SÓ
O AMOR CURA
Passando recentemente pelo
Brasil, ao serviço da Pastoral do Turismo, tive a oportunidade de visitar e
conhecer a «Fazenda da Esperança». Uma comunidade terapêutica destinada a
recuperar jovens toxicodependentes, que nasceu da iniciativa do, então, jovem Nelson
Rosendo dos Santos e do total apoio do seu pároco, frei Hans Stapel, franciscano
alemão, a quem pudemos escutar na visita. A recuperação, nesta comunidade,
assenta em três pilares metodológicos fundamentais: espiritualidade,
convivência e trabalho. Nascida em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, nos
inícios da década de oitenta, esta primeira comunidade deu origem a muitas
outras Fazendas, masculinas e femininas, no Brasil e em dezasseis outros
países, incluindo Portugal, pois temos uma Fazenda em Maçal do Chão, concelho
de Celorico da Beira.
Se a
espiritualidade é um pilar fundamental para a recuperação, com a reflexão da
Palavra diária, a convivência é pautada por pequenos gestos de amor
quotidianos, capazes de recuperar estes jovens, fazendo deles novos homens e
novas mulheres.
Num
breve momento, em que passeava sozinho por algumas das ruas da Fazenda,
refletia, uma vez mais: basta amar, pois só o amor cura! E percebi novamente
que o amor é o único que liberta e nos refaz; o único que nos dignifica e nos
constrói. Como esquecer o abraço profundo e sincero daquele jovem, em
recuperação, que nos atendeu no serviço de bar? Ou o daquele outro com quem
conversei, por alguns momentos, numa das ruas da Fazenda? O afeto partilhado é
fruto do afeto recebido, pois quem é amado tende a amar. Verdadeiramente, uma
aprendizagem para mim, levando-me à conclusão íntima, uma vez mais, e que
reafirmo agora, na partilha convosco: basta amar, pois só o amor cura! E
cura-nos a todos, de tantas limitações humanas. Não apenas a estes, em situação
de dependência química; mas a tantos outros – a cada um de nós – nas situações
tão diversas da existência humana! O amor é a chave fundamental para o
crescimento humano – pessoal e comunitário! Reaprendi – pois a vida é sempre
uma reaprendizagem contínua - que mais do que o afastamento ou a marginalização,
necessitamos de ir ao encontro do outro ou dos outros, sem pretensões,
simplesmente de coração aberto para acolher, para escutar, para amar. Só então,
partindo daqui, podemos contribuir para a ajuda ao outro, seja a que nível for.
Muitas vezes numa caminhada conjunta, em que ambas as partes se enriquecem na
procura de uma nova humanização.
Quando nas nossas comunidades tendemos a marginalizar, ou mesmo – no
extremo – a ostracizar pessoas ou grupos, talvez devamos reaprender esta
lógica: que a marginalização degrada pessoal, social e espiritualmente aqueles
que afastamos de nós; ao passo que o amor regenera e reconstrói em todos essas
dimensões da vida humana.
Imerso numa experiência real de amor, como a daquela comunidade
terapêutica, compreendi melhor a expressão de Madre Teresa de Calcutá: «o
importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá»!
Nas
nossas comunidades - sejam elas civis, religiosas, laborais, de amigos; em
suma: humanas – necessitamos de renovar o amor! Para que a ninguém falte este
dom que nos constrói! Conscientes de que – como referia ainda Madre Teresa - «a
falta de amor é a maior de todas as pobrezas».
Pampilhosa, 06 de Outubro de 2016
Pe. Carlos Alberto Godinho
(18ª Reflexão)