terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Regresso do Filho Pródigo!

Em tempo de Quaresma, deixo aqui uma sugestão de leitura. Mais do que indicar o autor e o nome do livro, deixo este excerto, que é de uma enorme doçura e diz muito do coração de Deus:

"Ao longo de toda a minha vida tenho lutado por encontrar Deus, por conhecer Deus, por amar a Deus; procurei seguir as directrizes da vida espiritual - orar constantemente, trabalhar pelos outros, ler as Escrituras - e evitei muitas tentações de arranjar desculpas. Falhei muitas vezes, mas voltei sempre a tentar, mesmo quando estive à beira do desespero.
Agora pergunto se durante todo este tempo tive ou não suficiente consciência de que Deus andou a procurar encontrar-me, conhecer-me e amar-me. A questão não é: «Como hei-de encontrar Deus?», mas: «Como hei-de deixar que Deus me encontre?». A questão não é: «Como posso conhecer Deus?», mas: «Como posso deixar que Deus me conheça?». Finalmente, a questão não é: «Como vou amar a Deus?», mas: «Como vou deixar amar-me por Deus?» Deus anda por longe à minha procura, tratando de me encontrar e desejando levar-me para casa."
Henri Nouwen, O Regresso do Filho Pródigo, pp. 118 - 119.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Outro pensamento!

Nesta casa iluminada, onde a aprendizagem é constante, um jovem (filho mais velho de quatro irmãos!) partilhava comigo este outro pensamento:

"Lá porque tenho asas, não tenho de voar em todos os céus!"
Luís Filipe
Muito interessante!

A verdadeira partilha!

Na sequência de uma conversa sobre as aulas de Doutrina Social da Igreja, da Escola de Leigos de Coimbra, partilhava o formador este pensamento comigo, que aqui quero registar:

"...Quando dou pão aos pobres, chamam-me santo; quando pergunto pelas causas da pobreza chamam-me comunista..."

D. Hélder Câmara, O Dom da Paz
Vale a pena pensar nisto e ser consequente!

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Defesa do Ensino Artístico em Portugal!

Acabo de assinar uma petição online, no sentido de se salvaguardar a «Defesa do Ensino Artístico em Portugal». Esta petição pode fazer-se em petitiononline.com. A razão que me levou a subscrever esta lista é o desnorte governativo a que temos assistido. Primeiro na saúde e agora na educação. Senão vejamos: na sáude não tinhamos alternativas para atender condignamente as pessoas e fecharam-se urgências. Isto é, primeiro encerra-se o que há e depois criam-se estruturas para responder ao que falta. Agora, ao nível da educação, limita-se o ensino artístico nos Conservatórios com a promessa de que o ensino passará para as escolas públicas. Todavia, não existe um programa de valorização do ensino artístico nas escolas; não existem professores destacados para esta área; não existe uma estrutura de suporte que permita a sua instauração tão rápida no ensino público; nem tão pouco existe uma sensibilização dos pais para a formação a este nível. Assim começamos uma vez mais a casa pelo telhado: retiramos o pouco que existe, sem oferecer o que seria desejável. Quem dera que as nossas escolas formassem integralmente os seus alunos. Também a este nível. Todavia, as políticas são de supressão e não de construção. Temos pouco e acabamos com esse pouco que ainda nos resta. Se é certo que apenas uma minoria das nossas crianças têm acesso a este tipo de ensino, ao menos não acabem com a possibilidade de estes se valorizarem. Na verdade, apetece mesmo dizer: basta! Não se entendem estas opções governativas mascaradas de boas intenções. Como se nós não conhecessemos já os resultados. Daqui a pouco teremos alunos menos bem preparados, menos valorizados, menos capazes de desenvolver competências, como é apanágio discursivo do Ministério da Educação. Apetece-me ainda dizer: valham-nos as nossas Sociedades Filrmónicas, que, abnegadamente, fazem um trabalho que os poderes públicos são incapazes de promover! Até que eles venham intrometer ali também o seu nariz! Infelizmente temos um poder que mais parece limitativo do que construtivo! Não pretendo assumir aqui posturas político-paridárias, mas simplesmente a defesa daquilo que me parece o mais elementar bom senso!

A Fé!

