terça-feira, 25 de outubro de 2016

Idosos!


                                        IDOSOS                                            

   Celebrámos, no passado dia um de outubro, o Dia Internacional do Idoso. Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1991, este ano teve como lema: Tome uma posição contra o envelhecimento. Visando a «tomada de consciência das atitudes negativas e discriminatórias», que hoje se vivem, em razão da idade, e seu «consequente prejuízo nas pessoas idosas», pretendeu-se alertar, com esta celebração, para a consciência de que todas as pessoas de idade têm o direito de alcançar o seu pleno potencial, ao mesmo tempo que a sociedade cumpre a sua promessa de construir uma vida de dignidade e de respeito pelos direitos humanos de todos, segundo a declaração de Ban Ki-moon, Secretário-geral da ONU.

   Em Portugal, conforme as últimas estatísticas do INE, cerca de vinte por cento da população tem mais de sessenta e cinco anos. Numa tendência progressiva de acréscimo, atendendo à baixa natalidade que se regista entre nós. Aliás, Portugal é mesmo um dos países europeus com uma das taxas de natalidade mais baixa, como se pode averiguar dos dados relativos à União Europeia.

   Na abordagem do conceito de pessoa idosa e como consequência de uma maior longevidade, mencionamos hoje uma terceira e uma quarta idade, que claramente se distinguem entre si. Na terceira idade, concretamente no exercício de uma “segunda maternidade”, enquanto avós, muitos são os idosos que desempenham tarefas fundamentais para o equilíbrio familiar. Como bem refere o Documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2015, denominado: A Vocação e a Missão da Família na Igreja e no Mundo Contemporâneo, muitos avós «ocupam-se dos netos», educando-os e transmitindo-lhes, inclusive, o próprio dom da «fé». Garantindo ainda, quantas vezes de forma silenciosa e discreta, um «precioso apoio económico aos jovens casais» (nº 18).

   Contudo, um dos primeiros deveres que todos temos de assumir para com os idosos – na terceira ou quarta idade - é o do reconhecimento e do autêntico respeito. Melhor ainda: o dever de um reconhecimento amoroso e de um respeito reverencial. Sabendo que os idosos «constituem o elo de união entre as gerações, garantindo a transmissão de tradições e hábitos nos quais os mais jovens podem encontrar as próprias raízes» (nº 18). Assim é, de facto, nalgumas sociedades organizadas segundo modelos ancestrais, onde os idosos continuam a ser reconhecidos na sua sabedoria e vivência, merecendo por parte da comunidade o respeito e mesmo uma certa veneração. Entre nós, nas denominadas sociedades desenvolvidas, tendemos a perder este sentido humano do lugar devido ao idoso. Centrados na produtividade, na eficácia e numa conceção hedonista da vida, os idosos podem parecer socialmente dispensáveis ou, de alguma forma, limitadores dessa fruição livre e completa da vida, transformando-se num certo peso familiar e social. Como refere o Papa Francisco: «o número de idosos multiplicou-se, mas as nossas sociedades não se organizaram suficientemente para lhes deixar espaço, com o justo respeito e a concreta consideração pela sua fragilidade e dignidade» (nº 17). É certo que as condições de vida se alteraram, mormente as condições laborais e familiares. Contudo, mesmo em novos contextos, é nosso dever cuidar zelosamente dos nossos idosos! Proporcionando-lhes novas oportunidades de criatividade, de aprofundamento de conhecimentos e de uma vivência jubilosa deste momento da sua vida e da sua história. Infelizmente, entre nós, um dos principais problemas dos idosos continua a ser o isolamento e a solidão, à semelhança de outros países, associados, quantas vezes, à pobreza e à desnutrição, fruto dos seus parcos rendimentos e reformas! Uma interpelação pessoal, a cada um singularmente e a todos, enquanto sociedade.

   Necessitamos de redescobrir a dignidade da pessoa idosa e de a revalorizar: em contexto familiar, institucional e comunitário; com um novo enquadramento mental e social. A interação entre gerações, particularmente entre os mais novos e os mais velhos, bem pode desempenhar aqui o papel pedagógico relativamente a este desiderato. Relembrando aquele princípio de Jean-Jacques Rosseau: «A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar»!

 

Pampilhosa, 13 de Outubro de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(19ª Reflexão)