quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Superação!


SUPERAÇÃO
 

   Uma das riquezas da humanidade é a singularidade de cada um dos seus membros. Nenhum de nós se repete, pesem embora as semelhanças físicas que nos possam aproximar desta ou daquela pessoa. E, sendo assim do ponto de vista físico, tal singularidade determina-nos também do ponto de vista da personalidade. Cada um de nós é, efetivamente, uma riqueza singular, irrepetível, única!

   Existem, contudo, traços característicos que nos podem aproximar, tanto física como psiquicamente, a que a psicologia chama «biotipos»: os pícnicos, os atléticos e os leptossómicos, com características físicas e psíquicas determinadas. Mas, sem nos determos nestas classificações, concordaremos que, não raro, nos podemos agrupar nalguns tipos de temperamento, expressos no modo como entendemos e vivemos a nossa existência pessoal: alguns de nós mais otimistas; outros mais pessimistas; e outros, ainda, particularmente realistas. Certo é que, sejam quais forem as nossas características, todos temos um desejo comum: sermos felizes!

    Ora, tal desejo profundo, que engloba e orienta as nossas vidas, é particularmente condicionado por essas características pessoais: se para um otimista cada ocasião vivida é entendida como uma oportunidade, mesmo as mais difíceis e penosas; já para um pessimista muitas das suas vivências são entendidas como uma provação, marcadas pelo peso, pela inquietação e, não raro, pelo desânimo. Enquanto um realista, por seu turno, tende a olhar para os factos com alguma racionalidade e enfrentá-los nessa perspetiva racional, por vezes até mesmo com alguma frieza ou distanciamento emocional.

   Assim sendo, e na perspetiva da felicidade, nem todos partimos da mesma linha: se uns, pelas suas características pessoais, têm a corrida mais facilitada; outros necessitam de maior superação de si, para atingir as mesmas metas existenciais. Assim, a estes últimos exige-se-lhes essa capacidade maior de superação, enquanto esforço para ultrapassar as dificuldades ou perspetivas de vida, colhendo, então, o que esta de melhor tem para lhes oferecer.

   Certo é que não existem categorias perfeitas, pelo que todos necessitamos de nos superar permanentemente, relativizando o que a vida comporta de negativo, para nos deixarmos iluminar permanentemente pelo que esta nos oferece enquanto possibilidades. É, no fundo, a história do ponto negro na folha branca: quantas vezes nos debruçamos exclusivamente no ponto negro, que é mínimo no espaço de uma folha branca, e esquecemos a própria folha branca, com todas as possibilidades oferecidas à nossa criatividade de escrita. Assim é a nossa vida: quantas vezes nos centramos excessivamente nos nossos problemas e dificuldades, em vez de nos preocuparmos em reter da vida tudo quanto de bom ela nos oferece?!... Sabendo, contudo, que esta última atitude é que pressupõe a verdadeira sabedoria e é fonte de felicidade!

   Sempre admirei as pessoas que, sendo vítimas de problemas humanos graves, procuraram, ou procuram, o lado mais belo da existência! Por vezes com a consciência de uma vida curta, mas na opção de aproveitar o tempo que lhes é dado viver, mais do que lamentando aquele de que não poderão usufruir; privilegiando o que se tem, mais do que aquele que se poderia ter! Gestos e exemplos de um enorme significado humano e de uma imensa sabedoria!

   Com maiores ou menores dificuldades existenciais, todos nós temos de aprender a arte da superação, no sentido de nos recentrarmos permanentemente nas oportunidades da vida, oferecidas em cada dia, no intuito de colhermos o que de melhor nos é dado viver! Dependendo sempre do nosso olhar e da nossa capacidade de privilegiar o que nos constrói. Fazendo dessa vida uma realidade gozosa, que valha a pena ser vivida!

   Necessitamos, permanentemente, de colher os frutos belos da existência, para que o seu sabor nos dê o suave paladar da felicidade. Nas coisas maiores de cada dia, ou naquelas que nos parecem mais insignificantes!

   Se para uns é mais fácil tal percurso, enquanto para outros mais exigente, certo é que todos temos capacidade de aproveitar o tempo que nos é dado viver enquanto oportunidade de realização. É que, parafraseando Enéas, nenhum de nós quer apenas uma vida com final feliz, mas sim uma vida inteira preenchida pela felicidade!


Pampilhosa, 10 de Novembro de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(23ª Reflexão)