TURISMO
ACESSÍVEL A TODOS
O Dia Mundial do Turismo, celebrado no passado dia 27, convida-nos a
viver o princípio definido pela Organização Mundial de Turismo (OMT): Turismo
para todos: promover a acessibilidade universal. Tendo em consideração o
tema proposto pela OMT e pelo Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes
e Itinerantes, organismo da Igreja Católica, que se associa, desde início, a
este dia, na qualidade de diretor do organismo de Pastoral do Turismo, em
Portugal, escrevi a nota nacional que fiz assentar em dois pilares
fundamentais, para que o turismo seja realmente acessível a todos: o desenvolvimento do denominado "turismo
social" e a criação de condições de mobilidade para todos aqueles que
estão limitados nessa mobilidade por qualquer forma de deficiência. Se para
estes últimos a permanente preocupação será a de promover um turismo
integrador, que resulte, desde logo, na criação de condições de acesso aos
diversos locais de interesse turístico, com a implementação de rampas, ou ainda
à instalação de dispositivos que respondam às diversas formas de limitação, em
linha, de resto, com muita da legislação portuguesa já em vigor; já para os
primeiros a realidade é mais complexa. Vivemos, em Portugal, num contexto socioeconómico
desfavorável a muitos. Com um cômputo geral de cidadãos nacionais que se
encontram em pobreza ou em vias de pobreza, a cifrar-se nos dois milhões, sendo
que um em cada cinco portugueses vive numa realidade socioeconómica deficitária.
Sendo assim, podemos perguntar-nos: será o turismo uma prioridade, quando
existem tantas outras carências humanas básicas não satisfeitas? Diremos que
sim! Não sendo o turismo, é certo, uma prioridade na satisfação dessas
necessidades básicas, é todavia um direito que assiste a todos, independente
das suas condições económicas! Assim o defende o Código Mundial de Ética do
Turismo, ao afirmar: «o turismo constitui um direito aberto do mesmo modo a
todos os habitantes do mundo e nenhum obstáculo dever ser interposto no seu
caminho» (Art. 7ª, nº 1).
É que o turismo não contempla apenas a realidade do lazer, enquanto
repouso, que já de si é um direito de todos; mas é igualmente fonte de conhecimento
de outros povos e culturas; promotor da paz e do diálogo entre pessoas e comunidades;
autêntica possibilidade de crescimento pessoal, na formação cultural, humana,
cívica e espiritual. Um meio inequívoco de formação e de educação.
Para que estes benefícios, próprios do turismo, sejam acessíveis a
todos, e particularmente aos mais desfavorecidos economicamente, exige-se hoje
um maior compromisso social das entidades públicas e privadas, com autênticas
responsabilidades na promoção das pessoas e comunidades que servem ou onde se
inserem. Mas exige igualmente um sentido profundo de partilha e de
solidariedade entre membros de uma mesma comunidade, permitindo que a partilha
de uns se transforme no bem de outros. O denominado «turismo social» resulta
desta congregação de vontades, envolvendo a todos. Múltiplas são as suas formas
de realização: desde as colónias de férias para crianças e jovens; a viagens
organizadas nas comunidades, acessíveis a quem tem menores rendimentos, ou
mesmo gratuitas, como acontece já com algumas das nossas entidades municipais,
com passeios definidos para determinadas faixas etárias; até às parcerias com
instituições orientadas para este tipo de turismo; entre tantas outras
possibilidades, no compromisso público ou privado.
A Organização Mundial de Turismo deixa-nos, este ano, um forte desafio
no sentido de esbatermos desigualdades, infelizmente tão desniveladoras da
realidade social. A bem de um princípio de direito, de integração e de
partilha. Um turismo acessível a todos deve ajudar-nos a reconhecer a dignidade
de tantos que habitualmente vivem em situações de precariedade, como que à
margem desses direitos que lhes deveriam ser assegurados. O compromisso da
partilha e da solidariedade, também no turismo, pode levar-nos a garantir a
muitos as condições de justiça e equidade que a realidade quotidiana não lhes
garante. Necessitamos também, nesta atividade humana, de promover uma
acessibilidade universal. A bem da justiça, da equidade e do respeito pela
dignidade de cada pessoa.
Pampilhosa, 29 de Setembro de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(17ª
Reflexão)