quinta-feira, 28 de junho de 2007

Perda e Encontro do Sagrado!

O tempo presente é marcado por uma perda e, simultaneamente, por uma nostalgia do sagrado. As Igrejas ditas tradicionais parecem não convencer, não motivar os mais novos a participar na sua vida e nas suas celebrações, sendo estes cada vez mais seduzidos por formas de espiritualidade mais individual e atraídos por novas práticas, caracterizadas, algumas delas, por um forte exotismo. Aliás, esta espiritualidade vende-se hoje como tantas outras coisas, numa complexa procura de felicidade e bem-estar. Basta olhar os escaparates de algumas livrarias, com suas secções de “Espiritualidade e Esoterismo”.
Se em causa está um fenómeno religioso e cultural complexo, que exigiria uma análise exaustiva destas novas expressões da religiosidade actual, não deixa de estar, também, uma provocação implícita às Igrejas, que identificamos como tradicionais, nomeadamente à Igreja Católica.
Desde logo, não obstante a sua missão primeira de ser enviada a Evangelizar, continuamos a deparar-nos com uma formação religiosa deficiente, assente numa prática muito ritualizada e sem grande exigência em termos de verdadeira Iniciação Cristã. Espelho disto mesmo são as nossas catequeses. Estamos convictos (e digo-o no plural, porque não sou apenas eu a afirmá-lo!) que a formação cristã que ministramos não chega a tocar, em muitas circunstâncias, o âmago das vivências pessoais, capaz de fazer, de quem por ela passa, verdadeiros discípulos de Cristo, objectivo definido como essencial. E pactuamos com este status quo, ao mantermos os mesmos esquemas, as mesmas exigências e as mesmas práticas. De algum modo, iludimo-nos, numa prática entre vivências de Cristandade e novos tempos.
Urge, inequivocamente, encontrar novos caminhos, novas práticas, novas exigências – talvez a adequação de um Catecumenado sério, adaptado aos nossos tempos.
Uma das ambiguidades deste tempo é precisamente a contradição entre o excesso de movimento, de barulho, de agitação, próprios do mundo hodierno, e a ânsia de silêncio, de recolhimento, de meditação, tão bem expresso nas diversas formas de yoga e de novas vivências espirituais, marcadas pelo recolhimento, importadas da tradição Oriental.
Ora é aqui que a Igreja tem de investir também. Sem silêncio, sem meditação, sem recolhimento, prendemo-nos excessivamente ao ritual, ao exterior, que a certo momento deixa de assumir novidade, tornando-se cansativo, repetição de gestos e de palavras que carecem da sua dinâmica interior. A Igreja tem hoje de investir cada vez mais aí: em recuperar espaços de interioridade, que dêem sentido à experiência religiosa, que é, simultaneamente, encontro com os outros e encontro com o Outro. Sem esta experiência de fundo, a vivência espiritual não tem raízes e, como tal, dificilmente pode produzir frutos.
Tanto mais que se vulgariza a procura da igreja em momentos de silêncio e de solidão, como espaço apaziguador; se encontram necessidades de escuta do silêncio (quantas vezes através da música!), como possibilidade de encontro consigo próprio.
O Papa, em comunhão com os Bispos, vem, em certo sentido, colocar a tónica na necessidade de interioridade, ao chamar a atenção para as nossas celebrações, na Exortação pós-sinodal Sacramento da Caridade. E nós devemos usar critérios claros de leitura destas propostas, não nos deixando enredar numa poeira informativa que, de imediato, se levanta em torno destas orientações.
Há um longo caminho a percorrer. Mas encontramos sinais positivos. Recordo dois: há uns anos, quando pároco de Bolho, ouvia da boca de uma catequista a chamada de atenção das suas crianças para a necessidade de falar com Jesus, junto ao Sacrário, como tinham feito uma vez; e hoje, pároco de Luso, dou graças a Deus por um conjunto de Jovens (a celebrar os vinte e cinco anos da sua Associação de Jovens Cristãos!) pelos tempos de silêncio e recolhimento que sabem viver, acompanhados pela simbologia da tenda, quando a par de momentos de descontracção e de lazer, se encontram uns com os outros e com o Outro, chamado Jesus, em momentos de silêncio fecundo.
Afinal, não nos é pedido nada de particularmente novo, mas de potenciarmos uma experiência fundante da Igreja, numa capacidade de diálogo com este tempo, assumindo esta sensibilidade a um conjunto de valores, mas também as diferenças que nos distinguem, sem receio e com determinação.


Carlos Alberto da Graça Godinho