Hoje, ao passar pela experiência dolorosa de ver partir para a eternidade um familiar próximo - uma tia, irmã de meu pai - e de partilhar a dor de meus primos e tio, senti como é tão importante aproveitar cada dia para cultivar o dom da família que nos foi dada; família que - sabemo-lo - é sempre «limitada» no tempo da nossa existência. É certo que acreditamos numa comunhão e presença que nos projecta para além desta vida. Todavia, o dom da família é uma graça que nos é dada aqui, nos limites da nossa existência histórica.
Enquanto conduzia, de regresso às paróquias, detinha-me nos meus pensamentos e na consciência da «voracidade» do tempo - os pais e tios em idade provecta; os pequenos sobrinhos e primos que deixam de ser crianças para se tornarem adolescentes e jovens; e nós próprios, eu e meus irmãos, confrontados com uma maturidade que pareceu surgir depressa demais... É verdade: o tempo não cessa de passar!...
De modo a que não nos deixe a sensação de vazio, há que viver cada momento na comunhão com aqueles que nos são queridos. Se adiamos para amanhã, esse amanhã pode ser tardio. Senti, como poucas vezes, o receio da perda! Mas senti, essencialmente, o quanto amo aqueles que Deus me deu, ou a quem Deus me deu, numa «urgência» interior de expressar hoje o amor que não posso adiar para o indicifrável amanhã! Tanto mais, que esta é uma das nossas maiores riquezas - a Família!
No meio da dor partilhada, foi bom experimentar como o reencontro com tantos que fazem parte de nós nos enriquece tão profundamente! É que na verdade a vida desencontra-nos! E o reencontro refaz-nos nessa comunhão tão bela que nos faz sentir pertença de alguém!