FÉRIAS
O
mês de Agosto é, pela sua natureza, o tempo de férias por excelência! Faz-se
genericamente uma pausa nas atividades quotidianas, quer a nível pessoal, quer
mesmo – nalguns setores – a nível institucional e empresarial. É ainda, para
muitos dos nossos concidadãos, o tempo de regresso ao país de origem (o seu
País!), para usufruírem do desejado reencontro familiar e do reencontro com o
torrão que lhes serviu de berço. O mês
de Agosto é ainda tempo de múltiplas celebrações e festas, sejam elas
religiosas, convívios locais ou familiares. É especialmente o tempo de rumar à
beira mar ou à serra, para aí usufruir do descanso que estas paragens
proporcionam. O mês de Agosto, no cômputo dos meses do ano, tem assim
características muito peculiares.
Não
é por acaso que os anglo-saxónicos designam, desde o séc. XIX, este período
como a silly season, referindo-se ao
período de férias de políticos, tribunais e até mesmo de jornalistas, remetendo-nos
para um conceito de tempo sem grande informação, em que se privilegiam assuntos
perfeitamente secundários ou de menor interesse. A silly season significa, portanto, este período do ano tipificado
pelo surgimento de notícias frívolas nos media.
Contudo, as férias são um direito dos trabalhadores, a que o Papa João
Paulo II, na sua Carta Encíclica Laborem
Exercens integra no conjunto das denominadas «subvenções sociais», inserindo-as
no «direito ao repouso» (LE. 19), que compreende não apenas o justo descanso
semanal, pelo menos ao «domingo» (LE. 19), mas igualmente o direito ao
«descanso mais longo: as férias uma vez por ano ou, eventualmente, algumas
vezes durante o ano, divididas por períodos mais breves» (LE. 19). Este direito
foi adquirido já no segundo quartel do séc. XX, vindo depois a desembocar na Declaração Universal dos Direitos do Homem,
aprovada a 10 de Dezembro de 1948, onde se estabelece, no artigo 24º: «Toda a
pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação
razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas».
Mas
o tempo de férias não vale como realidade em si mesmo; é importante enquanto
constitui paragem nas atividades quotidianas, permitindo o necessário repouso
pessoal, após um tempo longo de trabalho; o enriquecimento humano, pela maior
disponibilidade para a família, amigos e conterrâneos; de desenvolvimento
pessoal e cultural, pois é propício à leitura, à realização de viagens e visita
ao património; ou simplesmente à realização mais serena de hobbies pessoais. O tempo de férias está ao serviço da pessoa e do
seu desenvolvimento pessoal e comunitário. Fator importante é sempre o encontro
com os outros, a partilha, seja ela vivida em família, entre amigos ou em
grupo. Outros há, ainda, que aproveitam o tempo de férias para efetuar um
balanço pessoal da suas vidas e reacertarem perspetivas de futuro, nos caminhos
de peregrinação; ou, no mesmo contexto, tempo de repouso e de reencontro
espiritual, com os demais e com Deus. O tempo de férias tem rostos
diversificados, como diversificadas são as opções de quem as vive! Mas o tempo
de férias nunca pode ser entendido como um simples far niente; pois ele é, sim, um período aberto a uma enorme riqueza
humana e a possibilidade de uma enorme criatividade.
Não
podemos esquecer aqueles que, não obstante verem assegurado este direito – ao
gozo das férias -, não podem usufruir delas por limitações de carater
económico, familiar ou pessoal. Também nós, em comunidade, podemos minimizar
estas dificuldades, proporcionando localmente, a todos estes, meios de
descanso, de valorização cultural ou de encontro interpessoal, num esforço de
criatividade que valoriza as comunidades de pertença.
A
todos, votos de boas férias!
Pampilhosa, 04 de Agosto de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(12ª Reflexão)