quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Da Tragédia à Oportunidade


DA TRAGÉDIA À OPORTUNIDADE!

   Este mês de Outubro revelou-se como o mais inclemente deste últimos anos, em Portugal: as elevadas temperaturas para a época, a seca extrema em muitos locais e, por fim – e o mais grave! – os horríveis incêndios que deflagraram por toda a região centro e norte do país, neste último domingo, com um número elevado de perdas de vidas humanas e de múltiplos bens de primeira necessidade para muitas famílias. Um domingo «horribilis», qual autêntico inferno, que se estendia a todo o lado!

   O momento presente é de chorar os mortos e de rezar pelas suas almas, bem como de apoiar os que viram os seus bens destruídos, para que possam, o mais breve possível, refazer as suas vidas.

   Mas esta tragédia não pode deixar-nos imóveis, sarando apenas as feridas. Tem de se constituir como a oportunidade de, efetivamente, pensarmos em novas ações de prevenção, para além da identificação séria e real das causas que estão na base de tantas ignições. Desde logo identificar essas causas e agir em conformidade, custe o que custar. E quando se tratar de crime, agir em conformidade, pois este deve ser punido e não aligeirado, como infelizmente parece acontecer, eventualmente pelo enquadramento da moldura penal, que deverá corresponder à gravidade das situações em causa.

    Posto isto, há que promover ações concretas de reorganização das florestas e da sua reflorestação. Portugal está desfigurado! É necessário, agora, refazer as suas paisagens: a sua mancha florestal e algumas das suas aldeias. As medidas legislativas que compreendem tais ações existem já; importa agora fazê-las passar à realidade. Sabendo, todavia, que temos de ir ainda muito mais longe: é urgente fazer a limpeza dos espaços que envolvem as casas, sem deixar tais tarefas para o verão do próximo ano; e é necessário utilizar novas espécies arbóreas para a reflorestação e, muito em particular, para os espaços envolventes das múltiplas aldeias, recorrendo àquelas que limitam a ação do fogo e, por isso, são denominadas árvores bombeiro ou corta-fogo, ocupando um perímetro razoável em torno destas aldeias, para que possam ser mais seguras, protegendo as suas habitações. Por outro lado, é urgente um ordenamento das florestas que seja efetivo: com exigência junto dos proprietários; com empenhamento dos municípios e das autoridades locais; mas igualmente com incentivos públicos a uma reflorestação equilibrada e inteligente. Criando-se condições para uma gestão mais alargada das florestas, que poderá compreender uma realidade semelhante ao modelo cooperativo.

   Estas ações, ou outras, que se julgarem necessárias, segundo os técnicos, é um imperativo moral para connosco, salvaguardando-se, assim, a tranquilidade futura. Mas é particularmente um dever para com quem perdeu a sua vida nestes incêndios e para com quem, neles, perdeu muito dos seus bens.

   É a segunda vez, este ano, que Portugal chora as vítimas dos incêndios. Não queremos voltar a chorar, num futuro próximo, as consequências humanas e materiais de tais ocorrências. Assim, agir, na hora presente, impõe-se-nos a todos! Autoridades e civis! Como bem afirmava o Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, «basta de discursos e boas intenções! É imperioso apurar responsabilidades e agir».

   Paralelamente a estas ações, é fundamental implementar medidas de educação ambiental, para que a agressão à floresta e, consequentemente, à vida humana, se converta em defesa de ambas. Uma punição de criminosos incendiários, alguns deles recorrentes, bem poderia passar por aí, com formação teórica e serviço prático nas florestas portuguesas. É que para evitar males futuros, temos de punir severamente quem beneficia do fogo e de reeducar quem perdeu a sensibilidade para a defesa do património natural que nos é comum! Portugal necessita de todo o nosso empenho e de cidadãos dotados de nova mentalidade!


Pampilhosa, 19 de Outubro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(59ª Reflexão)