- Nome que diz permanência do perdido.
Sofia de Mello Breyner Andresen
Hoje cito Sofia recordando aquele amigo, aquele colega, aquele «irmão» - o Álvaro Alfeu - que tão cedo partiu!
Tanto queria ser padre; tanto gostava de cantar os louvores de Deus (foi ele quem me entusiasmou a dedicar-me ao canto litúrgico); tanto amou os outros, ao ponto de partilhar aquilo que lhe era necessário (não esqueço, Álvaro, os ciganos que assististe com os teus cobertores, naquela noite de massacre, na Figueira da Foz!); tanto queria dedicar-se ao serviço das comunidades... E tão cedo partiu! Com apenas dezoito anos, vítima daquela leucemia que o não poupou.
Não esqueço os teus projectos de continuarmos os estudos no ano seguinte quando, na cama do hospital, só pensavas em recuperar-te e nós sabiamos que daí a pouco já não estarias entre nós!... Quão dificil foi viver esse momento derradeiro da tua presença, da tua esperança, da tua alegria, ainda que macerada pela dor que te atormentava. Não esqueço a alegria com que exibias o terço recentemente oferecido pelo Bispo da Diocese quando te visitou no Hospital, acabado de oferecer pelo Papa na sua recente visita.
Não esqueço - como adivinhavas tu? - a tua expressão contínua: «vou morrer!», sem que nada nos pudesse levar a supor isso! Mas também não esqueço o que nos dizias (e celebrámos no dia das tuas exéquias!): «quando morrer cantem; cantem o Te Deum». E eu nunca pensei que tão depressa o iriamos cantar!
O Te Deum! Dando graças a Deus por aquilo que foste, para cada um de nós!
Não esqueço as lágrimas incontroladas daquele padre que tanto te estimava, o nosso director espiritual. Não esqueço a tua «vaidade», no modo como te arranjavas antes de sair para um acto público qualquer.... Não esqueço as tuas lágrimas quando, no teu quarto, partilhavas comigo o teu drama familiar... Tanta coisa que não esqueço! Não esqueço a tua amizade; nem te esqueço a ti, mesmo quando passaram já vinte e cinco anos sobre a tua partida! Sim, nesse dia 27 de Novembro de 1982.
Nunca esquecerei o céu cheio de nuvens, por onde brilhavam alguns raios de sol, dizendo-nos, naquele fim de tarde, quando regressávamos a casa, após a tua descida à terra, que mesmo para além das nuvens o sol continua a brilhar. E hoje, como ontem, fica a mesma vontade: Álvaro até à eternidade!