PEREGRINAR
Estamos prestes a terminar o
mês de Maio, ciclo de tempo marcado por múltiplas peregrinações,
particularmente em direção ao Santuário de Fátima. São diversos os grupos em
caminhada nesta época, particularmente nas datas mais próximas do dia 13. Mas
também pessoas ou pequenos grupos, mais isolados, que calcorreiam os caminhos
de Fátima, ao longo de todo o mês.
Para
além deste percurso de peregrinação, intensifica-se, neste período,
prolongando-se pelos próximos meses, o número daqueles que percorrem os
Caminhos de Santiago de Compostela. De resto, bem visíveis entre nós, nos
trilhos definidos ou nos itinerários principais que conduzem ao norte.
Diante deste fenómeno crescente, que se renova atualmente, surge-nos a
pergunta: que significado tem peregrinar, nos tempos atuais? E que motivações
conduzem à peregrinação? O sentido etimológico da palavra peregrino remete-nos
para o significado de viagem e de estrangeiro. Peregrino é aquele que viaja; e,
não raro, o estrangeiro em viagem. Mas peregrinar é símbolo da própria vida,
cuja realização histórica se pode compreender à luz de um caminho a percorrer.
Não é sem razão que muitos autores qualificam o ser humano como «homo viator» - homem viajante ou ser a
caminho! Ora, como em qualquer outra peregrinação, esta – a da vida – requer três
aspetos essenciais: a decisão da partida; o percurso; e a meta que se almeja. Não
basta existir; é necessário ter a ousadia de partir permanentemente e dar um
sentido à caminhada da vida. Assim, o percurso – definido por cada um, mas
inevitavelmente permeado pelo desconhecido de tantos acontecimentos – constitui
a decisão de perseguir, em cada dia, um conjunto de objetivos que dão sentido
ao caminho. A meta será distinta (ou talvez não!), em conformidade com a decisão
de cada um. Mas a meta será inevitavelmente o grande objetivo de todo o
caminho. Num tempo de superabundância de propostas, palavras e ideias, tantas
vezes transformadas em ideologias; num tempo de imposições, mesmo de credos
religiosos, que se relativizam; cada um sente necessidade de procurar o seu
caminho. De definir a sua peregrinação! Centrada no essencial, buscando a
verdade, como sentido da vida.
Se
nos caminhos de Fátima se procura alcançar uma graça, agradecer um dom
recebido, fazer experiência de comunhão ou experiência espiritual; se nos
Caminhos de Santiago se busca, na quebra do ritmo ordinário da vida, uma
experiência pacificadora, a procura ou encontro consigo, o repouso interior, a
vivência espiritual ou cultural; a vida como peregrinação visa ousar arriscar
uma vivência para além das propostas socialmente adquiridas; a capacidade de
definir um sistema de valores que preencha o caminho, assentes no essencial da
existência humana; no desejo de alcançar a meta, que se confunde, para todos
nós, com os nossos anseios mais profundos – a plenitude, a autêntica
felicidade! Que podendo ter rostos diferentes nos remete para um mesmo sentido.
Urge,
pois, peregrinar; fazer caminho… para que a vida valha a pena!
Pampilhosa, 26 de Maio de 2016
Pe.
Carlos Alberto Godinho
(2ª Reflexão)