FAMÍLIA
A
família constituiu a estrutura de base na gestação, educação, crescimento, e
acompanhamento de cada pessoa; sendo ainda o suporte fundamental da vida em
sociedade. Mas, essencialmente, a família é uma comunidade de pessoas, unidas
pelo vínculo singular do amor. Com razão afirma a Exortação Apostólica, do Papa
João Paulo II, Familiaris Consortio: “A
família, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas: os
esposos, homem e mulher, os pais e os filhos e os parentes. O seu primeiro
dever é viver fielmente a realidade da comunhão num constante empenho por fazer
crescer a autêntica comunidade de pessoas. O princípio interior, a força
permanente e a meta última de tal dever é o amor. Como, sem o amor, a família
não é uma comunidade de pessoas, assim também sem o amor, a família não pode
viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas” (FC. 18).
Todavia, nos tempos que correm, a família, apesar dos sinais positivos da
“consciência da liberdade pessoal”, da “maior qualidade das relações
interpessoais no matrimónio”, da “promoção da dignidade da mulher”, da “procriação
responsável” e da “educação dos filhos” (cf. FC. 6); sofre grande degradação
quanto a alguns dos seus valores fundamentais: “errada concepção teórica e
prática da independência dos esposos entre si”, “ambiguidades na relação de
autoridade entre pais e filhos”, “dificuldade na transmissão de valores”, “número
crescente de divórcios”, a realidade do “aborto”, a “esterilização” ou mesmo a
instauração de uma mentalidade contraceptiva” (cf. FC. 6). A família tem sido,
nas últimas décadas, uma instituição em permanente questionamento. Apesar de
todas as dificuldades que enfrenta, a família é a estrutura base da sociedade,
o seu autêntico «fundamento» (GS. 52), comunidade primeira de onde todos
provimos, onde crescemos e onde permanentemente encontramos o nosso abrigo pessoal
e afetivo; capaz de corresponder a todas as nossas necessidades humanas. Enfraquecer
a família significa comprometer o desenvolvimento pessoal, o equilíbrio social
e os valores que nos permitem realizarmo-nos como pessoas, bem como comprometer
na nossa interação em sociedade.
O
tempo de Natal, que estamos ainda a viver, é um convite profundo ao
reconhecimento e valorização da vida familiar: seja pela via litúrgica, da
celebração da Sagrada Família, festa que se insere nas solenidades que
celebramos; seja pela via simplesmente humana, em que cada um vive, em contexto
familiar, esta quadra natalícia! Aliás, para muitos, a festa de Natal
confunde-se mesmo com a festa da família. Mesmo quando, para outros, esta festa
familiar é vivida na tristeza, na incerteza, no desconforto ou mesmo na dor. Realidades
que merecem a nossa proximidade afetiva, acolhimento e compreensão.
Não
basta, contudo, que se afirmem os valores familiares; tão pouco é suficiente
que a família tenha este lugar especial nestas celebrações natalícias; é fundamental que nela se redescubra
permanentemente o amor que a fundamenta e a une, na consciência de que é uma comunidade
de pessoas, que partilham não apenas um mesmo espaço, mas as suas vidas e os
seus afetos.
Muitos
entendem que a defesa da família continua a ser, nos dias que correm, uma espécie da «bandeira» da Igreja; todavia, pela sua
identidade e missão, ela é insubstituível para a realização da pessoa humana. Daí
que todos nos sintamos chamados a cuidar dela: seja a nível das instituições,
seja nas vivências pessoais.
«Familia, torna-te aquilo que és!» - foi o convite dirigido pelo Papa
João Paulo II a todas as famílias do mundo, em 1981, na Exortação Apostólica já
anteriormente referida! Julgo que o mesmo grito deve ecoar nos dias de hoje:
não apenas para salvaguardar uma instituição; mas fundamentalmente para assegurar
o bem da pessoa – de cada pessoa! – e o autêntico equilíbrio da vida em sociedade!
Pampilhosa, 29 de Dezembro de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(28ª Reflexão)