Deixo aqui uma citação do Papa Bento XVI, na Carta Encíclica Spe Salvi, sobre o significado da Fé. O Papa, para além da densidade teológica, confronta-nos com um conjunto de realidades que se transformam numa óptima possibilidade de meditação. Fiquemos com o excerto:

"A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão-de vir, mas estão ainda totalmente ausentes.; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma «prova» das coisas que ainda não se vêem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é puro «ainda-não». O facto deste futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se nas presentes e as presentes nas futuras." (SS. 7)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A Defesa do Ambiente!

Durante muito tempo deixámos que a questão ambiental se entendesse quase como tarefa exclusiva de um certo grupo ou grupos sociais, mais ou menos institucionalizados, fossem cívicos, políticos ou mesmo de corrente de opinião. A questão ambiental foi-se afirmando paulatinamente como elemento estruturante de algumas orientações políticas e de forte sensibilização social. A este nível, o prémio Nobel da Paz atribuído, no ano passado, a Al Gore e ao seu trabalho na luta pela preservação do ambiente, veio relançar a urgência de revermos as nossas atitudes na relação com a natureza e os bens de que dispomos. Foi um contributo importante, sobretudo porque nos confrontou com a viabilidade ou não viabilidade da tão desejada estabilidade da vida humana que está profundamente ameaçada. Mas se para alguns estas são ainda afirmações «politizadas», a verdade é que as notícias são recorrentes confrontando-nos sistematicamente com dramas humanos que resultam deste terrível desequilíbrio no uso dos bens da criação. Não raro, são países mais pobres, como os do Continente Africano, Asiático e até da América Latina, que mais sofrem as consequências destes desajustes, seja devido ás secas prolongadas, sejam as consequências do imensos temporais que varrem tudo por onde passam. Algumas vezes ficamos até com a sensação que, pela sua localização geográfica, alguns povos foram «fadados» para sofrer. Veja-se ultimamente o caso de Moçambique, que nos está tão próximo afectiva e culturalmente.
Assumindo a sustentabilidade da terra como preocupação, a Organização da Nações Unidas propõe-nos como tema de reflexão e de acção, para este ano de 2008, o Planeta Terra – Ano Internacional do Planeta Terra. De igual modo, o Papa Bento XVI, na sua mensagem de Ano Novo, assume o tema com um conjunto de chamadas de atenção aos cristãos e aos homens de boa vontade, no sentido de cuidarmos da criação que nos foi confiada e de a legarmos como dom primeiro – a casa comum – aos vindouros. O Papa apela-nos, nessa mensagem, para uma verdadeira necessidade de conversão no modo como usamos os bens da criação, fundamentando-se no livro dos Génesis, concretamente na responsabilidade que cabe ao homem no sentido de cuidar desse dom precioso que Deus lhe confiou.
Sabemos que o problema ambiental é resultado de uma visão meramente economicista da vida, que não poupa nada nem ninguém. As nossas sociedades organizaram-se em torno do desenvolvimento económico sem cuidarem da sua viabilidade. Em última instância, não hesito em dizer que estamos diante do mais puro egoísmo e ganância, que não respeita nada nem ninguém, com as consequências humanas referidas.
Em tempo de Quaresma, a questão ambiental será um convite importante para todos nós, no sentido de mudarmos alguns hábitos e atitudes, de modo a contribuirmos para uma sustentabilidade da vida e da criação, de modo a que o dom de Deus seja por nós respeitado e cultivado, na fidelidade aos desígnios desta mesma criação. Torna-se mesmo um dever de consciência diante de nós próprios e de tantos dramas que resultam destes desequilíbrios.
Aqui não basta uma certa solidariedade; a caridade cristã assume hoje, também, estes contornos inadiáveis, transformando-se em imperativo de consciência. E os nossos gestos, por mais pequenos que sejam, serão sempre um contributo precioso.

Pe. Carlos Alberto das Graça Godinho


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Em Tempo de Avaliação!...

