CELEBRAÇÃO
DAS BODAS DE PRATA PRESBITERAIS
Águas Belas
– 29.12.2016
Caros
Padres, irmãos no sacerdócio ministerial
Caros Irmãos e Irmãs
Há vinte e cinco anos atrás,
neste mesmo dia do ano, após ter recebido a graça da ordenação presbiteral, na Catedral
de Coimbra, pelas mãos do Senhor D. João Alves, de feliz memória, regressava a
esta paróquia natal para celebrar a minha Missa Nova. Era, então, Festa da Sagrada Família, o domingo da
oitava de Natal.
Vinte e cinco anos depois regresso, para convosco e aos pés de Maria, a Senhora da Graça, que tantas vezes aqui
invoquei, dar graças a Deus pelo dom do presbiterado; dom que o Senhor me
concedeu a favor da Sua Igreja.
O
ministério do presbítero, a quem comummente denominamos simplesmente como
padre, radica numa especial configuração com Cristo, pois, mediante o
Sacramento da Ordem, aquele que o recebe, «por meio da unção do Espírito
Santo», fica marcado com um caráter especial que o configura com Cristo-Sacerdote,
a fim de poder «agir em nome de Cristo-Cabeça», participando daquela autoridade
com que «o próprio Cristo edifica, santifica e governa o Seu Corpo» (PO. 2).
Ora,
celebrar vinte e cinco anos de ministério sacerdotal, motivo de alegria e de comunhão
convosco, há-de ser, prioritariamente, um grande momento de louvor ao Senhor
pelo dom da Sua graça! Sim; pois sem mérito algum da minha parte, foi o Senhor
quem, nestas paragens, me olhou, me chamou, para depois me consagrar e enviar
às comunidades cristãs que servi e atualmente sirvo, fortalecendo-me sempre com
os dons da sua graça. Mistério de amor que suplanta as minhas capacidades
humanas, dom absoluto de Deus, que suprindo todos os meus limites, continua a
realizar, através dos meus gestos e das minhas palavras, a missão que, sendo
sua, continua a confiar-me. Missão esta que acolho na simplicidade e na
humildade e para a qual invoco permanentemente a força do Seu Espírito, para
que também eu, como o apóstolo, no meio das dificuldades e limites, possa ouvir
da boca do Senhor: «Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha
força se revela totalmente» (2Cor. 12, 9).
O
espírito desta celebração, em que agradecemos o ministério e, nela, o mistério
do amor de Deus a favor da Sua Igreja, necessita de ser permanentemente
aprofundado: por mim, para que possa renovar permanentemente a minha
configuração com Cristo, Bom Pastor; e por cada um de nós, para que nesta
comunidade cristã surjam novas vocações sacerdotais para o serviço da Igreja,
em total disponibilidade, de modo a que, com o seu contributo indispensável, em
comunhão com o bispo diocesano e seu presbitério, contribuam para a «edificação
do corpo de Cristo» em cada comunidade paroquial, onde tornem visível a Igreja
Universal (cf. LG. 28), congregando-as em família de Deus, na fraternidade que
tende para a unidade, conduzindo-as por Cristo e no Espirito até Deus Pai (cf.
LG. 28).
Ao
celebrar vinte e cinco anos de ministério sacerdotal, brotam do meu coração
duas atitudes fundamentais, que partilho agora convosco: gratidão e
compromisso.
1. Gratidão
No mistério da Sua
encarnação, Jesus Cristo quis assumir toda a nossa humanidade e historicidade. O
Deus Menino, apresentado no templo e proclamado, pelo velho Simeão, como
«salvador», «luz das nações» e «glória de Israel» (Lc. 2, 30 – 32), como
ouvimos no Evangelho, numa referência já à sua identidade como o «Messias do
Senhor», assume também, com Maria e José, a nossa realidade familiar. Levando-O
ao templo, a família de Nazaré cumpre as prescrições rituais, próprias da lei
de Moisés e o Menino é reconhecido como o Salvador. À imagem de Maria e José, cada
família é chamada a realizar a sua missão singular, de cumprir quanto lhe é
pedido, para que os seus filhos, como Aquele Menino, possam crescer em
«sabedoria», em «estatura» e em «graça» (cf. Lc. 2, 52).
