sábado, 7 de julho de 2007

Missa no Rito Antigo!

Acabo de receber notícia da Agência Ecclesia, onde se explicam as razões da permissão do uso do Rito de São Pio V, ainda que de forma extraordinária. Na verdade, a primeira razão é a da reconciliação com uma facção que nunca aceitou o Novo Rito, promulgado pelo Vaticano II. Contudo, a par desta razão, aparecem-nos outras razões, de não menor importância, de entre as quais sobressai o desejo de revalorizar a Eucaristia.
De facto, eu próprio subscrevo a necessidade de uma atenção constante ao modo como se celebra, à dignidade da celebração, ao cuidado em fazer da Eucaristia uma verdadeira expressão de encontro com o Sagrado. Ainda há dias publicava um pequeno artigo sobre a necessidade de criarmos espaços de silêncio e de espiritualidade nas nossas Igrejas e nas nossas celebrações. Todavia, o Novo Rito permite-nos isso mesmo e deverá ser continuamente revalorizado, de modo a que a Eucaristia se torne numa verdadeira fonte de encontro com Cristo e de renovação das Comunidades Cristãs.
Receio, porém, que alguns padres (com o devido respeito pela orientação de cada um!) façam um uso indiscriminado deste rito antigo, privando os fiéis da participação na fonte da vida cristã, que é a Eucaristia. Repito o que disse anteriormente: a Eucaristia permite-nos uma imagem da Igreja que somos. A Eucaristia segundo o Novo Rito, que provém do Vaticano II , permite-nos perceber a Igreja como comunidade ministerial, como verdadeira comunidade, como Igreja que assume como seu um dom fundamental que o Senhor oferece a todos os seus discípulos. E não tenhamos qualquer receio desta ou daquela presença dos Leigos. Afinal, somos todos participantes de uma mesma igualdade fundamental e de uma mesma dignidade que nos vem do baptismo (cf. Lumen Gentium, nº 32 - Cap. IV); somos todo igualmente convidados à mesma santidade (cf. Lumen Gentium, Cap. V). Espero, sinceramente, que esta permissão aproxime os que de algum modo estavam separados da comunhão da Igreja, mas que não seja motivo de privar os fiéis dos direitos que lhe são devidos. Senão, entramos aqui no domínio da injustiça, uma vez que privamos de uma fecunda participação nos Mistérios da Fé aqueles que têm direito a participar neles o mais profundamente possível. Sempre na complementaridade dos Ministérios, para bem de todo o Povo de Deus.
Já nem me refiro a uma certa saudade do passado, presente em certas facções da Igreja e que alguns Bispos bem interpretaram no Sínodo de 2005. Peço a Deus que o maior dom concedido à Igreja no século XX - o Vaticano II - não sofra agora "emendas" que lhe venham retirar a sua eficácia. Bem pelo contrário: precisamos de Bispos, Padres, Leigos, Religiosos e Religiosas que assumam o Concílio Vaticano II como um grande dom feito à Igreja pelo Espírito Santo e que tudo façam para que a Igreja de hoje chegue aos desígnios de Deus ali presentes. Neste sentido, recordo o grande dom que foi o Papa João XIII, por quem nutri sempre um carinho especial, mesmo não o tendo conhecido, esperando que tenhamos hoje a mesma abertura de espírito que ele teve no seu tempo e na condução da Igreja face aos tempos futuros.
Pe. Carlos Alberto Godinho