terça-feira, 4 de outubro de 2016

Turismo acessível a todos!


TURISMO ACESSÍVEL A TODOS

   O Dia Mundial do Turismo, celebrado no passado dia 27, convida-nos a viver o princípio definido pela Organização Mundial de Turismo (OMT): Turismo para todos: promover a acessibilidade universal. Tendo em consideração o tema proposto pela OMT e pelo Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, organismo da Igreja Católica, que se associa, desde início, a este dia, na qualidade de diretor do organismo de Pastoral do Turismo, em Portugal, escrevi a nota nacional que fiz assentar em dois pilares fundamentais, para que o turismo seja realmente acessível a todos: o desenvolvimento do denominado "turismo social" e a criação de condições de mobilidade para todos aqueles que estão limitados nessa mobilidade por qualquer forma de deficiência. Se para estes últimos a permanente preocupação será a de promover um turismo integrador, que resulte, desde logo, na criação de condições de acesso aos diversos locais de interesse turístico, com a implementação de rampas, ou ainda à instalação de dispositivos que respondam às diversas formas de limitação, em linha, de resto, com muita da legislação portuguesa já em vigor; já para os primeiros a realidade é mais complexa. Vivemos, em Portugal, num contexto socioeconómico desfavorável a muitos. Com um cômputo geral de cidadãos nacionais que se encontram em pobreza ou em vias de pobreza, a cifrar-se nos dois milhões, sendo que um em cada cinco portugueses vive numa realidade socioeconómica deficitária. Sendo assim, podemos perguntar-nos: será o turismo uma prioridade, quando existem tantas outras carências humanas básicas não satisfeitas? Diremos que sim! Não sendo o turismo, é certo, uma prioridade na satisfação dessas necessidades básicas, é todavia um direito que assiste a todos, independente das suas condições económicas! Assim o defende o Código Mundial de Ética do Turismo, ao afirmar: «o turismo constitui um direito aberto do mesmo modo a todos os habitantes do mundo e nenhum obstáculo dever ser interposto no seu caminho» (Art. 7ª, nº 1).

   É que o turismo não contempla apenas a realidade do lazer, enquanto repouso, que já de si é um direito de todos; mas é igualmente fonte de conhecimento de outros povos e culturas; promotor da paz e do diálogo entre pessoas e comunidades; autêntica possibilidade de crescimento pessoal, na formação cultural, humana, cívica e espiritual. Um meio inequívoco de formação e de educação.

    Para que estes benefícios, próprios do turismo, sejam acessíveis a todos, e particularmente aos mais desfavorecidos economicamente, exige-se hoje um maior compromisso social das entidades públicas e privadas, com autênticas responsabilidades na promoção das pessoas e comunidades que servem ou onde se inserem. Mas exige igualmente um sentido profundo de partilha e de solidariedade entre membros de uma mesma comunidade, permitindo que a partilha de uns se transforme no bem de outros. O denominado «turismo social» resulta desta congregação de vontades, envolvendo a todos. Múltiplas são as suas formas de realização: desde as colónias de férias para crianças e jovens; a viagens organizadas nas comunidades, acessíveis a quem tem menores rendimentos, ou mesmo gratuitas, como acontece já com algumas das nossas entidades municipais, com passeios definidos para determinadas faixas etárias; até às parcerias com instituições orientadas para este tipo de turismo; entre tantas outras possibilidades, no compromisso público ou privado. 

   A Organização Mundial de Turismo deixa-nos, este ano, um forte desafio no sentido de esbatermos desigualdades, infelizmente tão desniveladoras da realidade social. A bem de um princípio de direito, de integração e de partilha. Um turismo acessível a todos deve ajudar-nos a reconhecer a dignidade de tantos que habitualmente vivem em situações de precariedade, como que à margem desses direitos que lhes deveriam ser assegurados. O compromisso da partilha e da solidariedade, também no turismo, pode levar-nos a garantir a muitos as condições de justiça e equidade que a realidade quotidiana não lhes garante. Necessitamos também, nesta atividade humana, de promover uma acessibilidade universal. A bem da justiça, da equidade e do respeito pela dignidade de cada pessoa.

Pampilhosa, 29 de Setembro de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(17ª Reflexão)