Neste sentido, ao dar graças a Deus pelos vinte e cinco anos da minha
ordenação presbiteral, agradeço-Lhe o dom da minha família e, particularmente,
o dom de meus pais. Foram eles quem, à imagem de Maria e José, me apresentaram
à Igreja e aqui me trouxeram para receber a graça do batismo. Foram eles,
ainda, quem, na simplicidade e na dedicação, me testemunharam a fé, a mim e a
meus irmãos, para que descobríssemos o rosto próximo do Deus feito Carne;
preparando assim o caminho para a minha total consagração.
De
igual modo, dou graças a Deus por esta Comunidade Paroquial de Águas Belas. À
imagem de Simeão, foi ela quem me ensinou a reconhecer naquele Menino, apresentado
no templo, o «Messias» Salvador, a ponto de formar em mim o desejo de lhe
consagrar a minha vida e de a dedicar ao anúncio desta Boa Nova, tornando-a
alcançável a todos os povos (cf. LC. 2, 31). Foi na catequese, mediante o
testemunho vivo das minhas catequistas; na liturgia, onde exerci, com alegria,
o ministério de acólito; no grupo coral, onde cantei os louvores do Senhor; ou
naquele grupo de jovens, de existência efémera, mas que me permitiu, em
comunhão com a ação sócio-caritativa, viver a proximidade com os mais idosos e
doentes; que se foi aprofundando a minha fé e o meu compromisso cristão. Enfim,
foi na vida desta comunidade e no vosso testemunho que me preparei para
responder ao Senhor que, então, me chamava. Tal como no testemunho sacerdotal
dos meus párocos, distintos entre si, mas complementares, encontrei o primeiro
modelo de vida sacerdotal. Percurso de fé que se havia de aprofundar e orientar
em ordem ao ministério, nos Seminários que frequentei, dando hoje graças a Deus
pelos meus formadores e diretores espirituais, com quem discerni, aprofundei e
formei a minha vocação sacerdotal; pelos meus colegas, que comigo, de modo
fraterno, trilharam caminho semelhante; pelas paróquias de estágio pastoral,
onde vivi, na prática, o sentido do serviço; bem como pelos grupos que integrei
e que me prepararam para a diversidade da vida eclesial.
Volvidos
vinte e cinco anos sobre a minha ordenação presbiteral, dou graças a Deus,
muito particularmente, pelas paróquias que servi e sirvo, pois foram elas que
me acolheram e acolhem, para aí realizar o presbiterado que o Senhor me confiou
a seu favor. Na amplitude cronológica de vinte e cinco anos, recordo o
Seminário Menor da Figueira da Foz, onde iniciei o ministério, ainda diácono; a
Paróquia de Paião, onde primeiramente paroquiei, como vigário paroquial; para
recordar, depois, as Paróquias de Mira, Praia de Mira, Vilamar e São Caetano;
Alhadas, onde colaborei na ausência do pároco; Covões e Bolho, onde permaneci ao
longo de cinco anos; para nestes últimos dezassete anos servir as Paróquias de
Luso, Trezói, Casal Comba, Mealhada, de que fui pároco interino; e, desde há quase
dez anos, a Paróquia de Pampilhosa, cuja paroquialidade me está confiada
atualmente conjuntamente com a de Luso. Assumindo ainda, no presente, os novos
desafios pastorais com a constituição da Unidade
Pastoral da Mealhada. Recordo ainda os serviços diocesanos, com um especial
olhar para a Escola de Leigos,
atualmente Escola de Teologia e
Ministérios; bem como para a Igreja em Portugal, que entendeu confiar-me a
direção da Obra Nacional da Pastoral do
Turismo. Dou graças a Deus, pois em cada uma destas comunidades e serviços
se realizou e realiza o desígnio do Senhor a meu respeito. Agradeço-Lhe, ainda,
a diversidade de leigos e presbíteros que comigo trilharam e trilham o serviço
pastoral, na necessária complementaridade a bem das comunidades cristãs; bem
como agradeço aqueles que, ao longo destes anos, me apoiaram e apoiam
espiritual e humanamente.
