sábado, 18 de abril de 2009

Os Álvares Pereira e Águas Belas!

Já há algum tempo escrevia aqui sobre algum relacionamento familiar de D. Nuno Álvares Pereira com a minha freguesia de origem - Águas Belas. Esse relacionamento advém do facto de o Santo Condestável ser meio irmão de D. Rodrigo Álvares Pereira, ambos filhos de D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato.
Efectivamente, D. Rodrigo Álvares Pereira, legitimado pelo Rei D. Pedro a 26 de Agosto de 1357, foi constituido pelo seu tutor, Álvaro Fernandes, escudeiro do Infante D. Pedro, a 6 de Setembro de 1356, morgado da Quinta de Orjais e de Águs Belas (Ferreira do Zêzere), com todas as dependências, senhorio, couto, honra, jurisdição e padroado da igreja. (1) A instituição do morgado de Águas Belas viria a ser confirmada por D. Pedro, a 20 de Maio de 1361. (2)
Acrescem ainda outros senhorios que lhe foram doados, agora por D. Fernando, a 14 de Dezembro de 1375, como as vilas de Sousel, Vila Nova, Vila Ruiva, e as azenhas de Anhalouro e de Bamlhequero, no termo de Estremoz. (3)
Relativamente a Águas Belas o mesmo atesta o excerto seguinte:
«A história desta localidade anda de braço dado com a da fundação da nacionalidade e com as principais famílias do Reino, daí que num documento datado de 1222 encontramos já uma referência, quiçá a mais remota que se conhece, a "abas de aquabela" o que nos permite concluir não só da antiguidade deste povoado como da existência de um representante do clero nos seus limites geográficos.
Já no século XIV, mais concretamente em 6 de Setembro de 1356, El Rei institui um Morgado de Aguas Belas entregando-o ao fidalgo Rodrigo Alvares Pereira, irmão daquele que viria mais tarde a ser o Condestável do Reino e filhos ambos de Alvaro Gonçalves Pereira.» (4)
Ora, D. Rodrigo torna-se assim o primeiro senhor de Águas Belas; sucedendo-lhe depois Álvaro Pereira, Galiote Pereira, João Pereira, Rui Pereira, sendo posteriormente integrado na Coroa, uma vez que Rui Pereira não teve descendentes. Todavia, Violante Pereira contesta esta decisão, tendo ganho a posse do morgado de Águas Belas que passou para as mãos de seu filho. Violante Pereira havia casado com Francisco Sodré, que viria a morrer na Índia. (5) Deste casamento advém o nome dos Sodré Pereira, que continuaram a ser os senhores de Águas Belas. (6)
D. Rodrigo, que lutou ao lado de D. João I, o Mestre de Avis, na defesa de Lisboa contra os castelhanos e no cerco de Torres Novas, viria a ser aprisionado na sequência desta última batalha, e libertado em Santarém, quando esta cidade voltou à posse de Coroa Portuguesa. Todavia, fruto de algumas «desinteligências», viria a morrer em Castela, perdendo algumas mercês. (7)
Ora, aqui está toda uma realidade histórica que religa a minha «pátria» à memória da família Álvares Pereira. Desde miúdo ouvia falar da Quinta dos Pereira, na chamada Águas Belas velha, sem saber deste relacionamento familiar.
Aqui está também uma razão, que por si só, legitima esta vontade indómita de participar na canonização de D. Nuno. Certamente acrescida de muitas outras: a sua santidade - deste santo Português -; a sua intima relação com nossa identidade; a sua capacidade de se desprover de tudo para abraçar o «bem maior»; e, mesmo, a sua relação com a Ordem do Carmelo, que me faz ligá-lo espiritualmente àqueles que, mais tarde, apenas no século XVII, povoaram e renovaram a bela Mata do Buçaco - a Ordem dos Carmelitas. Por tudo isto, participar num momento tão significativo da nossa memória, da nossa identidade e da nossa espiritualidade, torna-se para mim um dom.







(1) Sérgio Sodré, www.geneall.net
(2) Ibidem
(3) Ibidem
(5) Sérgio Sodré, www.geneall.net
(6) Ibidem
(7) Ibidem
Vide também http://www.geneall.net/ (Rodrigo Álvares Pereira e D. Nuno Álvares Pereira)