DA TRAGÉDIA
À OPORTUNIDADE!
Este
mês de Outubro revelou-se como o mais inclemente deste últimos anos, em
Portugal: as elevadas temperaturas para a época, a seca extrema em muitos
locais e, por fim – e o mais grave! – os horríveis incêndios que deflagraram
por toda a região centro e norte do país, neste último domingo, com um número
elevado de perdas de vidas humanas e de múltiplos bens de primeira necessidade
para muitas famílias. Um domingo «horribilis»,
qual autêntico inferno, que se estendia a todo o lado!
O
momento presente é de chorar os mortos e de rezar pelas suas almas, bem como de
apoiar os que viram os seus bens destruídos, para que possam, o mais breve
possível, refazer as suas vidas.
Mas
esta tragédia não pode deixar-nos imóveis, sarando apenas as feridas. Tem de se
constituir como a oportunidade de, efetivamente, pensarmos em novas ações de
prevenção, para além da identificação séria e real das causas que estão na base
de tantas ignições. Desde logo identificar essas causas e agir em conformidade,
custe o que custar. E quando se tratar de crime, agir em conformidade, pois
este deve ser punido e não aligeirado, como infelizmente parece acontecer,
eventualmente pelo enquadramento da moldura penal, que deverá corresponder à
gravidade das situações em causa.
Posto
isto, há que promover ações concretas de reorganização das florestas e da sua
reflorestação. Portugal está desfigurado! É necessário, agora, refazer as suas
paisagens: a sua mancha florestal e algumas das suas aldeias. As medidas
legislativas que compreendem tais ações existem já; importa agora fazê-las
passar à realidade. Sabendo, todavia, que temos de ir ainda muito mais longe: é
urgente fazer a limpeza dos espaços que envolvem as casas, sem deixar tais
tarefas para o verão do próximo ano; e é necessário utilizar novas espécies
arbóreas para a reflorestação e, muito em particular, para os espaços
envolventes das múltiplas aldeias, recorrendo àquelas que limitam a ação do
fogo e, por isso, são denominadas árvores bombeiro ou corta-fogo, ocupando um
perímetro razoável em torno destas aldeias, para que possam ser mais seguras,
protegendo as suas habitações. Por outro lado, é urgente um ordenamento das
florestas que seja efetivo: com exigência junto dos proprietários; com
empenhamento dos municípios e das autoridades locais; mas igualmente com
incentivos públicos a uma reflorestação equilibrada e inteligente. Criando-se
condições para uma gestão mais alargada das florestas, que poderá compreender
uma realidade semelhante ao modelo cooperativo.
Estas ações, ou outras, que se julgarem necessárias, segundo os
técnicos, é um imperativo moral para connosco, salvaguardando-se, assim, a
tranquilidade futura. Mas é particularmente um dever para com quem perdeu a sua
vida nestes incêndios e para com quem, neles, perdeu muito dos seus bens.
É a
segunda vez, este ano, que Portugal chora as vítimas dos incêndios. Não
queremos voltar a chorar, num futuro próximo, as consequências humanas e
materiais de tais ocorrências. Assim, agir, na hora presente, impõe-se-nos a
todos! Autoridades e civis! Como bem afirmava o Senhor Arcebispo de Braga, D.
Jorge Ortiga, «basta de discursos e boas intenções! É imperioso apurar
responsabilidades e agir».
Paralelamente a estas ações, é fundamental implementar medidas de
educação ambiental, para que a agressão à floresta e, consequentemente, à vida
humana, se converta em defesa de ambas. Uma punição de criminosos incendiários,
alguns deles recorrentes, bem poderia passar por aí, com formação teórica e
serviço prático nas florestas portuguesas. É que para evitar males futuros,
temos de punir severamente quem beneficia do fogo e de reeducar quem perdeu a
sensibilidade para a defesa do património natural que nos é comum! Portugal
necessita de todo o nosso empenho e de cidadãos dotados de nova mentalidade!
Pampilhosa, 19 de Outubro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(59ª Reflexão)