SIMPATIA
Há
dias, numa deslocação à beira mar, parei num café – geladaria, recentemente
aberto numa das nossas praias, da costa de Aveiro, para tomar um café e comprar
uma água. Nada de especial, pois é o que todos fazemos em cada dia, à beira
mar, ou noutro espaço qualquer.
Surpreendeu-me, isso sim, o sorriso e a amabilidade com que fui
acolhido. Senti-me como se fora um cliente de todos os tempos! O cuidado posto
no acolhimento, na pergunta de como desejava o café, mas particularmente no olhar
sorridente, expressando amabilidade e simpatia, é que me fez sentir tocado por
dentro. Naturalmente que aquela atitude me encheu a alma e foi um apontamento
de particular riqueza humana naquele dia. Já no caminho pensava em como estes
pequenos gestos fazem a grande diferença nas nossas vidas. Por vezes procuramos
grandes acontecimentos ou atitudes para neles encontrarmos a felicidade, quando
esta se pode esconder em pequenos gestos, como este, no nosso quotidiano. E,
inevitavelmente, ocorreu-me refletir sobre a importância da simpatia, nas nossas relações
humanas.
A
palavra simpatia, do grego sympátheia
(syn – junto e pathos – sentimento), expressa a capacidade de sentir os mesmos
sentimentos que outra pessoa, ou seja, uma comunhão de sentimentos entre pessoas.
Por via latina, cujo significado é o mesmo que o grego, chega ao português, com
o sentido de «sentimento de identificação entre pessoas», uma espécie de
«afinidade moral»[1].
Ora,
a simpatia expressa a minha capacidade de comunhão com o outro, colocando-me
numa atitude de sintonia com ele e de acolhimento profundo da sua própria
pessoa – essa afinidade moral. Daí que a simpatia seja tão importante para
todos nós, pois nos faz sentir profundamente acolhidos.
É
certo que a simpatia pode ser uma questão temperamental e a sua ausência fruto
de múltiplas frustrações e problemas que se acumulam nas nossas vidas,
limitando essa capacidade de comunhão com o outro, já que muitas vezes estamos
excessivamente absorvidos pelo nosso ego e
pelas suas condicionantes. A simpatia requer, sem dúvida, a disponibilidade do ego para o alter, isto é do eu para o tu, para aquele que é outro. Esta
disponibilidade pode treinar-se, no exercício continuado de me descentrar de
mim, para me centrar naquele com quem me encontro. Tal exercício constitui,
ainda, um esforço de aperfeiçoamento humano que nos enriquece, já que somos
permanentemente seres em construção. Na verdade, a simpatia também se cultiva.
Por
oposição, a antipatia resulta de uma certa descarga emocional, sobre os outros,
do nosso mal-estar ou das nossas frustrações. O que resulta no agudizar da
tensão interior, pois a descarga emocional negativa sobre os demais não resolve
os nossos problemas, antes os adensa, quanto mais não seja pela consciência de
sermos injustos.
Pessoalmente, não deixei de pensar nesta experiência e rever-me nela, já
que eu também presto serviço público, por vezes privilegiado, porque, no
ministério, toco aspetos íntimos da vida das pessoas. Mas pensava igualmente
nos múltiplos serviços públicos e privados, das repartições de serviços do
estado, aos serviços e escritórios particulares, até ao mais simples espaço de
comércio, intuindo que se procedêssemos todos assim – com verdadeira simpatia –
seriamos imensamente mais felizes.
Na
verdade, a simpatia é um valor a cultivar, pois por ela nos acolhemos
mutuamente e somos efetivamente mais felizes!
Pampilhosa, 07 de Julho de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(8ª Reflexão)