AVÓS
Há
dias senti-me particularmente tocado pela profunda comoção com que um jovem se
despedia de um dos seus avós, no contexto da sua partida do meio de nós. E
compreendi profundamente tal comoção! Afinal aquele não fora apenas o seu avô,
um familiar direto, por quem nutriu um natural carinho, na proximidade normal
das relações familiares. Fora muito mais: fora o seu amparo, o seu herói e o
seu paciente caminheiro, que tantas vezes manifestou a paciência necessária
para o acompanhar, se alegrar e entusiasmar nas suas conquistas pessoais –
essas conquistas que se vão alcançando com a idade, cada uma própria da
respetiva etapa de crescimento. E aquele avô acompanhou cada uma, especialmente
nas diversas fases da sua infância e parte da sua adolescência! Mas, acima de
tudo, aquele avô foi o seu companheiro, o seu contador de histórias, o poço de
afeto onde, quando criança, aquele jovem mergulhou a sua vida e bebeu da água
saborosa do seu amor. Aquele avô abriu-lhe perspetivas de vida, sem o saber,
precisamente com as suas histórias, o seu exemplo, e a sua suave conduta,
ajudando-o a discernir o que é importante do que não é importante. Numa
palavra: aquele avô ensinou-o a ser homem! Esse homem que ele agora quer ser!
No
breve cortejo fúnebre, até ao carro que o levaria à sua última morada, o jovem
seguiu silencioso, mas solícito, abraçando a sua avó – essa mulher que acabava
de perder o companheiro de todas as horas, mas que fora, para ele, o seu neto,
igual suporte de uma infância e de uma adolescência feliz! Essa avó que o
acolhia, logo de manhã, em sua casa, para que ele pudesse dormir o último sono
do amanhecer, antes de ir para a creche, pois os pais saiam cedo para o
emprego; essa avó que o acolhia sempre de sorriso rasgado e com um coração de
imenso afeto, quando o avô chegava com ele, pela mão, para lanchar; essa avó
que igualmente ouvia as suas histórias e que brincava com ele, nalguns momentos
de lazer; essa avó que lhe contava outras histórias, mas do mesmo tempo das do
avô, que tanto o faziam sonhar por dentro. Afinal, essa avó desmedida no seu
afeto que, quantas vezes, se permitia tolerar pequenos prazeres ou pequenas
travessuras, que os seus pais jamais tolerariam – são assim os avós, quase
sempre mais condescendentes que os pais, sem fazer perigar um projeto de
educação! Por isso aquele jovem a abraçava e sentia dever ser ele, agora, o seu
amparo, numa hora de tristeza e de dor.
Esta
história, deste jovem, num contexto natural de separação, será, por certo, a
história de tantos jovens e de
tantos avós.
Num
tempo em que a vida, felizmente, se prolonga e ganha nova qualidade no avançar
dos anos; mas num tempo, igualmente, em que os casais jovens têm tanta
dificuldade em conciliar a sua vida laboral com a vida familiar, os avós surgem
como uma bênção – um dom para os filhos, permitindo-lhes a organização das suas
vidas; mas, sobretudo, uma enorme bênção para os netos, a quem, com uma enorme
ternura e disponibilidade dedicam as suas vidas e os seus recursos íntimos, de
afeto e ternura, tornando-se nos verdadeiros pilares do seu crescimento humano equilibrado
e feliz.
Certamente que aquele jovem, recordando as suas memórias de infância, de
quando olhava o céu estrelado com o seu avô e contemplava as estrelas como se
fossem seres pessoais, nas noites da sua vida irá olhar para uma delas e
repetir, como tantas vezes terá feito: «Avô conta-me aquela história!». E vai
recordar como cada história foi tão importante para si!
Pampilhosa, 20 de Abril de 2017
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(43ª Reflexão)