A Nota Pastoral dos nossos Bispos Crise de Sociedade, Crise de Civilização, que aqui tive presente há algum tempo atrás, volta a ser citada por mim. Julgo que esta Nota Pastoral, que desde a primeira hora me agradou profundamente, deve ser retomada na nossa hora presente. É que, na verdade, ela encerra desafios profundos para nós. Além disso, foi escrita com um verdadeiro sentido profético. Vale a pena continuar a reflecti-la. Assim, aqui fica o nº 2 desta Nota:
«Na nossa sociedade sente-se cada vez mais que as regras inspiradoras dos comportamentos, as próprias leis e o sentido global da vida individual e comunitária, deixaram de se inspirar em padrões éticos de valores, num quadro cultural que defina um projecto e um ideal, na linha da nossa tradição cultural, e decorrem ao sabor de critérios imediatistas e pragmáticos, onde não se escondem intenções de alguns grupos de provocar rupturas fracturantes, em relação à tradicional cultura portuguesa, ou mesmo em relação à influência da doutrina da Igreja na sociedade.
Inculca-se um exercício da liberdade sem limites, não percebendo que a dignidade desta reside na responsabilidade; o fenómeno da corrupção tolda o valor da liberdade económica; a crescente marginalização social, agravada com o eclodir de manifestações de violência, gera insegurança e prejudica a harmonia de uma sociedade que se quereria cada vez mais justa; surgem sintomas de falta de confiança no sistema judicial, base indispensável de um Estado de direito, onde cada pessoa sinta garantida a defesa dos seus direitos e da sua dignidade; a toxicodependência e a delinquência juvenil alertam para uma crise da juventude, cuja solução é dificultada pela falta de apoio e protecção à família e pela ausência de uma ousada e inovadora concepção da política de educação; a globalização, acentuada com a mediatização da vida, fez surgir novos poderes, fragilizando aqueles em que, tradicionalmente, assenta a harmonia da sociedade; o poder político está fragmentado e enfraquecido, há sintomas preocupantes de perda de confiança nas instituições, há cada vez mais margem para a ilegalidade e para a anomia.
Nós os Bispos, e toda a Igreja, assumimos as nossas responsabilidades neste processo, desejando contribuir para a sua equação, no quadro da nossa missão específica e na esfera que nos é própria. A Igreja faz parte da sociedade civil, como comunidade organizada. Com a doutrina que propõe e que recebeu do Evangelho e da tradição, com a sua experiência de serviço, quer colaborar com o Estado, com as outras organizações da sociedade civil, em ordem à construção de um Portugal digno da sua tradição e da sua história e à altura das suas responsabilidades, presentes e futuras, na Europa e no mundo. É urgente repensar Portugal, aprofundando a convivência democrática, acentuando, sem hesitações, aquelas linhas de força culturais que garantam a unidade progressiva da nossa civilização, marcada pela abertura à universalidade, pela convivência na diversidade, pela afirmação, sem receios, da tradição humanista de inspiração cristã.» (nº 2)
Inculca-se um exercício da liberdade sem limites, não percebendo que a dignidade desta reside na responsabilidade; o fenómeno da corrupção tolda o valor da liberdade económica; a crescente marginalização social, agravada com o eclodir de manifestações de violência, gera insegurança e prejudica a harmonia de uma sociedade que se quereria cada vez mais justa; surgem sintomas de falta de confiança no sistema judicial, base indispensável de um Estado de direito, onde cada pessoa sinta garantida a defesa dos seus direitos e da sua dignidade; a toxicodependência e a delinquência juvenil alertam para uma crise da juventude, cuja solução é dificultada pela falta de apoio e protecção à família e pela ausência de uma ousada e inovadora concepção da política de educação; a globalização, acentuada com a mediatização da vida, fez surgir novos poderes, fragilizando aqueles em que, tradicionalmente, assenta a harmonia da sociedade; o poder político está fragmentado e enfraquecido, há sintomas preocupantes de perda de confiança nas instituições, há cada vez mais margem para a ilegalidade e para a anomia.
Nós os Bispos, e toda a Igreja, assumimos as nossas responsabilidades neste processo, desejando contribuir para a sua equação, no quadro da nossa missão específica e na esfera que nos é própria. A Igreja faz parte da sociedade civil, como comunidade organizada. Com a doutrina que propõe e que recebeu do Evangelho e da tradição, com a sua experiência de serviço, quer colaborar com o Estado, com as outras organizações da sociedade civil, em ordem à construção de um Portugal digno da sua tradição e da sua história e à altura das suas responsabilidades, presentes e futuras, na Europa e no mundo. É urgente repensar Portugal, aprofundando a convivência democrática, acentuando, sem hesitações, aquelas linhas de força culturais que garantam a unidade progressiva da nossa civilização, marcada pela abertura à universalidade, pela convivência na diversidade, pela afirmação, sem receios, da tradição humanista de inspiração cristã.» (nº 2)