ACOLHIMENTO
Desde há alguns anos, particularmente desde que assumi a direção
nacional da Pastoral do Turismo, que tenho vindo a refletir sobre o acolhimento,
como uma das atitudes humanas mais importantes na relação entre as pessoas. Se
o turismo compreende várias dimensões desta atitude, aqui quero considerar o
acolhimento essencialmente numa das suas vertentes – a disponibilidade para a
escuta e a aceitação do outro.
Frequentemente somos tentados a pensar que só ajudamos verdadeiramente os
demais quando partilhamos com eles bens materiais; ajudamos a resolver um
problema premente, como o acesso à condigna habitação ou ao trabalho; quando no
empenhamos na resolução de um emergência pessoal ou familiar; ou ainda quando
participamos em campanhas de angariação de fundos; em grupos de solidariedade
ou de voluntariado social. Sem dúvida que estas ações, entre outras, são
essenciais, enquanto expressão de uma autêntica solidariedade e de uma
verdadeira caridade, para utilizar também aqui o conceito cristão. Aliás, para
os cristãos um dever cimeiro!
Tendemos, contudo, a esquecer que à nossa volta existem muitas outras
pessoas que não necessitam desta partilha referida, mas simplesmente do nosso
tempo, da nossa capacidade de escuta e do nosso sincero acolhimento. De um
acolhimento pautado pela aceitação, sem julgamentos, disponível para ouvir,
onde a empatia – essa capacidade psicológica de me colocar no lugar do outro e
de compreender os seus sentimentos, vivências e emoções – se assume como a
expressão mais profunda desse mesmo acolhimento. Atitude que humaniza e que nos
abre à capacidade sincera de entreajuda; ao autêntico altruísmo. Atitude que se
insere, ainda, naquele princípio evangélico de amar o próximo como a nós
mesmos!
Desde
logo, pensemos em como as nossas relações seriam tão mais ricas, se
conseguíssemos viver este acolhimento profundo!... E, ainda, como evitaríamos
tantos juízos desnecessários, prejudiciais ou estéreis!...
Esta
necessidade de acolhimento é transversal a todas as classes sociais e, nos
tempos que correm, talvez uma das maiores carências na nossa sociedade!
Contudo, para vivermos este acolhimento necessitamos de disposição interior,
bem como da disponibilização de nós mesmos e do nosso tempo. Ora, o tempo
parece ser hoje um bem escasso. Todos nós nos confrontamos com um ritmo
acelerado da vida, com múltiplas solicitações que, quantas vezes, nos impedem
de ouvir o «grito» de quem clama por nós! Mesmo para mim, em contexto de vida
sacerdotal, sinto que talvez seja premente repensar prioridades, mesmo quando
as que se me impõem são as de ação sacramental ou de serviço administrativo.
Cultivar a disponibilidade para ouvir é uma necessidade urgente! Mas é
igualmente uma prioridade, pois a pessoa está antes de qualquer resposta
técnica, administrativa, ou mesmo cultual. Ela é o valor primordial.
Há
uns anos, na Paróquia de Luso, alguém me falava do gosto que teria em
participar na organização de uma espécie de gabinetes de acolhimento, cuja
missão seria simplesmente receber e ouvir as pessoas! Não os concretizámos, mas
ficou-me sempre esta memória / inquietação de uma necessidade para os nossos
tempos.
Numa
sociedade que tende, por vezes, a desumanizar-se o acolhimento é a expressão
mais viva de uma nova humanização, da aceitação do outro, da sua valorização e
de uma nova fraternidade! O acolhimento é um dom precioso que urge cultivar!
Pampilhosa, 14 de Julho de 2016
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(9ª Reflexão)