quarta-feira, 21 de junho de 2017

Em hora de dor!...


EM HORA DE DOR!...

   O momento presente, em Portugal, é uma hora de dor para todos nós. Pouco valem as palavras, nesta ocasião, quando urge minimizar o que, entretanto, os incêndios já destruíram. Perguntamo-nos, com estupefação: como foi possível este drama? Certamente que o futuro trará – obrigatoriamente – algumas respostas. Sim, porque estes trágicos acontecimentos não podem ficar sem uma necessária e profunda análise, no sentido de se compreenderem profundamente as suas causas, se prevenirem possíveis realidades futuras, bem como para se repensar o território agora devastado!

   Contudo, na hora atual, algumas atitudes se nos impõem: em primeiro, o silêncio e a oração; depois, o apoio à reconstrução material e às vítimas deste enorme flagelo; por fim, implementar as medidas administrativas já definidas para reorganizar a floresta nacional.

      1. Face aos dramas pessoais e familiares que, na sequência do terrível incêndio de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, vêm ao nosso conhecimento, particularmente na atenção aos que morreram, com famílias inteiras dizimadas, ou parte substancial delas desfeitas, resta-nos o silêncio respeitoso de uma comunhão sincera. E, para quem é crente, a oração sincera, que gera comunhão e conforto, pela paz dos que partiram e pelo consolo dos que ficaram. Há momentos na vida humana em que pouco mais podemos fazer, senão o silêncio e a oração. Ainda que sempre numa proximidade afetiva e autenticamente fraterna com quem sofre. As histórias são múltiplas e angustiantes! Unamo-nos nesta comunhão fraterna e na oração.

       2. Paralelamente a esta atitude de memória e oração, impõe-se-nos a ação, na mobilização de todos, no sentido de ajudarmos a prover às necessidades mais básicas de quem perdeu tudo – de quem perdeu “o trabalho de uma vida”, como referia uma vítima deste incidente inclemente. Neste sentido, são múltiplas as campanhas de angariação de bens de primeira necessidade, de contas abertas para apoio monetário, entre outras iniciativas de apoio, que visam mobilizar toda a sociedade portuguesa. Mas há que atender que o processo de reconstrução será longo e exigente. Algumas aldeias ficaram praticamente destruídas e muitos dos seus habitantes perderam todos os seus haveres. Ajudá-los a reconstruir a sua vida, com casa e condições dignas, não se opera apenas no primeiro momento; exige uma partilha mais alargada no tempo. Daí que a Cáritas Diocesana de Coimbra esteja já no terreno a fazer levantamento de necessidades para orientar um programa de apoio às pessoas e às populações. As comunidades paroquiais têm aqui um dever cimeiro, como testemunho de fraternidade e caridade, correspondendo aos pedidos do Bispo Diocesano e do serviço referido. Conscientes, ainda, de que não se trata simplesmente de um apoio técnico, mas de um auxílio que traduza a nossa proximidade e afeto. Como referia o pároco de Pedrógão Grande, Pe. Júlio Santos, numa entrevista à Agência Ecclesia e com palavras que eu próprio lhe ouvi, em conversa pessoal, este momento exige muita proximidade afetiva, para minorar uma dor imensa, de gente que perdeu tudo, quer familiares, quer bens essenciais. O que fizermos que o façamos sempre com este amor e a proximidade possível.

       3. Em terceiro lugar, urge implementar as medidas administrativas já definidas para a gestão da nossa floresta. Já em 2012, a propósito de um artigo no âmbito da Pastoral do Turismo, cuja direção me está confiada, pude escrever «num país verde, como Portugal, infelizmente tão flagelado pelos incêndios florestais, é urgente uma nova política para a floresta e para a reflorestação». Nessa ocasião li mesmo a documentação legal existente sobre a gestão da floresta em Portugal. E pude concluir, então, como várias personagens, de quadrantes sociais e políticos distintos, o têm referido agora, que os estudos estão feitos, as necessidades estão identificadas; as metodologias estão definidas. Basta apenas vencer o que se tem tornado mais difícil: a inércia na aplicação de tais normas.

   Este não é um tempo de balanços e de grandes análises, como muitos têm afirmado. Sem dúvida! Contudo, fica-nos a certeza de que se não tivéssemos abandonado as nossas florestas não seriamos agora vítima delas, como temos sido. Se não cuidarmos da natureza, será ela que se voltará contra nós. E nós?!… Nós não queremos chorar mais mortos de tão inglórios infortúnios!


Pampilhosa, 22 de Junho de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(50ª Reflexão)