É incrível como um homem - culto; prémio nobel; com responsabilidades sociais acrescidas! - que é pretenso paladino da tolerância entre pessoas que constituem a mesma humanidade, consegue ser tão intolerante com os outros, quando partilham vivência espirituais e religiosas diferentes das suas!... É sobretudo curioso como se consegue ser tão contraditório - em nome da tolerância, defende-se o uniformismo, a impossibilidade de se assumir a diferença! Tudo isto vem a propósito da defesa acérrima que o escritor faz do total ateísmo, publicada no JN deste domingo. José Saramago não só defende um mundo completamente ateu, como não deixa de chamar «parasitas da sociedade» aos Bispos, Cardeais e até ao próprio Papa. Que defenda o ateísmo, compreenderei bem - insere-se (julgo!) nas suas mais profundas convicções! Agora, que não seja capaz de assumir que vive num mundo de diferenças ideológicas, religiosas e espirituais... já me custa a aceitar! Com que crédito podemos acolher as suas palavras quando estas se opõem às (más) relações entre religiões? Afinal, não é ele o primeiro a ser intolerante face à convicção dos outros? Ou será ele o iluminado; uma espécie de «messias» do ateísmo? Enfim... fique-nos a sua obra (que respeito quanto ao mérito!...), pois o seu pensamento não me supreende quanto ao conteúdo! Surpreende-me, sim, a sua contradição de discurso!