias ou grandes indústrias. A água está omnipresente nas nossas vidas e dependemos dela.

   Mas a água é um bem escasso. Sem alarmismos, mas conscientes, sabemos que os períodos de seca, como o que estamos a atravessar, tendem a alargar-se numa perspetiva de futuro. Este é o parecer dos estudiosos do ambiente, ao analisarem as consequências do aquecimento global. É certo que em todos os períodos da história tivemos alternância entre períodos mais húmidos e mais secos, propiciando melhores ou piores condições económicas, sobretudo quando o sustento assentava na produção da terra. Contudo, hoje a realidade é distinta: não se trata apenas de um elemento natural, nas alternâncias climáticas, mas sim de uma consequência da massiva intervenção humana, devido a uma feroz industrialização e suas consequências ambientais.

   Neste quadro, atingimos todo um patamar de bem-estar social e de condições de vida de que não queremos abdicar. Todavia, se não alterarmos os nossos hábitos de consumo, dificilmente conseguiremos manter tal qualidade.

   Muitos de nós, por certo, diremos que esta é uma realidade que não nos toca diretamente, porquanto não é ainda um problema imediatamente nosso. Para além da necessária solidariedade – e mesmo partilha deste bem essencial! – com aqueles que sofrem as consequências da falta de água, temos de nos consciencializar de podemos chegar a um tempo de racionamento deste bem fundamental, mas escasso. Ou melhor, que tende a escassear. Neste sentido, e antes que tal tenha de acontecer, urge tomarmos medidas de poupança que nos possam beneficiar a todos. Poupar água, hoje, não será apenas uma medida económica; trata-se, sim, de um dever cívico, na prossecução de assegurar a todos um verdadeiro bem comum. Com verdade, nos recorda o Papa Francisco, na sua encíclica Laudato Si: «É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível atual de consumo [de água] dos países mais desenvolvidos e dos setores mais ricos da sociedade, onde o hábito de “desperdiçar e deitar fora” atinge níveis inauditos» (LS. 27), a que acrescenta: «A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e a longo prazo» (LS. 28).

   Ora, também neste contexto, do usufruto inteligente e sustentável deste bem essencial, temos de viver aquele princípio defendido, ainda, pelo Papa Francisco, dirigido particularmente aos cristãos, mas também aos homens de boa vontade: necessitamos, na hora presente, de viver uma autêntica «conversão ecológica» (cf. LS. 217), para que a ninguém falte o bem essencial, que é a água, sabendo, também aqui, que «a terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar todos» (LS. 93).

 
Pampilhosa, 02 de Novembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(61ª Reflexão)