Num tempo em que o ensino parece particularmente orientado para uma imediata aplicação – e essa é a sua função! – podemos esquecer-nos da perspectiva mais alargada a privilegiar na formação da pessoa. E é aqui, não obstante o imediato, no desenvolvimento das suas competências específicas, que entram as Ciências Sociais, particularmente a História.
Para quê estudar História? Esta será a pergunta de fundo.
Se conhecer os mais importantes acontecimentos nacionais e mundiais é requisito para uma cultura geral que deve informar a mundividência de cada cidadão, a formação para a cidadania, a compreensão da mudança e participação consciente nesse processo contínuo, ou ainda a consciência da pluralidade e da tolerância, são valores, por si só, que apelam à sua valorização num projecto educativo. Tanto mais que vivemos num mundo em rápida aceleração, num tempo de alguma “crise” (entendida como mudança) de participação cívica e politica; num tempo marcado por tantas clivagens, não só ideológicas – oriundas do passado ou geradas pelo presente, mas, igualmente sociais, civilizacionais, religiosas, etc. Um tempo que exige a consciência de mim e a consciência do outro, geradora de atitudes de construção plural de um mundo cada vez mais pequeno ou, no mínimo, mais próximo. Por isso sublinho que através da História “ o aluno constrói uma visão global da complexa sociedade em que vive e assume consciência da permanente mudança no tempo, bem como da dimensão abrangente e plural do Mundo”[1]. Ou ainda, “ a História continua a assumir um papel decisivo na formação do aluno para o exercício da cidadania”[2]. Queremos, certamente, homens e mulheres competentes (processo de desenvolvimento de capacidades específicas que o processo de ensino / aprendizagem prevê), mas homens e mulheres cada vez mais conscientes dos seus destinos pessoais e comunitários, interventivos, capazes de gerar respostas fundamentadas e sólidas aos desafios que cada hoje coloca a todos nós. O ensino da História coloca-se aí, ao lado de outros conhecimentos: a incentivar positiva e conscientemente no processo de construção do presente, cujo passado é suporte e o futuro um devir que nos pertence.
Carlos Alberto da Graça Godinho
[1] Natércia Crisanto et Aliud, Olhar a História 8, Porto, Porto Editora, 2004, p.4
[2] Ibidem.
(Texto escrito para o Jornal da Escola Secundária da Mealhada, no Ano Lectivo 2004/2005)