ÁGUA
Nestes dias tenho-me sentido particularmente interpelado pelas questões
em torno da sustentabilidade e usufruto de um produto essencial à vida – a
água. Foram as Jornadas de Pastoral do Turismo, com um painel sobre o ambiente;
foi o programa, do canal 1 da RTP, «Prós e Contras», com a temática do
desenvolvimento do Alentejo, a problemática da seca persistente, em que temos
vivido, e a sustentabilidade nos reservatórios da água, nesta região do país; e
é ainda a releitura da Carta Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si. Uma variedade de eventos e leituras que me fazem olhar
de outra maneira para um bem essencial que, tão poucas vezes, valorizamos
suficientemente.
Não
me vou deter na importância da água, sobejamente conhecida de todos nós. Aliás,
basta-nos confrontarmo-nos com uma breve interrupção do fornecimento deste bem
indispensável, para todos nós sentirmos quanto dependemos dela, não só como
elemento essencial à vida, mas também para múltiplos usos, que vão desde a
higiene às demais formas de utilização. E não me refiro já a quem necessita
absolutamente da água para o seu trabalho, desde a agricultura, às demais
diversas formas de laboração, de pequenas, médias ou grandes indústrias. A água
está omnipresente nas nossas vidas e dependemos dela.
Mas a água é um bem escasso. Sem alarmismos,
mas conscientes, sabemos que os períodos de seca, como o que estamos a
atravessar, tendem a alargar-se numa perspetiva de futuro. Este é o parecer dos
estudiosos do ambiente, ao analisarem as consequências do aquecimento global. É
certo que em todos os períodos da história tivemos alternância entre períodos
mais húmidos e mais secos, propiciando melhores ou piores condições económicas,
sobretudo quando o sustento assentava na produção da terra. Contudo, hoje a realidade
é distinta: não se trata apenas de um elemento natural, nas alternâncias
climáticas, mas sim de uma consequência da massiva intervenção humana, devido a
uma feroz industrialização e suas consequências ambientais.
Neste quadro, atingimos todo um patamar de bem-estar social e de
condições de vida de que não queremos abdicar. Todavia, se não alterarmos os
nossos hábitos de consumo, dificilmente conseguiremos manter tal qualidade.
Muitos de nós, por certo, diremos que esta é uma realidade que não nos
toca diretamente, porquanto não é ainda um problema imediatamente nosso. Para
além da necessária solidariedade – e mesmo partilha deste bem essencial! – com
aqueles que sofrem as consequências da falta de água, temos de nos
consciencializar de podemos chegar a um tempo de racionamento deste bem
fundamental, mas escasso. Ou melhor, que tende a escassear. Neste sentido, e
antes que tal tenha de acontecer, urge tomarmos medidas de poupança que nos
possam beneficiar a todos. Poupar água, hoje, não será apenas uma medida
económica; trata-se, sim, de um dever cívico, na prossecução de assegurar a
todos um verdadeiro bem comum. Com verdade, nos recorda o Papa Francisco, na
sua encíclica Laudato Si: «É bem
conhecida a impossibilidade de sustentar o nível atual de consumo [de água] dos
países mais desenvolvidos e dos setores mais ricos da sociedade, onde o hábito de
“desperdiçar e deitar fora” atinge níveis inauditos» (LS. 27), a que
acrescenta: «A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante
muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta
sustentável, com graves consequências a curto e a longo prazo» (LS. 28).
Ora,
também neste contexto, do usufruto inteligente e sustentável deste bem
essencial, temos de viver aquele princípio defendido, ainda, pelo Papa
Francisco, dirigido particularmente aos cristãos, mas também aos homens de boa
vontade: necessitamos, na hora presente, de viver uma autêntica «conversão
ecológica» (cf. LS. 217), para que a ninguém falte o bem essencial, que é a
água, sabendo, também aqui, que «a terra é, essencialmente, uma herança comum,
cujos frutos devem beneficiar todos» (LS. 93).
Pampilhosa, 02 de Novembro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(61ª Reflexão)