No ano pastoral em que nos propomos avaliar o quinquénio pastoral, agora terminado, não podemos esquecer de efectuar uma análise mais profunda da nossa realidade diocesana. Tanto mais que as novas exigências pastorais o exigem e os hábitos arraigados na celebração comunitária da fé tendem a contrariar reformas necessárias (certamente que o dirá quem é pároco, como eu!).
Parece-me, volvidos nove anos sobre o Sínodo Diocesano (um tempo muito longo, no ritmo hodierno!), que importa avaliar a implementação, ou não, das decisões sinodais, que foram dadas à Diocese como norma de orientação comum e, consequentemente, obrigação para todos. Pessoalmente, e a nível de paróquias, espero fazê-lo em breve com os Conselhos Pastorais que me estão confiados.
Se é certo que alguns aspectos foram levados à prática, bastando para tal reler as referidas decisões, ainda existem muitos outros que aguardam uma nova dinâmica. Sem ser exaustivo, enumero algumas delas, de importância crucial para nós na hora presente da vida da diocese. Em primeiro lugar, refiro a necessidade de se organizar um verdadeiro serviço de Catequese de Adultos, tão falado no passado recente e que pareceu esmorecer no presente. Esta é, aliás, uma necessidade bem mais alargada, que se coloca a toda a Igreja em Portugal, como referiu o papa Bento XVI, no Discurso aos Bispos Portugueses, aquando da visita ad sacra limina. Para nós, o Sínodo apontou este serviço como decisão fundamental em ordem à renovação da vida cristã (cf. nº 1, § 4).
Dois outros aspectos, que têm sido motivo de uma já demasiado longa reflexão e de uma forte incapacidade de concretização, são o trabalho conjunto nos Arciprestados (cf. nº 21, § 3) e o trabalho conjunto dos presbíteros (cf. nº 16, § 4). E aqui havemos de assumir, os padres e bispo diocesano, que a incapacidade tem sido nossa. Seja pelas decisões tomadas aquando de nomeações para serviços pastorais, seja de uma mentalidade que não nos dispomos a ultrapassar, encetando novos caminhos de partilha do serviço ministerial. Estamos todos enformados por uma mentalidade demasiado individualista no exercício do ministério, que já não se compadece com as nossas reais necessidades e com a prática da cultura presente.
Numa linha semelhante, aparece-nos a necessidade de «reordenamento» da comunidades paroquiais e dos arciprestados do meio rural (cf. nº 21, § 5). É preciso parar, reflectir e tomar decisões, em ordem a servir melhor todo o Povo de Deus, compreendendo a Diocese como uma e não apenas como somatório de um certo número de comunidades paroquiais. Aqui havemos de ter a humildade de nos rodearmos das disciplinas humanas que nos ajudem a efectuar um trabalho sustentado.
Se alguns outros aspectos necessitavam de reflexão, como o prometido Secretariado de Liturgia (cf. nº 9, § único), que tarda em ver a luz do dia, termino com um desafio tão importante para nós hoje, como é a Pastoral Familiar e a preparação para o Matrimónio (cf. nº 12, § único; nº 5, § 2). Sinal da sua importância é o facto de ser actividade recorrente nos programas diocesanos. A equipa diocesana vai fazendo um trabalho persistente de sensibilização, de formação de equipas… Mas certamente reconhecerá, como nós reconhecemos, que é uma área a necessitar de um novo incremento. Talvez não seja suficiente, hoje, o C. P. M. na preparação para o matrimónio. E talvez, mesmo, tenha de se repensar a actividade a nível da pastoral Familiar, envolvendo (porque não?) outros casais cristãos que possam dar um novo fôlego a esta acção fundamental. Até porque aqui caímos no risco de, à força de tanto estar presente em programas pastorais, se perder o seu dinamismo.
Partilho aqui estas notas sem qualquer outra pretensão que não seja o bem desta Igreja particular de que sou membro e chamado a servir; muito menos como qualquer forma de juízo de pessoas ou instituição. São inquietações para mim, do ponto de vista pastoral, realidade que eu próprio não fui ainda capaz de assumir como tarefa primordial. Todavia, em nome da honestidade pessoal, sinto que alguma coisa tenho feito, seja no desejo expresso a quem de direito, seja mesmo nas propostas que pretendi ver assumidas em contexto diocesano. Mas também aqui (e essa será talvez uma riqueza!) o trabalho tem de ser comum, mobilizador de todos, condição essencial para surtir o efeito que se pretende, que outro certamente não será senão o bem do Povo de Deus aqui constituído em Igreja Diocesana.

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho