sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Família!


FAMÍLIA

   A família constituiu a estrutura de base na gestação, educação, crescimento, e acompanhamento de cada pessoa; sendo ainda o suporte fundamental da vida em sociedade. Mas, essencialmente, a família é uma comunidade de pessoas, unidas pelo vínculo singular do amor. Com razão afirma a Exortação Apostólica, do Papa João Paulo II, Familiaris Consortio: “A família, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas: os esposos, homem e mulher, os pais e os filhos e os parentes. O seu primeiro dever é viver fielmente a realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer a autêntica comunidade de pessoas. O princípio interior, a força permanente e a meta última de tal dever é o amor. Como, sem o amor, a família não é uma comunidade de pessoas, assim também sem o amor, a família não pode viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas” (FC. 18).

   Todavia, nos tempos que correm, a família, apesar dos sinais positivos da “consciência da liberdade pessoal”, da “maior qualidade das relações interpessoais no matrimónio”, da “promoção da dignidade da mulher”, da “procriação responsável” e da “educação dos filhos” (cf. FC. 6); sofre grande degradação quanto a alguns dos seus valores fundamentais: “errada concepção teórica e prática da independência dos esposos entre si”, “ambiguidades na relação de autoridade entre pais e filhos”, “dificuldade na transmissão de valores”, “número crescente de divórcios”, a realidade do “aborto”, a “esterilização” ou mesmo a instauração de uma mentalidade contraceptiva” (cf. FC. 6). A família tem sido, nas últimas décadas, uma instituição em permanente questionamento. Apesar de todas as dificuldades que enfrenta, a família é a estrutura base da sociedade, o seu autêntico «fundamento» (GS. 52), comunidade primeira de onde todos provimos, onde crescemos e onde permanentemente encontramos o nosso abrigo pessoal e afetivo; capaz de corresponder a todas as nossas necessidades humanas. Enfraquecer a família significa comprometer o desenvolvimento pessoal, o equilíbrio social e os valores que nos permitem realizarmo-nos como pessoas, bem como comprometer na nossa interação em sociedade.

   O tempo de Natal, que estamos ainda a viver, é um convite profundo ao reconhecimento e valorização da vida familiar: seja pela via litúrgica, da celebração da Sagrada Família, festa que se insere nas solenidades que celebramos; seja pela via simplesmente humana, em que cada um vive, em contexto familiar, esta quadra natalícia! Aliás, para muitos, a festa de Natal confunde-se mesmo com a festa da família. Mesmo quando, para outros, esta festa familiar é vivida na tristeza, na incerteza, no desconforto ou mesmo na dor. Realidades que merecem a nossa proximidade afetiva, acolhimento e compreensão.

  Não basta, contudo, que se afirmem os valores familiares; tão pouco é suficiente que a família tenha este lugar especial nestas celebrações natalícias;  é fundamental que nela se redescubra permanentemente o amor que a fundamenta e a une, na consciência de que é uma comunidade de pessoas, que partilham não apenas um mesmo espaço, mas as suas vidas e os seus afetos.

   Muitos entendem que a defesa da família continua a ser, nos dias que correm, uma espécie da «bandeira» da Igreja; todavia, pela sua identidade e missão, ela é insubstituível para a realização da pessoa humana. Daí que todos nos sintamos chamados a cuidar dela: seja a nível das instituições, seja nas vivências pessoais.

   «Familia, torna-te aquilo que és!» - foi o convite dirigido pelo Papa João Paulo II a todas as famílias do mundo, em 1981, na Exortação Apostólica já anteriormente referida! Julgo que o mesmo grito deve ecoar nos dias de hoje: não apenas para salvaguardar uma instituição; mas fundamentalmente para assegurar o bem da pessoa – de cada pessoa! – e o autêntico equilíbrio da vida em sociedade!

 
Pampilhosa, 29 de Dezembro de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(28ª Reflexão)