TRADIÇÃO E
IGREJA
Com
o início do mês de Setembro, retomamos o comum das nossas vidas,
particularmente no âmbito profissional. Mas o início deste mês significa
igualmente a abertura de novos ciclos de vida e de aprendizagem. Assim acontece
com as nossas escolas, onde em breve se retomarão os ritmos normais de ensino e
aprendizagem, num novo ano letivo; na atividade de algumas empresas e espaços
comerciais, onde o ritmo de laboração e de vendas se retomam até ao próximo
verão; entre muitas outras atividades que se reiniciam, após um período mais
longo, ou breve, de paragem ou de relativa acalmia.
Também a Igreja retoma as suas atividades próprias, segundo um plano
pastoral, agora em elaboração, depois de um tempo de manutenção das atividades
indispensáveis à vivência e celebração da fé, no contexto do período de férias.
Cada vez mais, em conformidade com as novas exigências do mundo e da própria
realidade interna da Igreja, necessitamos de definir orientações claras de
ação, partilháveis por todos os elementos das comunidades cristãs,
especialmente por aqueles que nelas exercem maior responsabilidade. Sabemos que
para a maioria dos batizados, que nem sempre têm prática cristã, a Igreja deve
é manter essencialmente a tradição; isto é, manter simplesmente os seus ritos e
gestos, repetidos no contexto de cada ato sacramental, tempo litúrgico ou
momento do ano e respetivas festividades. Contudo, não é assim! A palavra
tradição, proveniente do latim traditio,
com o significado de «entrega» ou de «transmissão», significa, para a Igreja, a
permanente receção da Palavra de Deus e dos conteúdos da fé, para iluminar, com
a sua força, a vivência das pessoas e das comunidades, em permanente evolução.
E se há tempo que exige da Igreja uma capacidade de resposta célere, esse tempo
é este, em que vivemos, particularmente acelerado pelos desenvolvimentos
tecnológicos e sociais. A igreja, quer nos conteúdos da sua ação pastoral, sem
por em causa os princípios da fé, a que chamamos dogmas; quer na sua forma de
agir, não pode permanecer em imobilismos estéreis, incapazes de responder à
vida das pessoas. Assim, como em tudo o mais, também na Igreja a tradição é
viva: os conteúdos da fé adequam-se a novas realidades pessoais e sociais e as
formas de realização sintonizam igualmente com cada tempo e suas
características. Só assim a Igreja será fiel à sua missão e ao homem a quem é
enviada.
Acontece, contudo, um paradoxo frequente: aqueles batizados que mais
reclamam a adequação doutrinal da Igreja à vida das pessoas, são frequentemente
os mesmos que pretendem musealizar as práticas eclesiais, requerendo que tudo
se faça da mesma forma, como nas décadas ou mesmo séculos precedentes. Tal
acontece porque se retém da tradição simplesmente a forma e não o conteúdo,
quantas vezes desconhecido ou desvalorizado.
Sem
dúvida que a tradição, na Igreja, é um fator essencial. Precisamente porque ela
recebe, transmite e interpreta a Revelação de Deus, oferecendo um alimento
sólido ao povo de Deus e a todos os homens de boa vontade. Sabendo, todavia,
que essa receção, transmissão e interpretação se operam em conformidade com a
história dos homens e as novas realidades eclesiais.
Na
hora presente, fruto das múltiplas transformações sociais e humanas, das
limitações de agentes pastorais na Igreja, especialmente do número de
sacerdotes e suas capacidades, e da necessidade de a Igreja se reorganizar
pastoralmente, de modo a responder a todas as comunidades e seus membros, de
igual forma, continuaremos, entre nós, a nossa caminhada de aprofundamento da Unidade Pastoral da Mealhada, com uma
única proposta pastoral à diversidade de paróquias que a integram. Será uma crescente
oportunidade de comunhão, na partilha da diversidade de identidades paroquiais.
Todos os cristãos, bem como os homens e mulheres de boa vontade, estão chamados
a colaborar na construção deste tempo novo, segundo o dinamismo do Espírito de
Deus que, em cada tempo, suscita sempre novas respostas para as novas
necessidades da Igreja e do mundo. Que saibamos todos acolher este dinamismo e levá-lo
à prática! Na fidelidade a Deus e aos homens do nosso tempo!
Pampilhosa, 08 de Setembro de 2016
Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho
(14ª Reflexão)