SILÊNCIO
Num
tempo, este nosso, marcado pela agitação, pelos compromissos que se sucedem a
um ritmo vertiginoso; pela sensação frequente de que o tempo é um bem escasso;
marcado pela multiplicidade de palavras, onde cada acontecimento tem de ser coberto
ao minuto (com jornalistas, nalgumas redações ou emissões diretas, pressionados
no sentido de cobrirem acontecimentos ao instante, fruto da concorrência dos
meios de informação, cada vez mais sofisticados e abundantes); num tempo
marcado pela ânsia de comunicar, especialmente quando temos ao nosso dispor
novos instrumentos de comunicação e partilha, mediante os quais somos como que
solicitados a estar permanentemente on-line,
para escutar ou responder a quem nos interpela; num tempo em que pautamos a
nossa vida por um encontro contínuo com os outros, com o recurso às redes
sociais; necessitamos, não raro, de parar, de fazer silêncio, para quebrar a
dispersão interior e encontrarmo-nos connosco mesmos, restabelecendo o nosso
equilíbrio interno.
Com
frequência ouvimos, todos nós, algumas pessoas dizerem: necessitava de fugir
para um lugar isolado; onde pudesse descansar e não ouvir ninguém! Será, por
certo, o reverso da realidade que acabamos de descrever, nem sempre positiva, é
certo, mas um “grito” que evidencia um valor fundamental, de que continuamos a
necessitar: o silêncio!
O
silêncio que não é apenas ausência de palavras; mas sim possibilidade de
serenidade exterior e interior; de encontro connosco mesmos e com o nosso ser
mais profundo! Um silêncio que não é apenas vazio; mas que é esvaziamento de
tudo, para me encher de mim, da consciência íntima dos outros e para o encontro
com a plenitude e o absoluto, onde, tantos de nós, reconhecemos o rosto de
Deus. Um silêncio fecundo, a proporcionar a consciencialização dos nossos
projetos de vida e sua revalidação, de modo a evitar uma permanente dispersão.
Quem
não fez já esta experiência, acompanhado por uma música suave, no íntimo da sua
casa, ou simplesmente pelo bater das ondas, à beira do mar?
É
cada vez mais frequente encontrarmos gente que procura este silêncio. Gente que
procura, a maioria das vezes, a paz interior, no encontro consigo e com a
natureza, na intimidade exclusiva dos seus familiares mais próximos. Desde
muito novo que me habituei a ouvir falar de famílias estrangeiras que
procuravam os vales mais recônditos do rio Zêzere, onde acampavam, longe de
tudo e de todos, vivendo a paz sublime que aquelas paisagens lhes facultavam.
Ou ainda, desde jovem, aquando dos acampamentos do Mocanfe, começava a ver reerguerem-se velhas aldeias abandonadas,
agora procuradas pelo seu silêncio, como o Talasnal,
em plena Serra da Lousã. E que dizer, uma vez mais, do crescente número de
peregrinos, que trilham os Caminhos de Santiago?! … Experiências distintas,
como distintas são as suas motivações! Mas todas pautadas por um denominador
comum – a busca de si, onde o silêncio é um sublime artífice! Um silêncio
fecundo que regenera e reequilibra!
Entre
nós, fazemos memória de um espaço privilegiado de silêncio, bem no coração do
Bussaco – o deserto carmelita! Um espaço que ainda hoje nos convoca ao
recolhimento, à comunhão com a natureza e ao encontro profundo connosco mesmos!
Ao mesmo tempo que, para alguns, constitui igualmente uma oportunidade de
encontro com Deus!
Tendendo a ser um ponto turístico de excelência, mas de um turismo de
massas, porque não facultar a experiência do silêncio, na senda dos carmelitas?
Uma interpelação que deixo em aberto!
O
silêncio é um dom a cultivar! Se um provérbio chinês afirmava: «A palavra é
prata, o silêncio é ouro»; Aldous Huxley é sublime, ao referir: «o silêncio
está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência, como o mármore, não
talhado, é rico em escultura»[1].
Pampilhosa, 30 de Junho de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(7ª Reflexão)