EM HORA DE
DOR!...
O
momento presente, em Portugal, é uma hora de dor para todos nós. Pouco valem as
palavras, nesta ocasião, quando urge minimizar o que, entretanto, os incêndios
já destruíram. Perguntamo-nos, com estupefação: como foi possível este drama?
Certamente que o futuro trará – obrigatoriamente – algumas respostas. Sim,
porque estes trágicos acontecimentos não podem ficar sem uma necessária e
profunda análise, no sentido de se compreenderem profundamente as suas causas,
se prevenirem possíveis realidades futuras, bem como para se repensar o
território agora devastado!
Contudo, na hora atual, algumas atitudes se nos impõem: em primeiro, o
silêncio e a oração; depois, o apoio à reconstrução material e às vítimas deste
enorme flagelo; por fim, implementar as medidas administrativas já definidas
para reorganizar a floresta nacional.
1.
Face aos dramas pessoais e familiares que, na sequência do terrível incêndio de
Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, vêm ao nosso
conhecimento, particularmente na atenção aos que morreram, com famílias
inteiras dizimadas, ou parte substancial delas desfeitas, resta-nos o silêncio
respeitoso de uma comunhão sincera. E, para quem é crente, a oração sincera,
que gera comunhão e conforto, pela paz dos que partiram e pelo consolo dos que
ficaram. Há momentos na vida humana em que pouco mais podemos fazer, senão o
silêncio e a oração. Ainda que sempre numa proximidade afetiva e autenticamente
fraterna com quem sofre. As histórias são múltiplas e angustiantes! Unamo-nos
nesta comunhão fraterna e na oração.
2.
Paralelamente a esta atitude de memória e oração, impõe-se-nos a ação, na
mobilização de todos, no sentido de ajudarmos a prover às necessidades mais
básicas de quem perdeu tudo – de quem perdeu “o trabalho de uma vida”, como
referia uma vítima deste incidente inclemente. Neste sentido, são múltiplas as
campanhas de angariação de bens de primeira necessidade, de contas abertas para
apoio monetário, entre outras iniciativas de apoio, que visam mobilizar toda a
sociedade portuguesa. Mas há que atender que o processo de reconstrução será
longo e exigente. Algumas aldeias ficaram praticamente destruídas e muitos dos
seus habitantes perderam todos os seus haveres. Ajudá-los a reconstruir a sua vida,
com casa e condições dignas, não se opera apenas no primeiro momento; exige uma
partilha mais alargada no tempo. Daí que a Cáritas Diocesana de Coimbra esteja
já no terreno a fazer levantamento de necessidades para orientar um programa de
apoio às pessoas e às populações. As comunidades paroquiais têm aqui um dever
cimeiro, como testemunho de fraternidade e caridade, correspondendo aos pedidos
do Bispo Diocesano e do serviço referido. Conscientes, ainda, de que não se
trata simplesmente de um apoio técnico, mas de um auxílio que traduza a nossa
proximidade e afeto. Como referia o pároco de Pedrógão Grande, Pe. Júlio Santos,
numa entrevista à Agência Ecclesia e com palavras que eu próprio lhe ouvi, em
conversa pessoal, este momento exige muita proximidade afetiva, para minorar
uma dor imensa, de gente que perdeu tudo, quer familiares, quer bens
essenciais. O que fizermos que o façamos sempre com este amor e a proximidade
possível.
3. Em terceiro lugar, urge implementar as
medidas administrativas já definidas para a gestão da nossa floresta. Já em
2012, a propósito de um artigo no âmbito da Pastoral do Turismo, cuja direção
me está confiada, pude escrever «num país verde, como Portugal, infelizmente
tão flagelado pelos incêndios florestais, é urgente uma nova política para a
floresta e para a reflorestação». Nessa ocasião li mesmo a documentação legal
existente sobre a gestão da floresta em Portugal. E pude concluir, então, como
várias personagens, de quadrantes sociais e políticos distintos, o têm referido
agora, que os estudos estão feitos, as necessidades estão identificadas; as
metodologias estão definidas. Basta apenas vencer o que se tem tornado mais
difícil: a inércia na aplicação de tais normas.
Este
não é um tempo de balanços e de grandes análises, como muitos têm afirmado. Sem
dúvida! Contudo, fica-nos a certeza de que se não tivéssemos abandonado as nossas
florestas não seriamos agora vítima delas, como temos sido. Se não cuidarmos da
natureza, será ela que se voltará contra nós. E nós?!… Nós não queremos chorar
mais mortos de tão inglórios infortúnios!
Pampilhosa, 22 de Junho de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(50ª Reflexão)