quarta-feira, 21 de junho de 2017

Fátima


FÁTIMA

   Estamos no mês de Maio! Um período do ano habitualmente dedicado a Nossa Senhora. Se o mês de Maio, como mês de Maria, vem já de longe na nossa história, ligado às devoções marianas; ganhou, para nós, um novo sentido com as aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na Cova da Iria, aos pequenos pastorinhos. Maio tornou-se o mês da Senhora de Fátima – nas celebrações marianas que pautam a vida de algumas das nossas comunidades paroquiais, das nossas famílias ou de algumas pessoas individualmente, com a celebração comunitária ou pessoal do terço; nas múltiplas peregrinações penitenciais ou de ação de graças, que enchem as nossas estradas e caminhos, de norte a sul do país, em direção ao santuário de Nossa Senhora; nas celebrações festivas do treze de Maio, que se renovam em cada ano, na consagração a Deus mediante a intercessão maternal de Maria.

   Este ano o mês de Maio ganha um novo colorido e uma nova alegria, na multiplicidade de acontecimentos que viveremos nas celebrações aniversárias, particularmente neste treze de Maio: o Centenário das Aparições aos pastorinhos, na Cova da Iria; a canonização de dois deles – Francisco e Jacinta Marto -; e a visita do Papa Francisco, que virá a Fátima como peregrino «na Paz e na Esperança». Certamente um momento de grande alegria para muitos de nós!

   Mas, no contexto do Centenário das Aparições, muitas vozes se têm levantado em torno da análise do que realmente se passou, há cem anos atrás, no descampado da Cova da Iria. Temos assistido a uma excessiva preocupação de clarificar conceitos como aparição ou visão. Sem me querer deter excessivamente nesta questão, direi apenas que Nossa Senhora apareceu efetivamente aos pastorinhos, porquanto aparição significa, entre outros sentidos, «visão sobrenatural». Ora, é evidente que Maria não apareceu de forma corpórea, física, àquelas crianças, mas sim numa visão espiritual – a «visão sobrenatural». Daí que Lúcia visse e ouvisse sempre Nossa Senhora, enquanto os dois irmãos, Francisco e Jacinta, tivessem experiências diferentes na visão e escuta da «Senhora mais brilhante que o sol». O mesmo acontecendo com as multidões que, entretanto, se foram deslocando para a Cova da Iria, a cada dia treze, particularmente do mês de Outubro, que não vendo Nossa Senhora, apenas testemunharam os sinais da sua presença, como aconteceu com o denominado «milagre do sol». Na verdade, como refere o Cardeal Ratzinger, perfeito da Congregação da Doutrina da Fé, atual Papa emérito Bento XVI, a visão que os pastorinhos tiveram foi uma «força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível» (Comentário Teológico à Mensagem de Fátima). Isto é, não foi uma experiência meramente intelectual, muito menos fantasiosa, mas sim uma presença espiritual de tal ordem que bem podemos dizer que para aquelas crianças foi uma vivência real. Por outro lado, há ainda quem afirme que se tratou de uma mentira engendrada pelas crianças ou uma construção da Igreja Católica. Ora, nem aquelas simples crianças tinham capacidade de resistir às pressões a que foram sujeitas, pelas autoridades eclesiásticas e civis, inclusive com ameaças de morte, persistindo na mentira; nem a Igreja reconheceu imediatamente o fenómeno de Fátima, o que só viria a acontecer mais de uma década depois, em 1930.

   Fátima, cuja mensagem «profética» se foi desvendado ao longo destes cem anos, é hoje um singular espaço de espiritualidade. Ali vivemos facilmente a experiência do sobrenatural. E é ainda na história - de cada peregrino, de cada peregrinação, de presença de cada um dos últimos Papas, a começar logo em Paulo VI, em 1967 - que experimentamos o autêntico dom de Deus que, por Maria, Ele nos quer oferecer.

  Mas, mais do que qualquer outra consideração, em Fátima cada um de nós encontra a ternura de uma Mãe que nos acolhe – nas nossas alegrias, tristezas, esperanças e inquietações – e com a sua solicitude maternal nos encaminha para o coração amoroso de seu Filho e para a comunhão amorosa com o Deus Trindade.

   Que Ela, a Mãe que amorosamente quis habitar no meio de nós, nos acolha, nos escute e nos conduza à vida plena no seu Filho Jesus Cristo, a Quem permanentemente nos oferece!

Pampilhosa, 04 de Maio de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(45ª Reflexão)