Detendo-me algum tempo numa pesquisa sobre a Igreja, na Internet, constatei que nela encontramos uma multiplicidade de artigos, opiniões e comentários sobre a «crise da Igreja». Muitos afirmam que ela provém da infiltração do «modernismo» no seu próprio seio. Há mesmo quem chegue a afirmar que o maior problema da Igreja é a sua «falta de paternidade». Alguém ainda, numa crítica ao Vaticano II, considerava este Concílio o «culpado» do momento presente, já que este foi um «concílio atípico», como ali se escrevia. Fiquei estupefacto com o conjunto de artigos que apelam a um regresso ao exercício do poder, a um certo «triunfalismo», a uma atitude muito mais jurídica do que carismática - mais centrada no exercício da lei do que na graça, que a Igreja é chamada a anunciar e a celebrar. No meu interior, duas questões se formulavam: porquê este regresso ao «triunfalismo»? Que atitudes ou que realidades têm fundamentado esta ânsia de afirmação mais consentânea com a ala conservadora da Igreja? E não hesito em responder, mesmo que correndo o risco de ser simplista: a incapacidade de a Igreja continuar a trilhar o caminho que definiu para si própria - uma Igreja de Comunhão, de verdadeira Colegialidade, de promoção de uma participação igual de todos os fiéis, como consequência de uma mesma dignidade baptismal, como advoga a Lumen Gentium do Vaticano II! O Pontificado de Bento XVI poderá vir em auxilio desta visão conservadora, que com tanta força se vai manifestando no novo areópago da comunicação. As suas tomadas de posição - nomeadamente em relação aos mais tradicionalistas; ou, mormente, no levantamento da excomunhão dos bispos «lefebvrianos», como são conhecidos; a sua concepção «monárquica» da Igreja, com uma perspectiva centralizadora; o seu regresso ao rito litúrgico do pré Vaticano II; a forma como se apresenta, não raro ostentando alguns sinais de regresso ao passado no uso de alguma indumentária papal; certamente que dão um tom muito próprio a este Pontificado. Ora, num mundo marcado por uma mudança célere, que cada vez menos parece identificar-se com esta «visão da Igreja», fica-me a preocupação interior: até que ponto estamos, ou não, a ser fiéis à missão que nos cabe - que outra não é senão evangelizar cada tempo -, numa atitude de convergência com o tempo que é o nosso? Óbviamente que entendendo «convergência» não como aceitação irreflectida de todas as propostas da pós-modernidade em que vivemos (tantas vezes vazia de sentido!), mas numa atitude de verdadeiro diálogo com o presente. Dá-me a sensação que perante desafios tão profundos, como estes que o presente nos coloca, a Igreja se escuda num conjunto de sinais que nos fazem regressar ao passado!... Inequivocamente, a Igreja, na hora presente tem de fazer um sincero «aggiornamento»: assumir esta hora e suas preocupações e responder-lhes com actualidade, com determinação, com confiança; mas apenas baseada na força da Palavra e no dinamismo do Espírito que a torna actual. Neste sentido, a Igreja tem de regressar ao passado, sim; não ao passado mais recente (que aqui compreendemos, de modo alargado, como os últimos cinco séculos), mas sim ao passado mais distante, o da primeira geração da Igreja - à Igreja das origens, dos apóstolos, dos padres... Isso: aos primeiros séculos. Inequivocamente aqueles que maior luz lançam sobre a nossa realidade presente e nos permitem iluminá-la com o verdadeiro «esplendor da verdade»!