ANO NOVO
Iniciámos um novo ano! Um novo ciclo de vida, que nos fará percorrer as
suas etapas próprias; desde logo pautado pelas estações climatológicas; bem
como pelas nossas vivências sociais e culturais. O período cronológico de um
ano é muito diverso e rico nos subperíodos em que se divide e nas práticas
sociais e culturais que os enquadram.
Mas
um novo ano nunca é uma realidade mimética dos ciclos anteriores. Ainda que
semelhante, cada ano é sempre novo, irrepetível, singular e com enquadramento
pessoal e sociocultural diversificado. Diria que sendo mesmo aparentemente
igual, repetindo, cada ano, vivências semelhantes, é sempre uma realidade em
espiral; num aprofundamento contínuo. O mais evidente é o avanço no tempo – o
avanço cronológico -, que sendo comum, é igualmente uma realidade vivida na
experiência pessoal. Tal como no avanço histórico e respetivos progressos: cada
ano é sempre um novo devir na prossecução da realização humana e da sua
história. Ainda que nem sempre privilegiando o que mais nos realiza pessoal e
comunitariamente.
Ora,
se cada ano é, efetivamente, um tempo novo – cronológica, social, cultural e
historicamente -, não deixará de o ser igualmente na perspetiva pessoal;
enquanto oportunidade única, verdadeiramente singular, e desafiante, para a
vida de cada um de nós! Viver é, de per
si, o grande dom; pois a vida é o valor primeiro sobre o qual assentam
todos os demais valores. Mas não basta repetir ciclos de vida; é necessário dar
profundidade a cada um desses ciclos, na perspetiva de alcançarmos a nossa
autêntica realização. Neste sentido, cada ano é sempre uma nova oportunidade!
Pode
acontecer que, volvido o meado de Janeiro, em que se diluem os votos de um bom
ano, se retomem as rotinas habituais e a vida permaneça sem aquela novidade
proclamada no seu início. Ora, um novo ano é a oportunidade de nos
questionarmos, de revermos as nossas vidas, de equacionar o que está, ou não,
em conformidade com esse desígnio que nos habita e que todos demandamos: sermos
felizes! Assim, um novo ano desafia-nos à desinstalação, à capacidade de
decisão, à revisão necessária, à força de opções pessoais e comunitárias no
sentido de nos aproximarmos, cada vez mais, desse desígnio que nos habita.
O
mais fácil, para todos nós, é acomodarmo-nos a estilos de vida pessoais,
familiares ou comunitários, assentes em rotinas já assumidas, mesmo quando
essas rotinas fazem persistir angústias, dores, desilusões, inquietudes ou
mesmo agressividades. Ora, um tempo novo comporta em si, simbolicamente, essa
ousadia de cortar com algumas rotinas para definir novos horizontes. Cada tempo
é-nos dado para que nele construamos a nossa felicidade. Então, ousemos
recomeçar de novo, deixando de parte o que pessoal, familiar e comunitariamente
impede essa felicidade, para vivermos um tempo novo com existências novas. E
bem sabemos que tal se aplica à vida pessoal de cada um de nós, reacertando
princípios de conduta pessoal; a tantas situações familiares, onde é necessário
renovar um autêntico diálogo e vivência de amor, mediante os quais cada um se
sente verdadeiramente acolhido e amado na sua comunidade originária; ou ainda
socialmente, num respeito e empenho na procura do bem comum, capaz de mobilizar
conjuntamente o que cada um tem de melhor, ao serviço de todos.
Efetivamente, viveremos um ano novo se cada um de nós se renovar!
Partindo, necessariamente, da consciência de que nenhum de nós é já um produto
acabado. Então, sim, como referia Mahatma Gandhi, tornar-nos-emos a mudança que
desejamos ver no mundo. Ou, como referia Madre Teresa de Calcutá, seremos a
pequena gota a transformar o oceano, que é o nosso mundo; na certeza de que se
não aceitarmos ser essa pequena gota de renovação, este oceano será bem mais
pobre.
Façamos justiça ao provérbio popular que, neste período, tanto usamos:
«ano novo, vida nova». Não apenas porque mudamos alguns dos grandes projetos das
nossas vidas, mas porque nos dispomos a mudar os nossos corações e as nossas
atitudes! E um novo ano começa exatamente por aí!
A
todos um feliz e abençoado ano de 2017!
Pampilhosa, 05 de Janeiro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(29ª Reflexão)