PAZ
Desde há cinquenta anos que se celebra, no primeiro dia de Janeiro, o Dia Mundial da Paz. Iniciativa do Papa
Paulo VI, que o instituiu em 1967, com os votos de que este dia fosse celebrado
não apenas pelos católicos, mas igualmente por todos os homens,
independentemente da sua religião. Assim, a cada ano, o Papa publica uma Mensagem alusiva a este dia, com
temáticas muito diversas, que se complementam entre si, no convite a
cultivarmos a paz!
Neste ano de 2017, o Papa Francisco propôs-nos como tema da sua
Mensagem: A não-violência estilo de uma
política para a Paz.
Atendendo aos diversos
dramas e guerras a que o mundo assiste no presente, o Papa propõe
particularmente uma atitude de «não-violência», a viver no âmbito das relações
«interpessoais, sociais e internacionais». Registo mesmo, da sua mensagem, esta
expressão tão significativa para todo o tipo de relações humanas: «Sejam a
caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas
relações interpessoais, sociais e internacionais» (nº 1). E fundamenta esta
não-violência no ensinamento do próprio Jesus Cristo, que a viveu no drama da
Sua morte, quando refere: «Jesus traçou o caminho da não-violência, que Ele percorreu
até ao fim, até à cruz, tendo assim estabelecido a paz e destruído a
hostilidade» (nº3).
Na
sequência destas duas afirmações, e sem descurar a globalidade da mensagem, com
os apelos à paz, em contextos distintos, quis assumir com as comunidades
cristãs este desafio, que agora alargo a um público mais vasto, com aquele
mesmo convite que, então, formulei: «Vivamos a Paz!».
Ainda que ansiemos sinceramente pela paz internacional e nos angustiemos
com a proliferação da violência, vivida em cenários de guerra, não nos podemos
deter meramente aqui; mas sim iniciar o culto da paz no âmbito das nossas
relações interpessoais e comunitárias. Correspondendo precisamente ao apelo do
Papa Francisco, vivendo a caridade e a não-violência nas nossas relações
interpessoais e nas nossas comunidades. Ou seja, nas nossas relações de
proximidade. Pois é exatamente aqui que a paz começa – no coração e na decisão
de cada um de nós, determinados a viver a paz e não-violência com quem
partilhamos habitualmente as nossas vidas.
Cultivemos, então, a paz e a «não-violência»! Começando logo pela
renovação dos nossos corações e atitudes, na atenção aos sentimentos que
nutrimos uns pelos outros; pelo modo como nos relacionamos, por palavras e
gestos; e pela forma como interagimos, particularmente em contextos de
discordância de princípios, ideais e atitudes; formando corações pacíficos e
dialogantes. Cultivemos a paz, promovendo a educação para a paz em contexto
familiar. As nossas famílias, segundo o exemplo e a palavra dos mais velhos,
hão-de ser escolas de paz e de crescimento de homens e mulheres pacíficos,
fomentando mais a partilha, o diálogo e a aceitação, do que a concorrência, a
disputa ou a agressividade. Construamos a paz e a «não-violência» comunitariamente,
promovendo o diálogo social, a aceitação das diferenças, a integração de todos,
o serviço de uns aos outros, promovendo salutares confrontos de ideias e de
perspetivas de vivência comunitária, mas assentes nessa integração da
diversidade e na busca do bem de todos.
Comecemos a vivência da paz a partir de nós mesmos, segundo aquele
princípio afirmado por Mahatma Gandhi, uma das referências incontornáveis da
vivência da não-violência: «sê a mudança que desejas ver no mundo»! Ainda que
parecendo pouco ou mesmo insignificante, só esta decisão pessoal, a partir da
transformação de nós mesmos, poderá ser um verdadeiro caminho para a paz e para
a vivência autêntica da «não-violência»!
Pampilhosa, 12 de Janeiro de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(30ª Reflexão)