terça-feira, 3 de julho de 2007

Acolher-se!

Na sequência de algumas conversas e na consciência de mim próprio, reflectia, há dias, que um dos primeiros deveres para connosco é o de sabermos acolher-nos! Sim, viver o acolhimento para connosco!
É curioso que um dos significados de acolhimento é aceitar na sua companhia. Ora, é aqui que tanta gente vive claras dificuldades! Ou porque é incapaz de se aceitar em todo o seu ser; ou porque não gosta de si, por comparação com outros; ou porque vive em conflito com padrões e orientações sociais; ou, ainda, porque vive em conflito com ideais morais e religiosos.
Em qualquer circunstância, o dever de cada um é o da aceitação incondicional de si e, portanto, saber acolher-se verdadeiramente como sua companhia. Só assim será possível alguém viver a tranquilidade, o bem estar interior e a valorização pessoal.
Mas ao referir este acolhimento não o confundo com mera desculpabilização ou justificação. É muito mais do que isso: é a aceitação incondicional de todas as dimensões da sua vivência pessoal. Só então, partindo desta consciencialização e aceitação, alguém poderá encetar um caminho de transformação, no sentido de encontrar caminhos de maior felicidade e de maior realização. A inaceitação de si não gera mudança; gera, isso sim, fuga, incapacidade de consciencializar a sua realidade, tensão pessoal, neurose. Só aquele que se acolhe é capaz de tomar consciência de si, de fazer opções serenas e correctas e de se valorizar.
Por outro lado, quem não se acolhe, vivendo em tensão consigo, vive uma maior dificuldade de valorizar a vida e de acolher os outros. A inaceitação do outro, na sua identidade e na sua diferença, resulta muitas vezes desta incapacidade de se aceitar a si próprio. O outro não aparece como ser livre diante de mim, mas como possível ameaça à minha sensibilidade e aos meus critérios. Isto é, censuro nele o que em mim não aceito; julgo-o fácilmente, porque vivo a mesma atitude para comigo.
Uma sã aceitação de si permite tranquilidade, paz interior, acolhimento dos outros, valorização pessoal e crescimento contínuo.
Por fim, resta-nos ainda esta certeza: Deus acolhe-me tal qual sou. Não me pergunta se sou bom ou se menos bom; se sou mais perfeito ou menos perfeito... Ama-me pelo que sou e não pelo que vivo. Saber-se amado incondicionalmente por Deus é caminho de felicidade e provocação a deixar crescer esta aceitação de nós próprios no mais íntimo do nosso ser.
Neste sentido, vale a pena ler o texto Ama-me tal como és, no qual Deus afirma: «se esperas ser perfeito para me amar, nunca chegarás a amar-Me».
Teremos de aprender sempre com o coração de Deus, fonte de todo o amor, para sabermos amar-nos tal como somos e, assim, sabermos acolher-nos!