Enfim, um olhar grato sobre o passado, que me permitiu ser o que fui, ao
longo destes vinte e cinco anos, e sou no presente, recordando especialmente
cada uma das pessoas com quem, nas suas alegrias e esperanças, angústias e
dores, inquietações e certezas, partilhei e partilho a minha vida. Por tudo
isto, faço hoje minhas as palavras do salmista: «Cantai ao Senhor um cântico
novo; cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome» (Sl. 95).
2.
Compromisso
Celebrar vinte e cinco anos
de ministério ordenado é, ainda, momento de balanço – tempo para aferir da
minha identificação com Cristo Bom Pastor e de renovar o meu empenho no serviço
à Igreja. O percurso, pesem embora as incertezas da história, para cada um de
nós, estará eventualmente a meio. Assim, este é um tempo de novo compromisso;
tempo de reafirmar os propósitos da primeira hora - da ordenação -, confirmados
pelo Bispo, quando este concluía, diante dos propósitos daquele que ia ser
ordenado: «Queira Deus consumar o bem que em ti começou». Uma nova hora para
assumir que «chamado por um ato de amor sobrenatural, absolutamente gratuito»
(DMVP. 13), o Senhor me pede que ame a Igreja como Ele a amou, consagrando-lhe
todas as minhas energias e dando-me com caridade pastoral, na entrega
quotidiana da minha própria vida (cf. DMVP. 13).
Mas
esta é igualmente uma hora de estímulo para as comunidades cristãs: no sentido
de redescobrirem a natureza e missão do ministério do presbítero; e de
assumirem o seu compromisso de despertar vocações sacerdotais no seu seio, para
que não lhes faltem os dons da graça e da santidade com que Deus
permanentemente as adorna, desde logo mediante o sacramento da Eucaristia.
Necessitamos, hoje, de outras famílias, nas comunidades cristãs, que
ofereçam e preparem novos sacerdotes para o seu povo, para que nunca lhe falte
o anúncio da Palavra, a celebração dos sacramentos e a edificação, na caridade,
da autêntica família de Deus, tendo como modelo a família de Nazaré.
Conclusão
As comunidades cristãs, que
me estão confiadas, quiseram assumir como lema destas celebrações, das minhas
bodas de prata presbiterais, a expressão inscrita no memorando da minha ordenação: «Sei
em Quem acreditei!» Retirada da 2ª Carta a Timóteo, esta expressão insere-se
na profissão de fé de Paulo, quando este exorta Timóteo – seu «filho muito
amado» (2Tm. 1, 2) – a reanimar o dom que Deus lhe concedeu pela imposição das
suas mãos (cf. 2Tm. 1, 6); convidando-o a nunca se envergonhar «do testemunho
de Nosso Senhor», participando, com ele, «nos trabalhos do Evangelho,
fortificado pelo poder de Deus» e centrado no mistério pascal do Senhor Jesus
Cristo, mediante o qual Deus nos salvou e chama à santidade (cf. 2Tm. 1, 9).
Paulo diz sofrer por causa deste testemunho, mas sem nada lamentar, porque sabe
em quem acreditou (cf. 2Tm. 1, 12).
Queridos irmãos e amigos, também eu agora vos peço: rezai por mim! Para
que acolha esta exortação de Paulo e a viva no meu ministério: «reanimando
constantemente o dom da fé»; na alegria de testemunhar continuamente o mistério
do Amor de Deus; renovando a entrega da minha vida ao anúncio do Evangelho, no
meio das alegrias e provações, mas sem nada lamentar; para que a graça de Deus
chegue a todos os que me são confiados, por «Cristo, poder de Deus e sabedoria
de Deus» (1Cor. 1, 24); e todos cheguemos à salvação. Que Maria, Mãe de Jesus e
nossa Mãe, a quem aqui invocamos como Senhora
da Graça, e a quem entreguei o meu ministério, interceda por mim e por
todos nós. Ámen!