IDOSOS
Celebrámos, no passado dia
um de outubro, o Dia Internacional do
Idoso. Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1991, este
ano teve como lema: Tome uma posição
contra o envelhecimento. Visando a «tomada de consciência das atitudes
negativas e discriminatórias», que hoje se vivem, em razão da idade, e seu
«consequente prejuízo nas pessoas idosas», pretendeu-se alertar, com esta
celebração, para a consciência de que todas as pessoas de idade têm o direito
de alcançar o seu pleno potencial, ao mesmo tempo que a sociedade cumpre a sua
promessa de construir uma vida de dignidade e de respeito pelos direitos
humanos de todos, segundo a declaração de Ban Ki-moon, Secretário-geral da ONU.
Em
Portugal, conforme as últimas estatísticas do INE, cerca de vinte por cento da
população tem mais de sessenta e cinco anos. Numa tendência progressiva de
acréscimo, atendendo à baixa natalidade que se regista entre nós. Aliás,
Portugal é mesmo um dos países europeus com uma das taxas de natalidade mais
baixa, como se pode averiguar dos dados relativos à União Europeia.
Na
abordagem do conceito de pessoa idosa e como consequência de uma maior
longevidade, mencionamos hoje uma terceira e uma quarta idade, que claramente
se distinguem entre si. Na terceira idade, concretamente no exercício de uma “segunda
maternidade”, enquanto avós, muitos são os idosos que desempenham tarefas
fundamentais para o equilíbrio familiar. Como bem refere o Documento
preparatório do Sínodo dos Bispos de 2015, denominado: A Vocação e a Missão da Família na Igreja e no Mundo Contemporâneo,
muitos avós «ocupam-se dos netos», educando-os e transmitindo-lhes, inclusive,
o próprio dom da «fé». Garantindo ainda, quantas vezes de forma silenciosa e
discreta, um «precioso apoio económico aos jovens casais» (nº 18).
Contudo, um dos primeiros deveres que todos temos de assumir para com os
idosos – na terceira ou quarta idade - é o do reconhecimento e do autêntico
respeito. Melhor ainda: o dever de um reconhecimento amoroso e de um respeito
reverencial. Sabendo que os idosos «constituem o elo de união entre as
gerações, garantindo a transmissão de tradições e hábitos nos quais os mais
jovens podem encontrar as próprias raízes» (nº 18). Assim é, de facto, nalgumas
sociedades organizadas segundo modelos ancestrais, onde os idosos continuam a
ser reconhecidos na sua sabedoria e vivência, merecendo por parte da comunidade
o respeito e mesmo uma certa veneração. Entre nós, nas denominadas sociedades
desenvolvidas, tendemos a perder este sentido humano do lugar devido ao idoso.
Centrados na produtividade, na eficácia e numa conceção hedonista da vida, os
idosos podem parecer socialmente dispensáveis ou, de alguma forma, limitadores
dessa fruição livre e completa da vida, transformando-se num certo peso
familiar e social. Como refere o Papa Francisco: «o número de idosos
multiplicou-se, mas as nossas sociedades não se organizaram suficientemente
para lhes deixar espaço, com o justo respeito e a concreta consideração pela
sua fragilidade e dignidade» (nº 17). É certo que as condições de vida se
alteraram, mormente as condições laborais e familiares. Contudo, mesmo em novos
contextos, é nosso dever cuidar zelosamente dos nossos idosos!
Proporcionando-lhes novas oportunidades de criatividade, de aprofundamento de
conhecimentos e de uma vivência jubilosa deste momento da sua vida e da sua
história. Infelizmente, entre nós, um dos principais problemas dos idosos
continua a ser o isolamento e a solidão, à semelhança de outros países, associados,
quantas vezes, à pobreza e à desnutrição, fruto dos seus parcos rendimentos e
reformas! Uma interpelação pessoal, a cada um singularmente e a todos, enquanto
sociedade.
Necessitamos de redescobrir a dignidade da pessoa idosa e de a revalorizar:
em contexto familiar, institucional e comunitário; com um novo enquadramento
mental e social. A interação entre gerações, particularmente entre os mais
novos e os mais velhos, bem pode desempenhar aqui o papel pedagógico
relativamente a este desiderato. Relembrando aquele princípio de Jean-Jacques
Rosseau: «A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época
de a praticar»!
Pampilhosa, 13 de Outubro de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(19ª Reflexão)